[LIVRO] “Nosferatu”, de Joe Hill (resenha)

[LIVRO] “Nosferatu”, de Joe Hill (resenha)

Sabe quando você lê algo e não encontra ninguém com quem discutir o assunto até que a nova obsessão se acalme dentro do seu coraçãozinho? Pois é, foi assim que me senti quando terminei de ler “Nosferatu”. Isso, acredito se deve ao fato de Joe Hill, autor do livro, não ser tão conhecido no Brasil e, portanto, nenhum dos leitores do meu círculo de relacionamento o conhecia. E é uma pena, galera, porque ele é um autor que, assim como o pai (Stephen King – pois é!), adora usar referências contemporâneas em suas histórias.

Você provavelmente vai encontrar nas páginas de Hill alusão ou citação a algo que você gosta muito. Se você gosta de quadrinhos, então, acredito que vai curtir saber que o universo das hqs é fonte de grande mudança na vida de um dos personagens de “Nosferatu”.

Toda a identificação entre leitor e personagens decorre com a construção de personalidades fortes, que conversam não apenas com a realidade do leitor, como também com as realidades de outros livros do mesmo autor sem que você fique perdido, caso não os conheça. E como uma história repleta de informações do universo de um devorador de cultura em geral, posso dizer que não é só com essas realidades que a história da protagonista Victoria McQueen se entrelaça. E isso vou deixar para você que resolver dar uma chance ao livro, descobrir e se encantar (ou não – quem sabe?) por si.

Por falar em Victoria McQueen, vamos falar do enredo:

Quando pequena, Victoria descobre que possui um poder especial. Descobre também que não é a única a ter um dom. Mas enquanto ela usa sua habilidade para encontrar coisas perdidas e tem dificuldades em compreender a veracidade dessas ocasiões, outras pessoas fazem uso de suas habilidades com um propósito… que elas acreditam ser o correto. Charlie Manx, por exemplo, consegue levar crianças à Terra do Natal, um lugar onde a infelicidade é contra a lei e fica situada em uma realidade que só pode ser acessada através dele.

O interessante da narrativa é que acompanhamos o desenvolvimento dos personagens e entendermos como o ambiente familiar pode moldar e transformar a vida de uma pessoa. Acompanhamos uma protagonista disfuncional, com problemas que vão além dos causados pelo vilão. Vemos, como sem querer, reproduzimos comportamentos que condenamos, pois foi assim que aprendemos a agir. E acredito que a grande questão do livro seja justamente essa: a formação psicológica de uma pessoa a partir de suas vivências e convivência com pessoas amadas.

Assim como conhecemos uma protagonista que não hesita em buscar complicações e comete erros que ela mesmo condena, encontramos um antagonista que acredita, de fato, fazer o bem – ainda que por vias duvidosas. Para ele, suas ações se justificam como apenas um mal necessário para um bem maior. E é a dualidade dos personagens principais que nos permite exercer a empatia por ambos.

No fim das contas, o que Vic precisa enfrentar não são monstros, mas homens. Homens carregados com sexismo e preconceitos gerados por suas relações familiares, pela sociedade da qual fizeram parte. Homens que não precisam de poderes para serem aterrorizantes, violentos, nojentos e perigosos. Mas isso, é claro, não significa que monstros não existam…

Imagino que todo leitor tenha suas peculiaridades para julgar se acha um livro bom ou não, e essa é uma das minhas: um bom livro para mim é aquele em que antes das primeiras 100 páginas você lê e é fisgado não por causa de um acontecimento ou frase épica, mas por algo que aparenta ser totalmente casual ou por um bom jogo de palavras. “Nosferatu” é um desses livros recheados de surpresas ao longo das páginas, que te prendem e te fazem experimentar das mais variadas sensações, inclusive a de impotência.

Livros de Joe Hill que percebi fazerem parte da mesma realidade de “Nosferatu” são: “O Pacto” e “A Estrada da Noite”. Você não precisa ler eles para compreender a história, mas vai ficar com aquele sentimento de “eu vi o que o senhor fez aqui, hein!” quando houver referência.

Espero que curtam a leitura. <3


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Nosferatu

Joe Hill

Editora Arqueiro

Lançamento: 2014

624 páginas

Compre aqui: Amazon

Escrito por:

2 Textos

Ilustradora, quadrinista e que sofre para se formar em Artes Visuais pela UFRGS. Ama comunicação, e por ser tímida, a põe em prática através da publicação de tirinhas na página Another Art Book. Devoradora de quadrinhos, música e livros (especialmente os de terror). Nutre vício por nescau e luta diariamente contra a procrastinação, a maior vilã que habita seu ser.
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