A representatividade da mulher na mídia é motivo de grande discussão. Em boa parte das produções, mulheres servem única e exclusivamente para o desenvolvimento do personagem principal (normalmente homem). Nestes casos, as personagens femininas não possuem um background próprio. É basicamente como se elas não existissem antes do personagem masculino ou fora da realidade dele.
Foi com base neste tipo de personagem que o crítico cinematográfico Nathan Rabin criou o termo Manic Pixie Dream Girl, que descreve essas personagens como uma “efervescente e rasa criatura cinematográfica que existe unicamente nas imaginações febris de escritores/diretores sensíveis a fim de ensinar jovens homens sentimentais depressivos a abraçar a vida e seus infinitos mistérios e aventuras”.

“Muitos caras pensam que eu sou um conceito. Ou que eu vou completá-los ou fazê-los se sentirem vivos.” (Clementine – Bilho Eterno de uma mente Sem Lembranças)
É aquela mistura incrível de maluca e fofa que os autores e diretores adoram encaixar na trama para levar o homem a se desenvolver em algum âmbito pessoal e que sai da história tão rápido quanto entrou. Aquela criatura mágica que gosta de todas as coisas que o personagem principal gosta, não tem personalidade própria e nem uma história para chamar de sua. É a Summer de “500 Dias Com Ela”, ou a Penny Lane de “Quase Famosos”, ou toda moça com quem o Ted de “How I Met Your Mother” saiu.
O problema é que isso se amplifica para todo campo. As meninas, principalmente as mais novas, ficam tentando atingir esse inatingível e esquecem de ser protagonistas de suas próprias vidas. E a mídia, os produtores, os autores (Oi, John Green!) continuam produzindo e reproduzindo essa criatura mística, esse ser inexistente.
Uma cartunista chamada Alison Bechdel muito incomodada com essa tal representação, criou o famoso Teste de Bechdel, para avaliar se as mulheres estariam bem representadas na obra. Fiz um post no meu blog pessoal falando sobre e vou deixar o link aqui.

Tirinha de Alison Bechdel
Mas basicamente, para o filme ser aprovado ele deveria passar em três fases:
1-) ter pelo menos duas personagens femininas que possuam nomes;
2-) que conversem entre si;
3-) sobre qualquer coisa que não seja um personagem masculino.
Parece fácil, mas se a gente for parar pra pensar a maioria dos filmes não passam nesses quesitos.
As MPDG, obviamente, não passam e estão em todos os lugares. A primeira vez que esse termo foi usado, foi para a Claire de “Elizabethtown”, mas eu listei mais 5 personagens (além das já citadas no texto) que cumprem esse mesmo papel.
- Clementine, “Brilho Eterno de Uma Mente Sem Lembranças”
Além de ser demonizada no relacionamento com Joel, Clementine está apenas para que o personagem masculino – apático e sem graça – se desenvolva. Ela ainda afirma que não é um conceito, mas seu ponto de vista e seu background nunca é revelado.
- Samantha, “Her”
Começamos pelo fato de que ela sequer tem rosto. O software Samantha leva Theodore em sua jornada pelo autoconhecimento e a recuperação do fim de seu relacionamento (real). O personagem passa o tempo todo buscando esse relacionamento utópico e o encontra no mundo virtual. Parece que a realidade é demais para ele.
- Alison, “Sim Senhor”
Canta numa banda de rock (?); é motoqueira; vive cada dia como se fosse o último; é impulsiva e, claro, adorável. Aparece justamente quando Carl mais precisa se libertar de seu niilismo e o leva nessa trajetória cliché. Zooey, sai dessa, mana!
- Satine, “Moulin Rouge”
Ela é uma dançarina de cabaré, sonha em ser atriz e ajuda Christian e toda a rebeldia do personagem em ter desafiado o pai por se mudar para Paris. Ela é inatingível, mas tudo o que ele quer. Até porque o ser humano adora o que não pode ter.
- Yvaine, “Stardust”
Ela é uma estrela. Não acredito que poderia ser mais inatingível e mais perfeita. O caso é que ela ajuda Tristan a se desenvolver como pessoa, enquanto ele tenta dar ela de presente para a moça por quem era apaixonado (Vitória).
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