[LITERATURA] Mulheres escritoras de sci-fi 6: Joanna Russ

[LITERATURA] Mulheres escritoras de sci-fi 6: Joanna Russ

Joanna Russ foi uma ativista feminista e escritora. Conheci seu trabalho lendo uma coisa ou outra que achava pela internet ao acaso, assim, quando estava me aprofundando em estudos sobre o que ela costuma chamar de “feminismo moderno”. Como tenho boa e velha tendência de pesquisar o lugar de fala, fui atrás da autora dos papéis que andava lendo e descobri que além de tudo, ela escrevia ficção científica.

Joanna era conhecida por ser afiada em suas respostas e criticar fosse quem fosse, sem muitas papas na língua. Ela declarou, por exemplo, que só deixaria de abordar algumas críticas de maneira política quando a literatura deixasse de fazer o mesmo, quando criticada acerca de seu trabalho observando as questões de gênero em obras de escritores.

Seu posicionamento era categórico e ela chegou a escrever muita coisa sobre a teoria feminista e a estruturação dos movimentos feministas, como “A Nova Misandria” e “What we are fighting fot?“. Escreveu ainda sobre a mulher na literatura, e esse artigo recomendo fortemente: “What can a heroine  do?“, onde ela trata da supressão da literatura feminina e da questão da criação e desenvolvimento de personagens femininas, assim como no livro “To write like a woman“.

Puxando agora para a sua produção de sci-fi, o livro que talvez tenha sido a sua principal contribuição para a ficção científica feminista: “The Female Man”. É um romance que questiona fortemente as noções de ser mulher, colocando 4 personagens que vivem em dimensões distintas e contextos históricos também e suas trajetórias permeadas pela questão conflituosa que pode ser (e é) a opressão de gênero.

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As quatro protagonistas são Joanna, que vive numa realidade de muito semelhante a da terra, só que remontando o período da década de setenta nos Estados Unidos; Janet, habitante de Whileaway, um lugar habitado unicamente por mulheres num futuro distante e numa sociedade utópica onde os homens foram exterminados por uma praga 800 anos antes.

Lá, as mulheres se reproduzem por terem encontrado um meio de misturarem os óvulos, dando origem a fetos, e os relacionamentos entre mulheres são os núcleos familiares.

Jael é a personagem responsável pela carga mais forte de distopia do livro. Ela vive numa guerra de sexos no sentido mais literal, travada há 40 anos. A questão sexual é forte nesse contexto do livro. Vemos que por conta da guerra, homens se submetem a cirurgia para parecem mulheres tanto para suprir desejos sexuais, quanto para “adentrar no território inimigo”. Mulheres heterossexuais não precisam dos homens e, como é o caso da própria Jael, tem um robô em casa que se assemelha a um certo modelo biológico masculino pra suprir qualquer necessidade que se paute em premissas apenas fisiológicas.

Por último, temos Jeannine que ainda vive o período da Grande Depressão e a China ainda é controlada pelo imperialismo japonês.

Essas mulheres se cruzam entre as dimensões umas das outras e experimentam as realidades completamente alheias as delas. É um mergulho entre muitas possibilidades e muitas realidades acerca do que dizem ou não ser o feminino.

Infelizmente, ainda não temos tradução disponível do livro para o português (nem de muitos dos artigos dela), mas se você quer dar uma olhada no exemplar da língua inglesa, pode adquirir na Amazon. Também existem traduções para o espanhol.


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Alguns vinte e poucos anos usados pra fazer Cinema e Ciências Sociais. Comunista e híbrida de humana e bicho-preguiça. No mais, tenho uma Delírio tatuada no braço. Acho que isso já explica muita coisa.
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