[CINEMA] “Em Nome de Deus”: punição  e marginalização de mulheres

[CINEMA] “Em Nome de Deus”: punição e marginalização de mulheres

“Em Nome de Deus” apresenta a história de quatro garotas que são enviadas a uma espécie de convento, que é conhecido como Asilo de Madalena, instituição que recebia mulheres que eram consideradas “perdidas”, ou seja, mães solteiras, prostitutas, rebeldes, vítimas de estupro, deficientes mentais e físicas. Lá eram obrigadas a trabalhar como forma de pagar por seus pecados e se purificarem.

Em Nome de Deus (The Magdalene Sisters) é um filme irlandês de 2002 com roteiro e direção de Peter Mullan. O filme é protagonizado por cinco mulheres: Bernadette (Nora-Jane Noone), Rose/Patricia (Dorothy Duffy), Crispina (Eileen Walsh), Margaret (Anne-Marie Duff) e Irmã Bridget (Geraldine McEwan).

[Não contém spoilers]

O filme se passa na Irlanda durante a década de 1960, e nele conhecemos a história de quatro garotas: Margaret, que foi estuprada pelo primo durante uma festa de casamento; Bernadette, que mora em um orfanato, mas para os diretores da instituição representa um “perigo” para os homens da vizinhança por ser muito bonita e atrevida; Rose/Patricia, que deu à luz uma criança fora do casamento e foi obrigada pelo pai a deixa-lo para adoção; e Crispina, que também é mãe solteira, mas seu filho é criado pela irmã.

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Todas foram enviadas para este convento para pagar por seus pecados, porém não existe um tempo determinado de permanência, algumas a família busca depois de alguns anos, mas a maioria é esquecida e deixada lá pelo resto de seus dias.

Na instituição elas realizam trabalhos forçados na lavanderia, mas além disso são constantemente humilhadas pelas madres e também existem casos de abuso por parte dos padres com as internas.

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Pensando que elas já foram enviadas para essa instituição por serem consideradas perdidas – ou seja, já são renegadas por sua família e pela sociedade – traz um peso emocional enorme. Vivendo nas condições do convento, tudo isso piora rapidamente. Tentativas de suicídio são comuns, e algumas cometem o ato e morrem. Outras tentam fugir, mas a maioria não consegue por ser difícil, e sofrem grandes consequências dentro da instituição. Algumas acabam surtando, entrando em um estado de completo desespero ali dentro e são enviadas para clínicas psiquiátricas, onde as condições não eram as melhores. E tem também as que acabam se tornando freiras.

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Todas elas foram obrigadas a pagar um alto preço por causa de dogmas cristãos, e toda culpa é colocada sobre elas por situações que não apenas as envolvem, como os homens também, mas elas que são tratadas como impuras e perdidas.

Margaret foi estuprada, mas ao invés do primo pagar pelo crime que cometeu, ela foi responsabilizada e jogada no convento. Crispina e Rose/Patricia (aliás, ela se chama Rose, mas como já existe na instituição uma moça com o mesmo nome a madre resolve chamá-la de Patricia) são mães solteiras. Patricia foi obrigada pelo pai, quando ainda estava no hospital, logo após parir, a assinar um documento para que seu filho fosse levado para adoção e então foi enviada para o convento. Crispina foi enviada para lá depois do nascimento de seu filho também, só que ele ficou com sua irmã que sempre que pode vai até o portão do convento para que Crispina possa vê-lo de longe. Bernadette é uma menina sagaz, sedutora e que tem uma boa dose de rebeldia, mas como acreditam que ela gosta de “provocar homens” é enviada para o convento por se considerada um “perigo”.

Todas elas procuram lutar contra o sistema ali imposto, mesmo sabendo que podem ser punidas de formas inimagináveis caso sejam descobertas, já que a instituição ainda mantém métodos da Igreja Católica do período medieval. Mesmo sabendo das consequências, elas seguem tentando sair, pois o desejo por liberdade é enorme. Pensar que, se não fizerem nada, fará com que elas vivam até o fim de seus dias naquele ambiente de opressão, humilhação e sofrimento, é mais um combustível para que os planos de fuga não deixem suas mentes.

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Triste é pensar que a história desse filme foi a realidade de muitas mulheres que passaram pelos Asilos de Madalena, sendo que o último deles encerrou suas atividades em 1996.

O filme está disponível no catálogo da Netflix.


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Escrito por:

Formada em Rádio e TV, maratonista e viciada em séries, eterna amante de um bom filme, escreve desde quando só conseguia usar desenhos para contar suas histórias, apaixonada por “Titanic” e uma quase bailarina que aprendeu muita coreografia em clipe da MTV. Sonha em morar no Canadá, escrever um livro, ter filhos, ser doula e conseguir colocar suas séries em dia.
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