[NOTÍCIA] “Senhorita Maria: A Saia da Montanha” | Conheça a personagem transexual do documentário colombiano

[NOTÍCIA] “Senhorita Maria: A Saia da Montanha” | Conheça a personagem transexual do documentário colombiano

O filme Senhorita María, a Saia da Montanha (título original: Señorita María, la Falda de la Montaña), foi exibido recentemente no Brasil, dentro da Mostra Competitiva de Longa-Metragem do 28ª edição do Cine Ceará – Festival Ibero-Americano de Cinema, em Fortaleza, que aconteceu no início deste mês.

O documentário do jovem Rubén Mendoza, premiado nos festivais de Cartagena de Índias, na Colômbia (Melhor Direção), Locarno, na Suíça (Prêmio Zonta Club Semana da Crítica) e Amiens, na França (Melhor Documentário), mostra a vida de um homem que cresceu se sentindo mulher, na conservadora cidade de Boavita, Boyacá, na Colômbia. O diretor disse, em entrevista, que conheceu a personagem à beira de uma rodovia durante uma viagem para sua terra natal e decidiu contar sua história.

Mendoza declarou ainda que não se trata de um personagem símbolo de um grupo específico – fazendo referência ao movimento LGBT -, mas “sobre uma pessoa em particular“. “Era uma pessoa muito especial que tinha muita força para nadar contra a corrente do ambiente conservador do povoado em que vivia. Era muito solitária, a pessoa mais sozinha que conheci“, completou.

A personagem central do longa – a transexual María Luísa Fuentes, de 45 anos – vive como trabalhadora braçal nos arredores de uma religiosa e conservadora cidadezinha dos Andes Colombianos. María, que também é muito religiosa, escolheu seu nome em louvor à Virgem Maria. Apesar de ter nascido no corpo de homem, ela prefere usar roupas femininas. É vestida com saias e vestidos coloridos que faz seus trabalhos rurais como carpir, semear a terra e ordenhar as vacas. Vive praticamente isolada, sem amigos ou parentes. A única pessoa que se identifica como sua amiga “por caridade” é uma senhora idosa da região, que se justifica dizendo “María tem um gênio muito difícil”.

Depois de seis anos de convivência cinematográfica com a personagem, Mendoza construiu com poesia um retrato complexo de María. Ele descobriu, ao longo das filmagens, que ela seria fruto de um incesto e fora criada pela avó, que a vestia como menina para afastar a crendice que não era “um bebê nascido com chifre e rabo” (por ser filha de irmãos). Com a perda da avó, acabou sozinha. Além disso, foi retirada da escola muito cedo por problemas de saúde.

Apesar das adversidades, o filme não é apelativo. A narrativa mostra uma María que sobreviveu em condições difíceis, mas que encontrou na religião e no seu trabalho junto à natureza e aos animais o conforto espiritual, afetivo e material que precisava. Mendoza disse que, por questões éticas, não lançaria o filme sem a aprovação de María. Ela foi levada para assistiu ao documentário no Festival de Cartagena, gostou muito e, inclusive, realizou sua primeira viagem de avião.

O filme, que também foi exibido no MoMA, em Nova York, trouxe mudanças positivas para a vida de María Luísa Fuentes. Suas condições de vida melhoraram com o cachê que recebeu durante o período das filmagens, além de uma casa, um pedaço de terra em seu nome, o tratamento para seus acessos epiléticos e a renovação dos seus documentos com o nome social que já usava.

Confira o trailer:

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Fundadora e editora do Delirium Nerd. Apaixonada por gatos, cinema do oriente médio, quadrinhos e animações japonesas.
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