[QUADRINHOS] “Placas Tectônicas”, de Margaux Motin (resenha)

[QUADRINHOS] “Placas Tectônicas”, de Margaux Motin (resenha)

Placas Tectônicas é um quadrinho repleto de situações divertidas, mostrando o autorretrato da quadrinista Margaux Motin, com seus trinta e poucos anos, divorciada e responsável pela educação de sua filha.

O quadrinho começa mostrando Margaux empacotando suas coisas após seu divórcio. Mas ao invés de abordar essa fase com uma “bad vibe” da protagonista, notamos que ela enfrenta a situação descontraída e com bom humor, ao mesmo tempo que justifica o término de seu casamento. 

A história tem umas críticas positivas sobre a sociedade patriarcal, como por exemplo, quando ela fala sobre a instituição do casamento e o peso que sentia, mostrando que seu ex-marido tinha atitudes machistas, onde implicava inclusive com as roupas que ela vestia. 

“Depois de uma semana de separação, você passa por um tipo de crise adolescente e sai em busca daquela versão de si mesma que você sacrificou no altar da instituição do casamento: a louca, a degenerada, a despirocada, criativa, rebelde, o anticristo da vida conjugal. Depois de uma separação, seja qual for sua idade, você tem 14 anos.” – Placas Tectônicas

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O trecho citado acima no quadrinho é uma crítica a esse “sacrifício” que algumas mulheres fazem no momento que casam – sob influência da educação patriarcal e machista e sua manutenção no dia-a-dia – como se as mulheres tivessem sempre que deixar uma parcela de si mesmas, realizando “sacrifícios” em função do marido. Seja nas roupas, nas atitudes, nas sub opressões do cotidiano. Sabemos que há uma cobrança enorme sobre o que se “espera” do papel da mulher, ainda mais dentro do casamento. Espera-se que ela sacrifique seu trabalho, seus sonhos e desejos para que um casamento continue dando certo, e a mesma cobrança não é atribuída ao homem. Porém, Margaux mostra em um tom cômico, que essa situação é medíocre e que mulher alguma deve se submeter a isto. O que é interessante também a forma como ela mostra no quadrinho o “antes” (quando era casada) e o “depois” (recém-separada), e notamos o quanto ela deixava de ser ela mesma por um casamento infeliz que a sufocava.

Uma das partes que eu mais gostei da história é quando as amigas de Margaux organizam uma espécie de evento pós decepção amorosa, mostrando a sororidade de suas amigas em intervenções divertidas, que ajudam na superação da sua “bad vibe”. 

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A quadrinista soube mostrar uma mulher sem tabus, que fala abertamente sobre sua sexualidade, (o que eu achei bem positivo) porém um um ponto crítico que notei, foi uma parte da história que ela se sente ofendida por seu estilo pessoal, quando alguém diz que ela usa “sapatos de prostituta”. Como se de fato fosse uma ofensa um simples par de sapatos. Diz respeito apenas ao estilo da pessoa, como ela gosta de se vestir. Esses tipos de conotações problemáticas, que foram usadas em poucas situações do quadrinho – como quando ela também menciona “vaca” ou “periguete” – me incomodaram, pois são termos que tem funções machistas de julgar sempre como uma mulher deve se comportar ou se vestir, como se determinados gostos pessoais estivessem ligados a conceitos pré-estabelecidos da personalidade de uma mulher. 

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Placas Tectônicas é um quadrinho que, apesar de alguns apontamentos negativos que mencionei acima, tem uma mensagem muito importante e positiva sobre relacionamentos infelizes que muitas mulheres enfrentam, ainda mais aquelas que tem filhos e filhas, onde ao mesmo tempo não querem perder seu espírito jovem diante das dificuldades e problemáticas de ser mulher atualmente. Recomendo principalmente pra quem está passando por uma recente separação ou decepção amorosa – seja qual for sua idade- pois a autora e quadrinista soube mostrar que sempre temos que nos alertar para situações sufocantes e relações abusivas, que nos fazem mal, para que nossas placas tectônicas interiores se abalem e possamos conhecer a sensação libertadora de exercer o papel real de nós mesmos, e como isso, estabelecer relações futuras com pessoas que nos façam bem, nos afastando de pessoas tóxicas. 


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Sobre a autora

Margaux Motin – Nascida em 1978, é desenhista e quadrinista. Depois de estudar Artes na ENSAAMA Olivier-de-Serres, Margaux fez vários bicos antes de se lançar na ilustração para imprensa e para publicidade. Criou um blog em março de 2008, e seu humor truculento se transformou rapidamente em um grande sucesso. É autora de diversas graphic novels e histórias em quadrinhos, como J’aurais adoré être ethnologue_… e La Théorie de la contorsion (ambas pela Marabout). _Placas tectônicas é seu primeiro livro publicado no Brasil.


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Placas Tectônicas

Editora Nemo

Páginas: 256

Formato: 17 x 24 cm

Acabamento: brochura 

Compre aqui:  Amazon

Escrito por:

260 Textos

Fundadora e editora do Delirium Nerd. Apaixonada por gatos, cinema do oriente médio, quadrinhos e animações japonesas.
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