Demons of the Punjab (Os demônios de Punjab) foi exibido no dia 11 de novembro e é o sexto episódio da décima primeira temporada de Doctor Who. Escrito por Vinay Patel e dirigido por Jamie Childs, conta a aventura da Doutora e do Team TARDIS na Índia de 1947 e tornou-se outro momento memorável da série no ano de 2018 [Atenção! O texto contém spoilers].
Em algum momento da vida todos nos questionamos sobre o passado. Saber quem somos e quais são nossas origens são questões que vez ou outra atormenta e impulsiona a mente humana e, justamente, foram tais questionamentos que levaram Yaz (Mandip Gill) a fazer um inusitado pedido a Doutora (Jodie Whittaker): fazer uma viagem no tempo a fim de que a jovem pudesse conhecer a própria história. Yaz quer saber mais sobre o passado da avó e de um relógio de pulso quebrado que, aparentemente, é uma herança familiar.
Tudo parecia bastante simples. A Doutora e seus amigos fariam uma visita à avó de Yaz e descobririam o mistério a respeito da origem da moça. Então, retornariam para a TARDIS e seguiriam com suas aventuras. Contudo, uma tarefa que, a princípio, era simples, se mostra bastante complexa e, paulatinamente, outros mistérios vão sendo revelados a Senhora do Tempo e ao Team TARDIS.
Com um roteiro bem planejado e uma condução excelente, Demons of the Punjab segue a linha apresentada em Rosa, terceiro episódio da décima primeira temporada. Um momento triste, porém, marcante da história humana é usado como pano de fundo para a aventura da 13ª Doutora e seus companheiros e, mais uma vez, o público foi tocado pela sensibilidade dos produtores de Doctor Who.
Um dos pontos fortes do episódio está na escolha do pano de fundo. O ano é 1949 e o quarteto está em Punjab, uma zona de conflito. Para quem não sabe, durante a Partição, ocorrida em 1947, a Índia foi dividida em dois estados soberanos, Índia, para as populações hindus e Paquistão, para os muçulmanos. Entretanto, a província de Punjab, especificamente, foi dividida entre Índia e Paquistão e não se trata de uma simples divisão de terras, mas sim de uma das maiores e mais violenta migração forçada que se tem conhecimento. Os movimentos migratórios compulsivos, infelizmente, culminaram na explosão de diversos massacres nos territórios indianos e paquistaneses.
O contexto histórico por si só sensibiliza, porém, a introdução de outros elementos tornou a história ainda mais marcante. Um deles está relacionado à presença alienígena em Punjab, chamados de demônios pela população local. A introdução dos Thijarian no roteiro foi uma grande sacada e trouxe leveza ao enredo.
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Visitantes temidos, inclusive pela própria Doutora, os Thijarian aparecem em momentos cruciais e a todo o momento a espectadora fica desejosa por informações. Inicialmente descritos como os mais mortais assassinos do universo, os Thijarian acabam surpreendendo. Eles não estão em Punjab para matar ou para mudar o curso da história. Vieram a Terra para prantear os milhares de mortes decorrentes da partição, surpreendendo a todos, até mesmo a Senhora do Tempo, provando que todos têm o que aprender (independentemente de quantos séculos de experiência uma criatura pode ter). Lamentavelmente, o curso da história não pode ser alterado e os que estão destinados à morte devem perecer. E, é nesse ponto que a presença dos Thijarian se torna tão importante. São eles que deixam claro para a Doutora e seus amigos o que deve ser feito, especialmente, se levarmos em consideração aos acontecimentos que envolvem a jovem Umbreen (Amita Suman), avó de Yaz.
Umbreen e Yaz protagonizam um belo, mas triste, eixo narrativo e, com certeza, esse é segundo elemento que torna Demons of the Punjab especial. Todos têm seus segredos e Umbreen escondeu alguns da família como, por exemplo, o fato de ter se casado com um rapaz chamado Prem (Shane Zaza). Umbreen é muçulmana e Prem é hindu e tal casamento no contexto da partição era impensável. Por isso, uma traição acaba colocando o casal em perigo e Prem precisa se sacrificar para que Umbreen se salve.
Yaz assiste enquanto os segredos de sua avó são descortinados e embora sofra ao testemunhar as provações de Umbreen, nada pode fazer para mudá-los ou impedi-los. Prem precisa morrer e Umbreen precisa fugir para o Paquistão, do contrário, a linha do tempo de Yasmin pode deixar de existir. Novamente Doctor Who nos dá uma lição, mostrando que as histórias de pessoas comuns impactam a História como um todo.
E, já que falamos em lição, podemos mais uma vez usar o enredo de um dos episódios da série para ilustrar nosso atual momento político. Sim, ao que parece, Doctor Who está sendo feito para combater preconceitos e radicalismos.
A violência promovida com a Partição colocou vizinho contra vizinho, amigo contra amigo, irmão contra irmão e, ao final, o ódio foi o único vencedor. Pessoas comuns que perdem a cabeça podem se deixar levar por decisões ruins e ignorar décadas de convivência pacífica em nome da destruição. Perecemos quando deixamos que nossas diferenças se tornem mais importante do que aquilo que nos une: nossa humanidade e nossa capacidade de protegermos uns aos outros.
