Príncipe Drácula: mulheres aliadas na captura de um assassino

Príncipe Drácula: mulheres aliadas na captura de um assassino

Audrey Rose tem uma viagem marcada no segundo volume da série “Rastro de Sangue”. Em “Príncipe Drácula“, lançado neste ano pela Darkside Books, a destemida estudante forense pegará o trem do Expresso Oriente rumo à Transilvânia, para estudar na maior Academia de Medicina e Estudos Forenses da Romênia. Localizada no alto da montanha, a academia fica dentro do castelo que pertencia a ninguém menos que Vlad III, um príncipe romeno que deu origem a lenda do vampiro Drácula.

Assim, seguindo a continuação de “Jack, o Estripador“, a autora Kerri Maniscalco nos mostra uma protagonista traumatizada pelos acontecimentos do primeiro livro. Entretanto, a força e a perspicácia de Audrey Rose fará com que ela se torne cada vez mais sagaz e inteligente em suas investigações, através do aprimoramento de seus estudos. Em “Príncipe Drácula“, a jovem ainda enfrentará o preconceito por ser uma mulher que ousa desafiar o ambiente masculino da academia.

Nova onda de assassinatos e mais mistérios em “Príncipe Drácula”

A princípio, fazendo alusão a autora Agatha Christie, iniciamos a trama com Audrey e seu companheiro de investigações, Thomas, dentro do Expresso Oriente, rumo a uma das maiores academias de estudos forenses, localizada no castelo que pertencia ao sanguinário Vlad III, conhecido como “Vlad, o Empalador”. Na história real, Vlad III foi um príncipe romeno lembrado por suas mortes extremamente cruéis. O seu sobrenome era Dracuela, que significa algo próximo de “filho do dragão”, por isso ele ficou conhecido como Drácula. Bem como, foi a inspiração para o escritor irlandês Bram Stoker lançar, em 1897, “Drácula“.

Todavia, como costume da autora, há diversos elementos da história real que são misturados com a liberdade criativa para a composição da trama. Por exemplo, vemos detalhes no livro sobre a ordem religiosa da família Vlad (conhecida como “Ordem do Dragão”) que realmente existiu, sendo que tanto Vlad III quanto o seu pai, Vlad II, eram membros. Logo após o fim da história, há uma parte onde a própria autora conta como foi o processo de misturar esses fatos reais com a narrativa de “Príncipe Drácula“.

Rastro de Sangue - Príncipe Drácula
Segundo livro da série “Rastro de Sangue”. Imagem: Darkside Books (divulgação)

De volta para história, Audrey e Thomas viajam para a Romênia, no município de Brașov, com o único propósito de aprimorar os conhecimentos forenses na academia, mas o que ambos não esperam é que durante o percurso da viagem um cadáver aparece misteriosamente com o coração perfurado. Entretanto, como Audrey ainda não se recuperou totalmente do trauma proferido pelo caso do Jack, o Estripador, vemos uma personagem com a saúde mental totalmente abalada. Dessa forma, ela terá que enfrentar este trauma para continuar com suas autópsias. 

Esse rastro de sangue continuará se espalhando ao longo da trajetória de Audrey e Thomas na academia forense. Corpos perfurados e com o sangue drenado aparecem na região. Será que Audrey e Thomas conseguirão desvendar sozinhos esse caso? Além disso, os boatos começam a se espalhar nas machetes dos jornais: o verdadeiro Príncipe Drácula estaria de volta para atormentar a população? Quem seria o responsável por provocar essa nova onda de assassinatos?

Uma protagonista que desafia os costumes vitorianos

A era vitoriana foi marcada pelo conservadorismo da sociedade e a imposição de comportamentos rígidos e moralistas. E quem perdia mais com isso? As mulheres, lógico. O papel delas era designado aos cuidados da família e da casa. Mas, em “Príncipe Drácula“, Audrey Rose está longe de se entreter apenas com bordados. A jovem quer manusear seu bisturi, sem se preocupar em sujar seus vestidos, abrindo corpos e estudando cada parte do corpo humano.

Não obstante, por ser a primeira mulher a fazer parte dessa academia, ao chegar no local a jovem desperta diversos olhares tortos e é recebida com desdém e hostilidade pelo diretor. Já seus colegas homens veem sua presença como uma invasão do território deles. Entretanto, Audrey não ficará quieta diante dessas barreiras. Ela lutará contra o machismo e mostrará que é capaz quanto qualquer homem daquela academia. 

Cenário gótico e a edição da obra

A ambientação gótica do livro é outro detalhe que merece destaque. Há diversas passagens que remetem ao castelo assombrado de Vlad, além de cenas carregadas de tensão que ocorrem na floresta que cerca o local. Como a região do castelo fica no alto da montanha, temos descrições dos ventos e das noites frias e barulhentas. Além disso, há uma sensação constante de que Audrey e Thomas estão sendo vigiados e o mistério dos assassinatos vão se integrando ao mistério do próprio castelo assombrado.

