O Diário de Myriam: uma história sobre guerra e esperança pelo olhar de uma garota

O Diário de Myriam: uma história sobre guerra e esperança pelo olhar de uma garota

O Diário de Myriam é o relato histórico da Guerra da Síria vista pelo olhar de uma criança que, em meio àquele caos, nos transmite uma mensagem de esperança. Ela consegue através da sua vivência nos explicar os bastidores de uma Guerra que dizimou milhares de pessoas e que ainda está em curso.

Myriam Rawick começou a escrever o seu diário aos 6 anos e, logo no início, conseguimos ver a inocência de uma criança que se maravilhava com as cores, cheiros e novidades da cidade na qual morava. Myriam consegue humanizar a guerra com seus relatos, pois os números de mortos são mais do que meros números: são filhos, mães, pais, amigos queridos, pessoas que nunca mais voltarão para casa. Ao longo do diário, vamos vendo não só o desenrolar dos conflitos dessa Guerra, mas também vemos uma menina que teve que amadurecer para sobreviver.

“Foi ali, pela primeira vez, que entendi o que significava a guerra. 
A guerra era minha infância destruída sob essas ruínas e fechada em uma caixinha.”

Em alguns momentos, é muito doloroso ler as páginas de seu diário, pois vemos que a menina que outrora se maravilhava com tudo, agora se via diante do caos.

“Os a acontecimentos em Alepo não foram nada além de primeiras vezes. Com o sequestro de Fadi foi a primeira vez que vi mamãe chorar. E foi a primeira vez que ouvi um tiro de verdade.”

O Diário de Myriam

É nítida a perda da inocência de Myriam ao longo das 320 páginas do livro, publicado no Brasil pela editora DarkSide Books, sob o selo Crânio que, conforme a editora, possui a proposta de estimular a leitora a entender e criticar o mundo que estamos construindo. Não à toa, ao saber do lançamento do livro na França, sob o título de “Le Journal de Myriam”, a editora sentiu a urgência e necessidade de traduzir o livro para o português. Além disso, crianças brasileiras de escolas públicas e particulares, ao saberem da história da pequena Myriam, começaram a escrever cartas a um jornal voltado para o público infantil, pedindo que alguma editora traduzisse o diário.

“Mas a surpresa maior veio quando recebemos mais de duzentas cartas de leitores pedindo a tradução de ‘O Diário de Myriam’ para o português, depois de lerem a notícia do lançamento do livro no jornal. Nem pude acreditar no movimento que estava presenciando. […] Não cabia em mim de tanta alegria quando entrei em contato com a DarkSide Books , que já estava avaliando a obra para publicar no Brasil.”

Stéphanie Habrich – fundadora do Joca, primeiro e único jornal para jovens e crianças do Brasil.

O Diário de Myriam

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Apesar do diário trazer relatos pessoais e do dia-a-dia de Myriam, conseguimos ver com muita clareza o panorama político-econômico da Guerra da Síria. As situações cotidianas da garota síria, que hoje tem 13 anos, servem como pano de fundo para uma análise da situação socio-política-econômica do país. Através dela, também vamos descobrindo questões históricas não tão comentadas, como por exemplo, o Genocídio Armênio de 1915, que levou os avós de Myriam a migrarem para a Síria no mesmo ano. Situações mais atuais também são relatadas por ela, num tom inocente de revolta, mas com uma certa acidez crítica que, talvez, quando escreveu, ela sequer sabia que possuía.

“Não tem bombardeios hoje. Está quase calmo. Mas, ainda assim, não fomos para a escola. […] Papai diz que o presidente americano e o presidente francês querem nos bombardear e guerrear com a gente. Não entendo por que eles querem nos bombardear ainda mais.”

(Alepo, 6 de setembro de 2013)

O Diário de Myriam

A luta para se manter na escola é outro fator constante no diário. Sob pena de cometer uma generalização, é sabido que os direitos humanos das mulheres ainda é um tabu em muitos países do Oriente Médio. Não que no Brasil, com toda a legislação que possuímos, eles sejam respeitados, mas ao menos temos direitos “reconhecidos” e que podem ser cobrados.

A ONU já publicou diversas notas e pesquisas ressaltando a importância do papel da educação para a igualdade de gêneros e uma cultura de paz, além disso, o documentário Girl Rising também traz uma explanação muito forte e comovente sobre a importância, na vida das meninas e mulheres, desse direito tão básico. Por isso, ver a luta diária de Myriam e sua família para mantê-la na escola, é algo comovente.

“Hoje a gente passou o dia no subsolo da escola. Descemos na hora do recreio porque obuses e granadas começaram a cair. Quando a gente ouviu o primeiro, as janelas da sala começaram a tremer. A professora nos disse para formar filas, enquanto outras bombas continuavam a cair.”

(Alepo, 17 de maio de 2013)

Com isso, quando vimos que O Diário de Myriam foi notícia no Fantástico e que o repórter de guerra francês, Phillipe Lobjois – que auxiliou Myrian a editar e organizar seu diário para a produção do livro – entregou exemplares para as crianças de uma escola pública de Osasco, ficamos extremamente comovidas. Quando a DarkSide Books colocou a proposta do selo Crânio, a editora realmente falou muito sério. Trazer o livro para o Brasil e distribuí-lo para algumas das crianças que escreveram as cartinhas pedindo a sua tradução, é ajudar a nova geração a questionar e construir um mundo melhor. São momentos assim que fazem com que nós, da Delírium Nerd, nos orgulhemos de sermos parceiras de uma editora tão incrível e sensível como a Caveirinha.

Quando fomos convidadas pela DarkSide Books para cobrirmos o evento de lançamento do livro em São Paulo, através do editorial “de fã para fã”, não sabíamos o que nos esperava. A aula de história que o Phillipe Labjois nos deu, não teve preço. A emoção da plateia e os relatos que ouvimos são indescritíveis.

Ler O Diário de Myriam foi uma experiência única. Obrigada por tudo isso, DarkSide Books. Esse texto, que era para ser uma resenha do livro, acabou sendo mais um relato da força transformadora de uma menina síria de 13 anos, que queria contar para o mundo a sua história.


O Diário de MyriamO Diário de Myriam

Myriam Rawick (Autora),‎ Philippe Lobjois (Editor)

DarkSide Books

320 páginas

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Feminista e membra da União de Mulheres de São Paulo, onde é coordenadora adjunta do Curso de Promotoras Legais Populares, projeto voltado para a educação popular e feminista em direitos. É viciada em Lego, apaixonada por ficção científica/terror/horror, apocalipse zumbi e possui sérios problemas em procrastinar vendo gif’s e não lembrar o nome das pessoas. No mundo real é advogada.
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