[CINEMA] “Minha Amiga do Parque”: Sobre Maternidade e Questões de Classe

[CINEMA] “Minha Amiga do Parque”: Sobre Maternidade e Questões de Classe

Minha Amiga do Parque é um longa que conta com a direção de Ana Katz e foi exibido no Festival do Rio de 2016. Após dois longos anos de espera, o público brasileiro finalmente tem acesso a essa pequena pérola.

É inegável o quanto o cotidiano de uma mulher é afetado pela maternidade, para o bem ou para o mal. A diretora argentina Ana Katz, a partir da sua experiência com a maternidade e a troca que experimentou com sua amiga (e protagonista do filme) Julieta Zylberberg (de Relatos Selvagens, 2014), constrói um roteiro dramático que vai ganhando ares de thriller psicológico.

Ao desenhar as agruras que uma mulher sozinha precisa enfrentar para criar seu filho, principalmente quando o marido existe, mas está ausente (afinal, inúmeras mulheres são “viúvas de maridos vivos”), a diretora aponta criticamente as expectativas sociais para um comportamento esperado para aquelas que acabam de parir, assim como um suposto instinto materno que mulheres precisariam desenvolver para se conceberem plenamente.

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Atrelada a esta problemática de gênero e da construção de uma identidade advinda com o rito de passagem da maternidade, surgem alguns questionamentos sobre classes sociais bastante interessantes. Alguns arquétipos e estereótipos pré-definidos socialmente vão sendo diluídos pelas dúvidas e angústias que a protagonista vai vivenciando ao longo do filme, através dos inúmeros encontros com sua nova amiga conhecida no parque, Rosa – muito bem interpretada pela própria Ana Katz, que além de diretora, é ainda atriz, roteirista e montadora do longa.

Com o uso de super closes e uma câmera vibrante que acompanha a protagonista em lente de aumento, o clima de suspense se adensa de forma eficiente, aproximando a espectadora daquilo que é visto na tela. Ao optar pelo clima outonal e gélido para compor e ampliar a ambientação de seu argumento, a diretora faz uma crítica à expectativa maternal, onde se espera que a mulher esteja em constante e sorridente primavera solar, embora muitas vezes o que se vê é um grande “monstro” que se esconde por trás das árvores. Nesse mesmo sentido, temos outros filmes primorosos que enveredam pela mesma seara como os curtas Estátua! e Uma Primavera, ambos da brasileira Gabriela Amaral Almeida; O Demônio não Sabe Brincar, de Mabel Lopes; os longas Babadook, da australiana Jennifer Kent (aclamado como o melhor filme de terror em 2015) e o mais recente longa iraniano Sob as Sombras, de Babak Anvari.

Quarto longa-metragem da diretora, que interpreta também a personagem antagonista nesta trama, Minha Amiga do Parque ganhou o Prêmio Especial do júri, além de Melhor roteiro no Festival de Sundance de 2016. Pouco conhecida dos brasileiros, o próximo filme de Ana Katz já tem título Sueño Florianópolis e foi rodado na Brasil com Andréa Beltrão e Marco Ricca no elenco.

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Aquariana, mora no Rio de Janeiro, graduada em Ciências Sociais e em Direito, com mestrado em Sociologia e Antropologia pelo PPGSA/UFRJ, curadora do Cineclube Delas, colaboradora do Podcast Feito por Elas, integrante da #partidA e das Elviras - Coletivo de Mulheres Críticas de Cinema. Obcecada por filmes e livros, ainda consegue ver séries de TV e peças teatrais nas horas vagas.
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