[LITERATURA] Mulheres autoras de sci-fi 4: Octavia Estelle Butler

[LITERATURA] Mulheres autoras de sci-fi 4: Octavia Estelle Butler

Mais uma ganhadora dos prêmios Nebula e Hugo entre as indicações. Entre tantos altos e baixos na vida, sofrendo bullying por ser alta demais, por estar inserida num contexto histórico de segregação racial nos Estados Unidos, emerge esse mulher incrível, que passava suas tardes da adolescência escrevendo na biblioteca e se encantando por livros de fantasia.

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Octavia era uma garota muito tímida, que se isolava muito do mundo por não entender o porque das questões raciais serem tão determinantes em sua existência. Ela via a mãe sendo humilhada no trabalho e se perguntava constantemente porquê aquilo devia ser daquela forma. Para ajudar na educação de Octavia, a mãe costumava pegar revistas e livros descartados pelos patrões para levar pra casa, e assim, a nossa autora teve os primeiros contatos com contos e trechos de fantasia.

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Adentrou-se na biblioteca quando começou a escola porque, como eu disse, ela era um alvo fácil para os bullies. O escape para o universo da literatura garantiu a ela alguma sanidade em meio à loucura e à pressão as quais era condicionada.

Não gostava de trabalhos que ocupassem a mente dela demais, para que tivesse tempo de escrever, então fazia muitos bicos, o que preocupava bastante a mãe, que só queria que ela tivesse estabilidade financeira.

Dedicada aos romances, começou a escrever sci-fi e deu tapas na cara de uma sociedade racista quando escreveu “Kindred“, que mistura viagem no tempo com uma dura crítica à sociedade escravagista. Descrições impecáveis fazem você sentir confusão, dor e ódio ao mesmo tempo.

Em “Bloodchild“, Octavia mostra uma literatura amadurecida e extremamente tocante. Como faz sempre a boa ficção científica, colocam-se esses cenários ficcionais para servir de pano de fundo para reflexões sobre o nosso mundo real. Neste livro, ela apresenta uma raça alienígena que depende dos humanos para se reproduzirem – numa relação de simbiose, os humanos servem para carregar os ovos desses seres – que vivem em harmonia, até certo ponto, com os homens, que fugiram para o planeta deles em busca de condições de sobrevivência.

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O interessante é que ela, assim como Ursula Le Guin, coloca questões de gênero bem na cara do leitor. Questiona, por exemplo, a questão da gravidez apenas feminina, não somente em termos biológicos, mas de responsabilidade. Ela fala sobre a questão de uma raça se achar superior a outra e a necessidade humana de manter-se “por cima”. É um livro cheio de sentimento, sobre laços que vão além das espécies. Muito forte, muito mesmo.

Infelizmente, ainda não há nenhuma obra da Butler traduzida e lançada no Brasil. Deixaremos uma ótima dica para as editoras a oportunidade de trazer essa grande escritora de ficção científica para o conhecimento do público que se interessa por esse gênero literário tão rico, onde há tantas escritoras competentes. Afinal, já temos tantas obras de autores disponíveis no mercado, já passou da hora do lançamento de mais obras de escritoras de sci-fi, não é mesmo? 

Octavia é um lindo símbolo de resistência em muitos âmbitos e eu acredito que quanto mais gente conhecer o trabalho dela, melhor!


Você pode encontrar essas duas obras citadas em inglês na Amazon:

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“Escrevo sobre pessoas que fazem coisas extraordinárias. Eu apenas descobri que era chamado ficção científica.”

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Alguns vinte e poucos anos usados pra fazer Cinema e Ciências Sociais. Comunista e híbrida de humana e bicho-preguiça. No mais, tenho uma Delírio tatuada no braço. Acho que isso já explica muita coisa.
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