[NOTÍCIA] A polêmica do Prêmio Hugo e finalistas de 2016

[NOTÍCIA] A polêmica do Prêmio Hugo e finalistas de 2016

Essa foi uma semana de muitas expectativas para os fãs de literatura especulativa, pois foi anunciada a lista de finalistas ao prêmio Hugo deste ano.

O Hugo Awards é um dos prêmios mais importantes às obras de ficção científica e fantasia de língua inglesa e já contemplou autores como Neil Gaiman, Annie Leckie, Ursula Le Guin, China Miéville, Robert Heinlein, entre outros.

O Hugo de 2016 será apresentado na World Science Fiction Convention em Kansas, EUA, no dia 20 de Agosto. As expectativas também estavam altas devido aos acontecimentos do ano passado, quando grupos auto nomeados de “Sad Puppies” (filhotes tristes) e “Rabid Puppies” (filhotes raivosos) tomaram o prêmio de assalto.

Um dos diferenciais do prêmio Hugo é o seu sistema de votação, que embora complicado, tende a ser bastante democrático. Qualquer um que compre o ingresso para a WorldCon pode indicar até 5 candidatos a cada categoria e votar em seus favoritos, até que sobrem apenas os finalistas com maior número de indicações. O mais votado vence e leva o foguete pra casa.

O sistema do Hugo garante que o vencedor seja aquele com o maior número de apoiadores; em uma eleição governamental, por exemplo, o vencedor pode ser aquele com 40% de apoio contra 60% de opositores, pois esses 60% ficaram divididos entre outros candidatos, portanto, o sistema de votação do Hugo foi desenvolvido para impedir que isso aconteça, fazendo com que os eleitores façam um ranking de seus preferidos listando de 1 a 5 quem eles gostariam que vencesse.

Esse sistema de votação foi eficiente desde sua criação nos anos 1950, até que em 2013 um grupo de  insatisfeitos decidiu se aproveitar disso para inundar a votação com seus próprios candidatos: ocidentais, brancos e héteros, por considerarem que as indicações estavam “progressistas demais” com muitas nomeações a mulheres, homossexuais e não-caucasianos, assim como a obras que abordassem o ponto de vista dessas minorias e alegaram que havia um “complô” para discriminar a ficção científica conservadora (double face palm), processo que culminou no sequestro do Hugo no ano passado, o caso mais grave até então.

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O almirante da esquadra dos babacas é Theodore Beale, também conhecido como Vox Day, famoso por tecer comentários a favor do estupro conjugal e contra o sufrágio feminino (um doce de pessoa). Em 2015 ele publicou uma lista com 67 candidatos que ele considerava representar bem a Ficção Científica “segura” e pediu para seus seguidores apoiarem esses candidatos, ele incluso com duas obras. Com o recorde de mais de 11 mil membros votando, tanto contra quanto à favor dos “puppies”, 58 representantes dos conservadores foram colocados em 15 das 16 categorias do prêmio. No fim das contas, os fãs de ficção científica e fantasia não se mostraram covardes perante à agressividade dos “Puppies” e as categorias tomadas por eles acabaram com “No Award” (sem prêmio) e assim o Hugo de 2015 terminou com um gosto amargo.

É difícil entender os “Puppies” e suas ideologias. Seus líderes são autores de ficção científica e muitos foram indicados ao prêmio, mas não venceram. Eles alegam que o prêmio foi tomado por “Social Justice Warriors” (Guerreiros da Justiça Social), que valorizam ideologias políticas acima das tramas das histórias e afirmam que isso não é “divertido”.

Autores de FC e Fantasia estão unindo suas vozes contra os raivosos, chamando atenção para os debates promovidos pela FC durante todos esses anos.

O autor britânico Alastair Reynolds, que apareceu nas novas listas de indicação dos Puppies (tanto dos tristes quanto dos raivosos), pediu que seu conto “Slow Bullets” fosse retirado dessas listas por não querer seu nome associado a causas sexistas e racistas. E George R.R. Martin, autor das “Crônicas de Gelo e Fogo”, afirmou que a votação do ano passado não foi apenas “de direita”, mas também com a pior qualidade que ele viu em anos. Ele ainda chamou a atenção para o fato de que em 2016 a turma dos “Sad Puppies” decidiu apenas fazer uma lista de recomendações das obras que eles querem que seus seguidores votem, mas para os “Rabid Puppies” o caminho mais violento parece ser o certo “A intenção deles é queimar o Hugo e destruir tudo. São muito tóxicos.” disse Martin em entrevista para o The Guardian

Para os próximos anos, algumas mudanças no sistema de votação estão sendo pensadas para tentar evitar os problemas do ano passado, como adotar a indicação de apenas uma obra/autor por pessoa para cada categoria ao invés de cinco e o fracionamento dos votos no caso de mais de uma indicação, por exemplo, se alguém indica apenas uma obra ela ganha 1 voto inteiro, se eleger duas obras  cada uma fica com meio ponto e assim por diante.

