Narrativas de mulheres incríveis que a historiografia machista não conta!

Narrativas de mulheres incríveis que a historiografia machista não conta!

Por muitos anos, as mulheres ocuparam um lugar social de invisibilidade e silenciamento em face de uma sociedade falocêntrica e patriarcal onde, muitas vezes, a história e vida de mulheres revolucionárias foram relegadas ao esquecimento. No intuito de resgatar a contribuição de mulheres, oriundas de vários lugares do mundo e em diferentes épocas, nos âmbitos social, da arte, da educação, da ciência, do esporte e da política; foi lançado o livro Mulheres Incríveis.

A obra escrita por Kate Schatz e ilustrada por Miriam Klein Stahl, reúne 44 perfis de histórias de mulheres que começa em 430 anos a.C. até a atualidade. Entre as mulheres que subverteram os imperativos do patriarcado e tiveram uma trajetória marcada pela luta e pioneirismo, estão as brasileiras: Elza Soares, Marta, Débora Diniz, Sônia Guajajara e Maria da Penha. A pesquisa realizada sobre a biografia dessas cinco brasileiras incríveis ficou sob responsabilidade da fundadora da ONG brasileira Think Olga, Jules de Farias.

Mulheres nas ciências médicas: Fe del Mundo

Nascida nas Filipinas, Fe del Mundo cursou Medicina na Universidade das Filipinas, uma época na qual a educação formal era privilégio dos homens e à mulher cabia apenas o espaço circunscrito da domesticidade e da maternidade.

Depois de se formar como a melhor aluna da turma, Fe del Mundo recebeu a proposta de uma bolsa integral para estudar em qualquer lugar do mundo, quando optou por Havard. Contudo, em 1936, Havard não aceitava alunas mulheres. Por ser inteligente demais para ser mandada embora, a universidade acabou por aceitar Fe del Mundo, que se tornou a primeira mulher a estudar na Escola de Medicina de Harvard.

“Acredito que, se você der ao mundo o melhor que pode, o melhor retorna para você”.

Mulheres nas ciências médicas: Fe del Mundo
Fe del Mundo. Imagem: reprodução

Uma mulher negra e feminista na literatura: Chimamanda Ngozi Adichie

A nigeriana Chimamanda sempre foi uma aluna exemplar e amante dos livros. Seus pais incentivaram-na a estudar medicina, mas ela nunca esqueceu seu amor por contar histórias. Quando estava no último ano da faculdade, morando com a irmã, Chimamanda começou a escrever o livro que viria se tornar um sucesso de vendas: Hibisco Roxo.

Com uma jornada conturbada, dividindo-se entre o trabalho doméstico e cuidando de crianças, a escritora publicou “Hibisco Roxo”, aos 26 anos e ganhou muitos prêmios com a obra. A escrita de Chimamanda recusa-se a contar uma única história e dar voz aos que ocupam um lugar social subalternizado.

“Escolher escrever é rejeitar o silêncio”.

Uma mulher negra e feminista na literatura: Chimamanda Ngozi Adichie

A denúncia do sexismo nas artes: Guerrilla Girls

Em 1984, o Museu de Arte Moderna de Nova Iorque realizou uma exposição composta por obras de arte de 169 artistas do mundo, dentre os quais só 13 eram mulheres. A fim de denunciar e protestar contra o notório, porém, naturalizado sexismo na arte, um grupo de artistas mulheres reuniram criatividade com ativismo político e criaram o Guerrilla Girls.

Usando máscaras de gorilas, elas começaram a fazer pôsteres, outdoors, folhetos e adesivos que expunham a discriminação e desigualdade de gênero no mundo da arte. O movimento permanece forte até os dias atuais, questionando como se pode contar a história de uma cultura se não incluir todas as vozes dentro dessa cultura. “É como ter um superpoder”.

A denúncia do sexismo nas artes: Guerrilla Girls
Exposição Guerrila Girls no Masp, em São Paulo, 2017. Imagem: Delirium Nerd/Isabelle Simões
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Debora Diniz e a luta pelos direitos das mulheres no Brasil

A alagoana Debora Diniz é formada em Ciências Sociais e Doutora em Antropologia, bem como professora da UNB. Dentre os maiores legados de Débora está a luta pela descriminalização do aborto e autonomia da mulher sobre seus direitos reprodutivos e próprio corpo. Em 2004, ela fez parte de um grupo de advogados, acadêmicos e articulistas que pedia a autorização de interrupção da gravidez em caso de fetos anencéfalos.

Recentemente, Debora voltou aos holofotes midiáticos depois de acionar o Supremo Tribunal Federal em prol da descriminalização do aborto até a 12ª semana de gravidez. A sua corajosa atuação em defesa dos direitos das mulheres e de pautas progressistas no âmbito do direito de abortar, rendeu-lhe dezenas de ameaças de morte e acabou incluída no Programa de Proteção aos Defensores de Direitos Humanos do Governo Federal, resultando no seu afastamento do país. Haja vista que o Brasil é um dos países onde mais se mata defensores dos direitos humanos (direito inerente a toda pessoa humana que abrange o direito à liberdade, ao trabalho, direitos culturais, sociais, entre outros). Segundo dados da ONG brasileira Comissão Pastoral da Terra, só em 2017 foram registradas mais de 60 execuções contra ativistas no Brasil.

Debora Diniz e a luta pelos direitos das mulheres no Brasil
Pesquisadora Debora Diniz. Imagem: reprodução

O cenário é ainda mais preocupante diante da iminência de um governo de extrema direita que entende que “direitos humanos é para proteger humanos direitos”, segundo uma ótica subjetiva e estereotipada do que seria um humano “direito”, classificando-se e dividindo-se pessoas em hierarquias. Vidas que valem mais e que valem menos. “Ainda que nunca se faça um aborto, é essencial saber que a partir da legalização dele, a vida de muitas mulheres pode ser salva”.

Por fim, o livro Mulheres Incríveis realiza uma valiosa pesquisa sobre histórias e narrativas de mulheres que a historiografia não costuma contar. A obra é resultado de um esforço de tentar rememorar, resgatar e recompensar a luta, muitas vezes solitária e incompreendida, de mulheres que vieram antes de nós ou mulheres contemporâneas que tiveram a coragem de desafiar e subverter as imposições de um sistema e cultura que nos ditam, todos os dias, que não podemos ou que não há espaço para nós fora da esfera privada e da hierarquização das relações de poder do homem sobre a mulher.

Mulheres Incríveis nos fazem descobrir a história de mulheres extraordinárias, bem como nos empodera a perceber que em tempos difíceis sempre houve mulheres que lutaram, reagiram, criaram, reinventaram e venceram. Assim, enquanto houver desigualdade de gênero, o feminismo nunca pode cair em desuso.


Mulheres IncríveisMulheres Incríveis

Editora Astral Cultural

128 páginas

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18 Textos

Jornalista, pós-graduada em Comunicação, Semiótica e Linguagens Visuais, estudante de Direito, militante femimista, autora do livro A Árvore dos Frutos Proibidos, desenhista, cinéfila e eterna aprendiz na busca do aprender a ser.
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