[CINEMA] “Mil Vezes Boa Noite” e o ousar do não pertencer a categorias

[CINEMA] “Mil Vezes Boa Noite” e o ousar do não pertencer a categorias

“Porque começou a tirar fotos de guerra?”

“Raiva”

“Ainda está com raiva”

“Ah, sim”

Rebecca (Juliette Binoche) é uma das 5 melhores fotógrafas de guerra do mundo. Ela não evita presenciar tiroteios ou o ritual de uma mulher-bomba para tirar do seu trabalho aquilo que ela mais preza, a denúncia traduzida no poder da imagem. Ela, além de tudo, tem raiva, e a câmera é sua salvação, o disparo da foto e todo o processo mecânico que envolve a produção da imagem, que no caso dela deve ser a melhor para cumprir seu objetivo.

Não contém spoiler

O conflito reside nos papéis que a protagonista desempenha para si e para o outro -papel de mãe, de esposa e de denunciadora das atrocidades da guerra. Como esposa e acima de tudo mulher é esperado a atuação de um papel socialmente esperado para todos os sujeitos femininos, assim como a designação espacial do privado. “Mulher pertence ao lar”. Porém, Rebecca não obedece do que deve ser a vida de uma mulher, seu lugar é fora de qualquer categorização, o que faz com que sua decisão de ficar em casa, após um acidente de trabalho, seja tão difícil.

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Talvez o ponto mais emblemático do filme seja a pergunta que fazemos ao longo da (a)(des)ventura de Rebecca. O julgamento a que é submetida seria igual se ela fosse um homem? Sua presença em casa seria tão cobrada? Seria ela considerada uma heroína? Infelizmente as respostas para tais perguntas todas nós claramente sabemos, elas estão aí para a realidade de qualquer mulher que ouse não aceitar as categorizações secularmente pré-estabelecidas sobre o que é ser mãe, ser esposa SER mulher.

Mil Vezes Boa Noite foi lançado em 2014, com direção de Erik Poppe.

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17 anos, procurando saber o que fazer. Enquanto isso, dorme, escreve e problematiza umas coisinhas.
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