Para contrapor os argumentos vazios dos filhotes raivosos e finalizar o texto, deixo aqui outro trecho da fala de George R.R. Martin, que foi um dos autores que mais se opôs ao sequestro do Hugo de 2015:

“Já tivemos muitos escritores conservadores na FC. Eu acredito que a FC sempre teve autores liberais e conservadores, mas provavelmente mais liberais. Este é um gênero sobre o futuro, é sobre olhar para modos de vida diferentes, de governos diferentes, sexualidade, todas essas coisas. Sempre foi sobre o pensamento progressista. Como o grande escritor Theodore Sturgeon disse, FC é sobre perguntar a próxima questão.”


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“Acho que nessa sociedade ser macho e babaca te faz digno do nosso tempo”

Os finalistas desse ano foram:

Melhor Romance:

  • Ancillary Mercy, de Ann Leckie (Orbit)
  • The Cinder Spires: The Aeronaut’s Windlass, de Jim Butcher (Roc)
  • The Fifth Season, de N.K. Jemisin (Orbit)
  • Seveneves: A Novel, de Neal Stephenson (William Morrow)
  • Uprooted, de Naomi Novik (Del Rey)

Melhor romance curto:

  • Binti, de Nnedi Okorafor (Tor.com)
  • The Builders, de Daniel Polansky (Tor.com)
  • Penric’s Demon, de Lois McMaster Bujold (Spectrum)
  • Perfect State, de Brandon Sanderson (Dragonsteel Entertainment)
  • Slow Bullets, de Alastair Reynolds (Tachyon)

Melhor noveleta:

  • “And You Shall Know Her, by the Trail of Dead”, de Brooke Bolander (Lightspeed, Feb 2015)
  • “Flashpoint: Titan”, de CHEAH Kai Wai (There Will Be War Volume X, Castalia House)
  • “Folding Beijing”, de Hao Jingfang, trans. Ken Liu (Uncanny Magazine, Jan-Feb 2015)
  • “Obits”, de Stephen King (The Bazaar of Bad Dreams, Scribner)
  • “What Price Humanity?”, de David VanDyke (There Will Be War Volume X, Castalia House)

Melhor conto:

  • “Asymmetrical Warfare”, de S. R. Algernon (Nature, Mar 2015)
  • The Commuter, de Thomas A. Mays (Stealth)
  • “If You Were an Award, My Love”, de Juan Tabo e S. Harris (voxday.blogspot.com, Jun 2015)
  • “Seven Kill Tiger”, de Charles Shao (There Will Be War Volume X, Castalia House)
  • Space Raptor Butt Invasion, de Chuck Tingle (Amazon Digital Services)

Melhor história gráfica:

  • The Divine written, de Boaz Lavie, arte de Asaf Hanuka e Tomer Hanuka (First Second)
  • Erin Dies Alone written, de Grey Carter, arte de Cory Rydell (dyingalone.net)
  • Full Frontal Nerdity , de Aaron Williams (ffn.nodwick.com)
  • Invisible Republic Vol 1, escrito por Corinna Bechko e Gabriel Hardman, arte de Gabriel Hardman (Image Comics)
  • The Sandman: Overture, escrito por Neil Gaiman, arte de J.H. Williams III (Vertigo)

Veja aqui a lista completa de categorias e seus indicados.

Escrito por:

46 Textos

Formada em Comunicação Social, mãe de um rebelde de cabelos cor de fogo e cinco gatos. Apaixonou-se por arte sequencial ainda na infância quando colocou as mãos em uma revista do Batman nos anos 90. Gosta de filmes, mas prefere os seriados. Caso encontrasse uma máquina do tempo, voltaria ao passado e ganharia a vida escrevendo histórias de terror para revistas Pulp. Holden Caulfield é o melhor dos seus amigos imaginários.
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