[EVENTO] Uma entrevista (ou uma aula) com Lila Cruz – 2º Encontro Lady’s Comics

[EVENTO] Uma entrevista (ou uma aula) com Lila Cruz – 2º Encontro Lady’s Comics

Lila Cruz é uma jornalista de Salvador que caminha entre publicação de zines, revistas, jornalismo em quadrinhos, ilustração editorial e rajadas cósmicas com seus braceletes… Não, pera! Essa é outra Mulher Maravilha.

Ela contou seus percalços com a publicação da revista Farpa, que reuniu 99 autoras e produtoras de conteúdo, na mesa “Minha primeira publicação em revistas”, no 2º Encontro Lady’s Comics. Entre erros e acertos, Lila disse que faria tudo de novo pela vontade de ver mais conteúdos produzidos por mulheres.

 

 

Ela ainda tem uma coleção de zines massas que publica em casa, com um capricho que só vendo. Além de publicar regularmente na sua fanpage, a Quadrada, e em algumas revistas. A gente não podia perder a oportunidade de entrevistá-la e olha… Pega o bloquinho de anotações e não diga que não avisei!

DN – Quando você começou a publicar seu trabalho?

Lila – A publicar mesmo tem uns 3 ou 4 anos. Eu fazia muita coisa pra web e eu decidi que ia imprimir mesmo e começar a publicar. E aí, desde então eu já fiz uns 10 fanzines, comecei a publicar em revista também. Eu já fazia quadrinhos antes, tinha tentado webcomic, mas eu acho que minha praia é impresso mesmo.

DN – E a desenhar?

Lila – Foi assim… Eu desenhava antes, mas nunca levei muito a sério. Depois que eu entrei na faculdade, as pessoas começaram a me pressionar, porque viram que eu desenhava. E aí eu comecei a desenhar pra revista da faculdade e todas as coisas que tinha na faculdade pra desenhar me jogavam no bolo, né?! Depois disso eu comecei a levar mais a sério, só que de fato, mais a sério mesmo, foi em 2014, quando eu comecei a lançar as coisas impressas.

DN – Como é o processo de criação das tuas fanzines? É mais pensado, com roteiro ou mais espontâneo?

Lila – Antes eu não fazia roteiro, mas depois eu comecei a escrever porque percebi que ficava mais organizado. Eu conseguia organizar as páginas melhor, conseguia organizar balão, pensar nas cenas melhor. [Antes] Eu ia fazendo tudo a medida que eu tava desenhando, então ficava uma bagunça e eu ficava muito ansiosa. Então, mudei o método.

DN – Que importância você vê na troca de experiência entre mulheres que também estão produzindo quadrinho?

Lila – Nossa! Pra mim foi o que ajudou muito a começar a produzir, ter mais confiança no meu trabalho, porque foram muitas artistas que me ajudaram. E se não fosse por pessoas como a Ana Koehler, a Fefê Torquato, a Bianca Pinheiro, essas meninas que me deram confiança, me ajudaram, eu não começaria a produzir. Porque a gente começa com a auto estima muito baixa, sem confiar no traço, sem pensar que pode fazer e tal. E elas me ajudaram pra caramba. Foi massa! E eu acho que isso pode refletir muito pras outras autoras. É o que eu sempre quero fazer com outras autoras que estão começando, passar essa confiança que elas me passaram. Acho que essa rede que a gente cria é uma zona de conforto pra gente, um lugar muito legal e seguro pra gente produzir, pensar e refletir a respeito da produção também.

 

DN – Você já viveu alguma experiências problemática por ser mulher?

Lila – Na verdade, eu acho no início as meninas tinham muito problema. Não falo por mim, porque não era tanto já que eu era iniciante, mas eu ia pras mesas pra assistir as palestras e só tinham homens. E isso é uma coisa que não é muito antiga, é uma coisa de 4 anos atrás. Então foi uma luta muito grande das meninas e isso abriu muito espaço. Eu conquistei muito espaço por causa delas, porque se não fossem as meninas e os grupos, os debates que todo mundo começou a fazer e as questões que a gente começou a levantar, talvez não tivessem tantos eventos, tantas autoras publicando, tanta autora publicando por editora grande.

Eu particularmente, tenho mais problema com a questão de que as pessoas acham que a gente só vai fazer quadrinho auto biográfico e que mulher só faz coisa fofinha. Eu acho que sofro mais com isso que qualquer outra coisa. Mas eu convivi muito com essa coisa de que você ser mulher no meio dos quadrinhos é uma coisa que durante muito tempo limitou o alcance da gente. Se a gente não tivesse se juntado como grupo e começado a questionar, discutir, reivindicar, talvez a gente estivesse no lugar de platéia o tempo inteiro, mesmo produzindo, mesmo vendendo e imprimindo, publicando… A gente continuaria no lugar de platéia pras mesmas mesas com os mesmos caras até hoje. Então eu acompanhei tanto como platéia, quanto como produtora durante esses anos com essas dificuldades, que não são só minhas, mas de muitas mulheres por aí.

DN – O que você diria paras as mulheres que estão querendo começar a fazer quadrinhos?

Lila – Conheça outras meninas que estão produzindo. Vá aos eventos, vá conhecer as meninas que estão fazendo. Porque a gente cria mesmo novos laços e eu acho que isso conforta muito, estimula e incentiva muito. E produza muito! Produza pra internet, porque agora eu produzo regularmente pra internet também e isso ajudou muito, DEMAIS, a divulgar meu trabalho e a conquistar um monte de coisa legal. Tenha uma regularidade das coisas que você tá fazendo, até pra você evoluir o traço, pra evoluir como artista e também pra conquistar um público. E não fique achando que seu traço é melhor ou pior do que o de ninguém porque cada um tem um estilo e cada um avança de um jeito diferente.

Conheça o trabalho de Lila Cruz:

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Lady’s Comics

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39 Textos

Bagunceira e bagunçada, por dentro e por fora. Prefere ver séries em maratonas, menos Game of Thrones, porque detesta spoiler. Totalmente apaixonada por desenho e animação. Tem mania de citar filmes em conversas, conselhos, brigas ou onde couber uma referência. Prefere gastar dinheiro com quadrinhos do que com comida, sendo muito entusiasta do quadrinho nacional e graphic novels em geral. Formada em Jornalismo, mas queria mesmo trabalhar com roteiro e ilustração.
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