Kerri Maniscalco
A autora Kerri Maniscalco. Imagem: reprodução
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Ademais, é interessante a escolha de mostrar no início de cada capítulo da edição, imagens e fotos, como as do verdadeiro castelo de Vlad, dos instrumentos forenses utilizados em épocas passadas, além de fotos antigas de salas de autópsia. Como a autora estudou Ciência e Criminologia para aprofundar sua paixão por medicina forense, houve um cuidado em retratar como era de fato aquele ambiente apresentado no livro, agregando de forma significativa a experiência da leitura. 

Romance livre dos padrões em “Príncipe Drácula”

A respeito do romance entre Audrey e Thomas, já sabemos que os dois possuem muita química. Portanto, em “Príncipe Drácula” o desenvolvimento dessa relação continua. Thomas é um rapaz progressista para o homem de sua época. Ele não se sente “ameaçado” pela inteligência de Audrey e não se incomoda ao ser salvo diversas vezes por ela. Uma mulher estudando numa academia cercada de homens? O que seria considerado como uma atitude subversiva e inadequada para uma dama da época, é visto com certa naturalidade por Thomas. Entretanto, nem tudo são flores. 

Ao passo que Thomas fica preocupado com a saúde mental de Audrey, o personagem age de forma paternalista, mas ela é direta ao afirmar que não pretende ter sua liberdade controlada por homem algum. Dessa maneira, tal passagem poderia ter sido romantizada por outros autores. Entretanto, a autora mostra que a personagem não precisa que nenhum homem tome decisões por ela, afirmando que Audrey é capaz de cuidar de si mesma. Ao mesmo tempo, é interessante ver que o personagem não é perfeito e que Thomas possui vestígios do machismo da época.

Rastro de Sangue - Príncipe Drácula
Adquirindo o livro na loja da Darkside, você leva esse sketchbook exclusivo. Imagem: Darkside Books (divulgação)

Apesar da tensão sexual dos dois se prolongar de forma desnecessária durante a trama de “Príncipe Drácula“, Audrey e Thomas continua como uma dupla cativante. Para além das discordâncias que compõe os flertes sarcásticos e inteligentes do casal, neste livro, ambos começam a revelar os sentimentos e desejos de um pelo outro, criando uma maior reciprocidade na construção do casal.

Mulheres aliadas e representação LGBT positiva

Em “Príncipe Drácula” temos uma variedade de personagens femininas que ajudarão Audrey e Thomas a desvendar a identidade do misterioso assassino. Começando por Anastasia, a carismática filha do diretor da academia; passando por Daciana, irmã de Thomas; e por último, Ileana, uma das empregadas do castelo. 

Através da troca de cartas com a prima, vemos o quanto Audrey sente falta de uma amiga presente e do convívio com outras mulheres, portanto, dessa vez ela terá a oportunidade de construir novas amizades com essas mulheres que, apesar de diferentes entre si, vão se solidarizar com a protagonista e se aliar na captura do assassino. Saindo um pouco dos arcos de Audrey e Thomas, essas novas personagens se destacam e trazem uma diversidade maior para a obra.

Transgredindo mais uma vez os costumes da época vitoriana, a autora ainda abre espaço para a construção de uma relação LGBTQ em “Príncipe Drácula“. E o melhor de tudo? Não tem um final trágico. Inclusive, essa relação é tão bem construída que faz parte de uma revelação importante para trama. Assim, a autora mostra que há outros personagens além de Audrey, que também lutam e resistem aos costumes conservadores da época.

A narrativa de Kerri Maniscalco continua prendendo. Há novas transgressões aos costumes, com a diversidade de novas personagens bem construídas, além de reviravoltas marcantes. Até agora a série “Rastro de Sangue” é um prato cheio para quem gosta de histórias sobre serial killers, com ambientação gótica e uma protagonista que mantém afiado tanto o seu bisturi quanto a sua opinião.

Rastro de Sangue Príncipe Drácula” é o segundo livro de uma série de quatro volumes. O terceiro livro intitulado “Escaping From Houdini” e o quarto “Capturing the Devil” já foram lançados em inglês, sem previsão lançamento no Brasil. Mas, seguindo a frequência de publicação da série pela Darkside Books, podemos esperar o lançamento do terceiro para o início do próximo ano e do quarto para o início de 2021. 


Príncipe DráculaRastro de Sangue – Príncipe Drácula

Autora: Kerri Maniscalco

Tradução: Ana Death Duarte

Darkside Books

417 páginas

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