Doctor Who – 11×08: The Witchfinders

Doctor Who – 11×08: The Witchfinders

A 11ª temporada de Doctor Who continua surpreendendo. Mesmo que alguns reclamem do ritmo mais lento e da falta de unidade entre os episódios, a chegada da 13ª doutora foi marcante e trouxe consigo uma série de discussões sociais interessantes. Em The Witchfinders (Os Caça-Bruxas), escrito por Joy Wilkinson e dirigido por Sallie Aprahamian, não foi diferente.

A doutora e seus companheiros fizeram uma viagem para a Inglaterra do século XVII, mais precisamente em lugar sinistro chamado Bilehurst Cragg, e se deparam com uma estranha caça às bruxas, que nem mesmo faz parte dos registros oficiais. Ao investigarem, a Doutora e o Team TARDIS descobrem uma estranha presença alienígena e precisam correr contra o tempo para salvarem a si, aos moradores do povoado e ao Rei James (Alan Cumming) e sua equipe de caçadores de bruxas.

Muitos elogios podem ser feitos em relação ao episódio. O primeiro deles diz respeito aos figurinos, instrumentos e cenários de The Witchfinders. O trabalho da produção foi impecável, sobretudo na indumentária destinada ao rei James. Tal capricho tornou o trabalho ainda melhor.

The Witchfinders

O segundo ponto a ser elogiado não poderia ser outro: a condução da narrativa, por seu desencadeamento e por sua mensagem. Mais uma vez a produção de Doctor Who conseguiu manter o clima de mistério no ar e o desfecho é surpreendente. Mesmo que a espectadora tente adivinhar, ficará difícil antecipar os acontecimentos e, para quem estava reclamando da falta de alienígenas horripilantes, encontrará alguns em The Witchfinders. Porém, é na mensagem deixada pelo enredo de Doctor Who que a verdadeira beleza do episódio se revela. Mas, para explaná-la como se deve, é preciso retornar no tempo, mais precisamente para as semanas que antecederam a estreia de Jodie Whittaker como 13ª Doutora.

No mês de setembro de 2018, a BBC divulgou um teaser a fim de marcar a chegada da Senhora do Tempo como um momento inovador para a série. No teaser em questão, vemos a Doutora em uma grande sala circular. Inicialmente ela é captada de longe e a câmera começa a girar em movimento ascendente. Ao redor e no teto há um grande vitral que aos poucos vai se estilhaçando. Os cacos vão caindo. A câmera gira e para em um close em Jodie Whittaker e tudo o que ela tem a dizer é: Ops!

Tal teaser não era apenas um trabalho de divulgação. Ele continha uma mensagem poderosa e que foi sendo transmitida ao longo da 11ª temporada de Doctor Who. Jodie Whittaker e a regeneração do Doutor em uma mulher não foram escolhas ao acaso. Elas têm uma função: quebrar os “tetos de vidro”. Em inglês, a expressão “teto de vidro” se relaciona as barreiras, por vezes invisíveis, que as mulheres precisam enfrentar para terem sucesso em suas carreiras em um mundo dominado por homens. A produção de Doctor Who tem feito um excelente trabalho nesse quesito e The Witchfinders é uma das provas.

Os “companions” dos Doutores confiavam neles e tal sentimento costumava contagiar as pessoas que estavam ao redor, inclusive os fãs. Sua autoridade dificilmente era questiona e, independentemente do perigo, as pessoas costumavam se lançar em aventuras, seguindo as orientações dos Senhores do Tempo. Com a Doutora não seria diferente, pelo menos era o que se esperava. Então, The Witchfinders veio ao ar e pela primeira vez a autoridade da Doutora foi terrivelmente questionada, e até o psíquico falhou.

The Witchfinders

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Algum problema com a Energia Artron que alimenta a TARDIS? Não. A Doutora teve dificuldade em seguir com seu plano apenas por ser mulher. Ao se apresentar para Rei James como líder de um grupo de caçadores de bruxas, a Doutora foi imediatamente rebaixada à categoria de assistente, afinal, em pleno século XVII, um cargo de autoridade não seria dado a uma mulher e a liderança foi atribuída a Graham (Bradley Walsh). A primeira pedra no sapato da Doutora é colocada.

As investigações continuam e novos mistérios vão sendo revelados. Mas, quando um estranho grupo de mortas vivas se ergue do túmulo, a coisa se complica e a Doutora deixa de ser vista como uma assistente de Caça-Bruxa para tornar-se réu e acusada de feitiçaria e a segunda e derradeira pedra no sapato da Doutora é colocada. Perspicaz como sempre, a Doutora percebe que está sendo vítima de sexismo e diz: “Honestamente, se eu fosse um cara, eu poderia começar o trabalho e não ter que perder tempo me defendendo.”.

A partir daí, a Doutora terá que usar de sua engenhosidade para salvar a si, as pessoas que estão ao seu redor e também ao planeta Terra (sim, o que parecia uma caça às bruxas tornou-se uma conspiração alienígena para a dominação terrestre). Suas palavras são sempre suas melhores armas. A Doutora consegue convencer o Rei James de sua inocência e salva o dia.

The Witchfinders

Curioso que a produção de Doctor Who tenha escolhido justamente uma história de caça às bruxas para que a Doutora fosse vítima de machismo. Para quem não sabe, as mulheres acusadas de bruxaria eram, na verdade, pessoas que não se enquadravam no sistema imposto pelo mundo dos homens. Viviam suas próprias regras e eram perigosas, sobretudo, por ameaçar a dominação patriarcal.

E é exatamente o que a Doutora vem fazendo. Subvertendo regras e mostrando, principalmente para as novas gerações que quebrar “tetos de vidro” é possível e necessário. Feliz será o dia em que toda mulher puder exercer seu potencial livremente, sem sofrer humilhações, ameaças ou perseguições. No momento em que não existam mais “tetos de vidro” para serem quebrados, seremos livres de verdade.

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Nerd, pedagoga, escritora, leitora, gamer, integrante da casa de Lufa-lufa, amante de ficção científica (Star Trek, Star Wars e Doctor Who) e literatura fantástica. Deseja ardentemente que o outro lado da vida seja uma grande Biblioteca.
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