Precisamos falar sobre Lisbeth Salander da Trilogia Millennium

Precisamos falar sobre Lisbeth Salander da Trilogia Millennium

Neste final de semana, finalmente tirei um tempo para assistir à Trilogia Millennium. Os filmes são de 2009 a 2012, e acredito que muitos devem saber do que se trata ou ter visto ao menos a versão americana do primeiro filme, dirigido em 2011 por David Fincher. Apesar de não ter gostado tanto dos dois últimos, foi inevitável não reparar nas problemáticas propostas pelos filmes. No geral, elas aparecem em todos os três, mas a seguir vou falar um pouco sobre a que se destacou mais para mim em cada filme.

AVISO: O texto contém spoiler e não recomendo para quem ainda não assistiu/leu a trilogia

Os Homens Que Não Amavam as Mulheres (2009): Abuso

No primeiro filme, a temática “abuso” (mais precisamente o sexual) é visível para qualquer um. Lisbeth Salander (Noomi Rapace), uma hacker tida como “reservada”, sofre o que parece ser o seu primeiro abuso sexual. Por motivos melhores esclarecidos nos filmes seguintes, ela é obrigada a ser mantida em tutela. Isso não foi um grande problema em sua vida até que seu antigo tutor sofre com problemas de saúde e é obrigado a se afastar.

O novo tutor, Nils Bjurman (Peter Andersson), aproveita-se da situação desfavorável de Lisbeth e a chantageia, entregando-lhe o dinheiro dela somente em troca de favores sexuais. Caso isso não ocorresse, ele obviamente faria relatórios negativos, dificultando ainda mais a vida dela.

Os Homens que não Amavam as Mulheres

Mas esse não é um caso isolado de abuso durante o filme. A trama é baseada numa investigação sobre quem matou Harriet Vanger, inicialmente liderada por Mikael Blomkvist (Michael Nyqvist), que depois conta com a ajuda de Lisbeth. O plot é nada menos que um grupo de homens da família, nazistas e misóginos, que usam passagens da Bíblia para estuprar e matar garotas inocentes. Definitivamente, não é um filme fácil de se assistir.

A Menina que Brincava com Fogo (2009): Culpabilização da Vítima

Neste filme, entramos um pouco mais no passado de Salander e descobrimos uma possível causa para seu comportamento frio e reservado. Descobrimos que na infância dela, a garota foi internada durante anos em uma instituição psiquiátrica, após ter ateado fogo em seu pai numa tentativa de homicídio.

Mas o que a levou a isso? Antes de qualquer coisa, deixo claro que não sou adepta ao ditado “bandido bom é bandido morto”. O que temos aqui se encaixa muito mais em um caso onde a mulher só encontra como solução a morte do homem para se livrar do abuso.

Lisbeth tinha 12 anos quando tentou se livrar do pai, que agredia mãe e filha, e já havia cansado de tentar recorrer a superiores. Mesmo assim, após ter sido vítima durante anos ao lado da mãe, ela ainda é tida como a culpada da situação.

A Menina que Brincava com Fogo (2009)

A Rainha do Castelo de Ar (2012): Invalidação de Argumentos

Este problema, acredito eu, já tenha sido sofrido por todas as mulheres, em diferentes graus. Trata-se de quando temos nossos argumentos invalidados por sermos tidas como “loucas”, simplesmente por sermos mulheres.

No terceiro filme da trilogia, temos Lisbeth durante o período de seu julgamento por uma segunda tentativa de homicídio ao seu pai. A acusação tenta, de todas as formas, culpá-la com base em seus supostos problemas mentais (sociopatia e esquizofrenia). Quando ela afirma ter sofrido abuso tanto de seu pai como de seu tutor, eles a acusam de delírios e mentiras. Tornam-se necessárias provas dos abusos para que ela seja absolvida, uma vez que sua palavra contra a dos agressores não é suficiente.

gif lisbeth salander

Como disse anteriormente, por mais que eu não tenha gostado tanto dos filmes – mais por problemas técnicos do que de enredo – esta trilogia definitivamente merece atenção. Não sei até onde os filmes são fiéis aos livros, porque ainda não tive a oportunidade de lê-los, e adoraria receber comentários caso alguma de vocês tenha lido. Mas, como meu namorado me disse ao término da maratona: Lisbeth Salander é uma personagem maior que os filmes. E justamente por isso, merece a oportunidade. Sem contar que a achei muito parecida com uma super-heroína que amamos.

lisbeth salander e jessica jones

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“O senhor não imagina bem que eterna variação de gênio é aquela moça. Há dias em que se levanta meiga e alegre, outros em que toda ela é irritação e melancolia.” (Ressurreição, Machado de Assis). 20 anos, estudante de Engenharia e que prefere passar o dia vendo filmes do que com a maioria das pessoas.
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