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DELIRIUM NERD
Correndo Atrás
CINEMA

[CINEMA] Correndo Atrás: O poder transformador da comédia

por Carol Lucena · 14 de novembro de 2018

Correndo Atrás, o novo longa metragem do diretor Jeferson De, começou uma carreira próspera em festivais internacionais, como o Pan African Film Festival, em Los Angeles, e o African Film Festival, em Nova York. Paulo Ventania, o protagonista otimamente interpretado por Ailton Graça, é um homem que vive de bicos para pagar as contas e está super endividado com todos da vizinhança. Um belo dia, ele conhece o garoto Glanderson, que possui um talento nato para o futebol. Ventania resolve, então, tentar a sorte ao se tornar empresário do rapaz, angariando investimentos para decolar sua carreira. 

Adotando um tom cômico, Jeferson não pretende se esquivar da crítica social, mas potencializá-la. É também a comédia que permite a humanização do personagem de Ventania. Do vagabundo de Chaplin até o pirata Jack Sparrow, passando talvez pelo malandro de Chico Buarque, homens brancos sempre puderam incorporar no cinema um arquétipo do eterno adolescente, o homem irresponsável, fanfarrão, cujos atos de enganação são livres de consequências e vistos até como inocentes. As mulheres o amam mesmo assim e, no fim, ele até consegue se dar bem, pois no fundo tem um coração de ouro. Aos homens negros, nunca se pôde oferecer este papel da mesma maneira, pois num país racista que insiste em atos como a redução da maioridade penal – que visa criminalizar jovens negros ainda mais cedo – jamais se concedeu o tal privilégio da inconsequência.

O papel de Ventania, então, é desafiador justamente por reivindicar essa posição, sem fazer julgamentos ao personagem, e o colocando no mesmo patamar que homens brancos sempre puderam ocupar. É impressionante que sejam discutidas atitudes como o atraso da pensão do filho por 3 meses, o ludíbrio aos lojistas de quem compra fiado, e se valer de lábia para convencer seus amigos a investir no jovem Glanderson. Tudo isso sem criar uma condenação moral do personagem, mostrando que suas dificuldades vêm de seu contexto social, e que, como ele é uma boa pessoa, as malandragens são uma forma de tentar correr atrás de sua sobrevivência. Num mundo que mata negros apenas por existirem, é uma baita posição de poder estar devendo a todo mundo e ainda sair ileso e vitorioso no final. Torna a representação do protagonista muito poderosa, lhe concedendo a leveza de ter uma jornada cômica, e não trágica. De forma parecida aos personagens anteriormente citados, Ventania também mantém sua ex apaixonada por ele, assim como reconquista a simpatia dos amigos que havia decepcionado. 

O tom de comédia balanceia muito bem a crítica social que Jeferson deseja conferir ao filme. Desde uma cena em que Ventania leva jovens da periferia para jogarem com meninos burgueses mimados numa festa de aniversário – e o papel deles é deixar os mimados ganharem -, até sutilezas como o nome do navio em que ele e Glanderson embarcam. 

O elenco também é quase inteiramente composto de atores negros, contando com Lazaro Ramos, Juliana Alves, Hélio de La Peña (que também assina o roteiro, junto ao diretor), Juan Paiva, Teka Romualdo, Rocco Pitanga e vários outros. É muito importante um filme com essa representatividade num país onde a maior parte da população é negra. Infelizmente, nossa mídia e nosso cinema ainda estão longe de retratar essa realidade, fazendo de Correndo Atrás uma grande conquista nesse sentido. 

O único ponto onde o filme deixa a desejar é na representação feminina. São apenas mães, namoradas, avós e filhas, sempre relacionadas a algum dos homens e com participações bastante periféricas no enredo. Em especial, a ex-esposa de Ventania, Jurema, é retratada como “chata” e “reclamona”, rótulo do qual só se livra quando reata o relacionamento com ele. Já a namorada de Glanderson, aparece em closes em câmera lenta, enquadrada somente como desejo romântico do rapaz e sem nenhum espaço para ser algo além disso. Além de tudo, a garota ainda é colocada como filha do chefão da “máfia” local, clichê mais que desgastado para gerar conflitos fáceis e que, mais uma vez, faz a personagem depender das relações com homens para existir na história, em vez de ser totalmente independente. 

No mais, Correndo Atrás é uma comédia eficiente, que permite que personagens negros habitem esse local de leveza ao qual raramente são permitidos no cinema nacional. O filme é baseado no livro escrito pelo ator Helio de La Peña, Vai na Bola, Glanderson!, e esteve na programação da Mostra Cinema Negro este ano em São Paulo.

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Carol Lucena

Cineasta, musicista e apaixonada por astronomia. Formada em Audiovisual, faz de tudo um pouco no cinema, mas sua paixão é direção de atores. Vocalista da banda Noite e compositora nas horas vagas. Também escreve sobre cinema em seu site Cine Medusa, e é co-fundadora do Verberenas.

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