Lizzie: a única acusada de assassinato e inocentada apenas por ser mulher?

Lizzie: a única acusada de assassinato e inocentada apenas por ser mulher?

No ano de 1892, em Fall River, Lizzie Borden foi acusada de assassinar brutalmente sua madrasta e seu pai. Lizzie foi inocentada, mas ainda hoje é um crime muito comentado na cultura popular dos Estados Unidos, com diversas cantigas e lendas que rodeiam o caso. A arma do crime nunca foi encontrada, nunca houveram mais suspeitos, mas Lizzie foi inocentada.

Lizzie, filme dirigido por Craig William Macneill, com lançamento previsto aqui no Brasil para 03 de janeiro de 2019, conta a história de Lizzie nos dias anteriores e posteriores do crime, se apoiando em algumas das teorias mais conhecidas sobre o acontecimento. Fomos assistir à cabine de imprensa da Diamond Films e comentaremos a seguir nossa impressão sobre o longa-metragem.

Lizzie Borden (Chloë Sevigny) é uma jovem da alta sociedade de Fall River. Seu pai, Andrew Borden (Jamey Sheridan) tinha uma quantidade grande de terras e investimentos, sendo bastante reconhecido na cidade. Após a morte da mãe, seu pai se casou novamente com Abby Borden (Fiona Shaw), sua madrasta. Lizzie tinha uma irmã chamada Emma (Kim Dickens). Além dos membros da família, a casa ainda tinha uma empregada, Bridget Sullivan (Kristen Stewart) e recebe a visita de John Morse (Denis O’Hare), irmão de Abby e cunhado de Andrew.

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Ao que conta a lenda, Lizzie tinha motivos para matar o pai e a madrasta. No filme, são explorados alguns aspectos desses motivos. Andrew Borden era um homem sovino e estava se preparando para deixar toda sua fortuna para o cunhado, além de fazer alguns negócios com ele abaixo do valor correto para “ajudar” a família da atual esposa. Lizzie temia que John Morse pudesse estar arrancando dinheiro de seu pai – que seria de sua herança – e que pudesse fazer algo com ele.

Algumas teorias envolvendo Lizzie é que ela era lésbica, tendo até um relacionamento com a atriz Nance O’Neil, mas não existem muitos registros sobre isso. Outra teoria é que Lizzie mantinha uma relação com a empregada da casa, Bridget, e que foi descoberta pela madrasta. No filme, temos o relacionamento entre Lizzie e Bridget explorado desde o início, quando Bridget chega, passando pela amizade e cumplicidade das duas, chegando ao ponto de um relacionamento íntimo.

Lizzie tinha momentos difíceis, pelo que se sabe. Além das questões sobre sua sexualidade, Lizzie não era uma das damas mais comuns na sociedade americana do século XIX. No ano do crime, Lizzie já estava com 32 anos e não tinha pretensões de se casar. Ela se sentia sufocada na sociedade em que vivia. Gostava de ler, ir ao teatro e participar de atividades sozinha. E apesar de ter amigos e amigas, era uma mulher que apreciava sua própria companhia e não pretendia ter um marido.

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Apesar de se especular muito sobre o acontecimento, pouco sabe-se do que realmente aconteceu. É interessante observar as escolhas do filme ao retratar essas especulações e possibilidades. No filme, somos levadas a acreditar que Lizzie cometeu os assassinatos e que mesmo assim foi inocentada. É interessante pensar por esse ângulo, pois mesmo que ela fosse acusada de algo que ela poderia ter cometido, foi inocentada por ser uma mulher, de alta classe, rica, que não poderia ser cruel o suficiente para cometer tal atrocidade. Afinal, mulheres ricas eram “frágeis”.

O filme apresenta visões e interpretações interessantes sobre uma das versões do que realmente poderia ter acontecido naquela manhã de calor, em Fall River. As atrizes Clöe Sevigny e Kristen Stewart seguram muito bem seus papéis como protagonistas e nos garantem ótimas cenas.

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O clima do filme é de tensão, suspense e mistério: o que Lizzie passou naqueles dias? Ela seria mesmo capaz de cometer tais crimes? Lizzie seria mesmo culpada? Se culpada, por que foi inocentada? Mesmo com uma história real, podemos pensar e repensar os motivos do que realmente teria acontecido naquelas horas que precederam o assassinato de Sr. e Sra. Borden, em agosto de 1892 – crime até hoje sem resolução. Não significa, é claro, que não existam outras teorias e ideias sobre os crimes. 

Lizzie tem uma narrativa interessante e quase não se vê enquanto ele passa. Não se torna chato e mantém muito bem o ritmo durante todos os momentos. A tensão, ajudada pela trilha sonora, é quase tangível. É uma ótima dica se você gosta de crimes não resolvidos, mistérios reais, histórias biográficas.

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Formada em História, escreve e pesquisa sobre terror. Tem um afeto especial por filmes dos anos 1980, vampiros do século XIX e ler tomando um café quentinho.
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