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Annalise Keating e a construção da mulher vítima, agente e defensora

por Athena Bastos · 30 de novembro de 2016
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Durante os 16 dias de ativismo na luta contra a violência à mulher os blogs envoltos pelo #feminismonerd (confiram os blogs ao fim do post) se propuseram a discutir as problemáticas em torno da representação de mulheres como uma matriz que reitera os discursos de violência e ódio, quanto veículos que visibilizam a discussão. Sabemos que, apenas a exposição e discussões possibilitam o combate direto, a resolução e identificação do problema. Como reitera a escritora e teórica feminista Audre Lorde: “é preciso transformar o silêncio em linguagem e ação”.

A personagem escolhida para a abordagem deste post é Annalise Keating, papel de Viola Davis e protagonista da série “How To Get Away With Murder”, produzida pela Shonda Rhymes e transmitida pela ABC. A série de 2014 – que agora está na metade de sua terceira temporada – gira em torno de uma professora de direito penal, Annalise, e de um grupo de alunos que estagiam em seu escritório: Michaela Pratt, Connor Walsh, Asher Millstone, Laurel Castillo e Wes Gibbins. Após o assassinato de uma aluna, as lições apresentadas pela renomada professora não serão importantes apenas para suas notas ou para o futuro profissional deles, mas para a própria liberdade dos alunos.

A cada temporada um novo grande mistério é desenvolvido na trama, envolto por casos menores de alguns capítulos. A maior parte deles trazem grandes dilemas sociais, sobretudo a violência contra a mulher. Ao longo das três temporadas, inúmeros exemplos foram trazidos ao tribunal e abordados também através da história de Annalise, a qual nem sempre pode estar do lado que gostaria de defender. Entre abusos físicos, psicológicos e assassinatos em série, a produção mostrou não temer tocar em feridas abertas e expor os vários cenários desta espécie de violência.

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O excelente trabalho de Annalise deve-se, eventualmente, a atitudes não ortodoxas, o que leva muitos personagens a verem seu caráter como antagônico aos preceitos morais. Todavia, em seus discursos e práticas, o que se percebe é uma mulher que teve de lutar por poder e que defende seu poder da maneira que pode, independentemente das feridas que pode causar em uma sociedade dominada por preconceito e hipocrisia.

how-to-get-away-with-murder-03Annalise não somente é uma mulher, como é negra, de origem pobre e bissexual. Em sua juventude foi abusada por um parente, fato que origina grandes problemas psicológicos no seu presente. Cresceu acreditando na conivência da mãe – que mais tarde revela o extremo a que chegou para defender sua filha – e nas palavras dela de que todas as mulheres sofrem e devem aceitar seu sofrimento. Cresceu com a vontade de lutar contra esta realidade. E, ainda assim, acabou em um casamento abusivo.

how-to-get-away-with-murder-02Embora forte e aparentemente segura, a Annalise fora dos tribunais apresenta graves problemas de autoestima e acreditava quando seu marido dizia que ela destruía tudo. Antes de se casar com Samuel Keating, um professor branco e renomado que nutria casos com suas alunas, Annalise aceitara sujeitar-se ao papel de amante, na esperança de aquele homem, o “único” capaz de amá-la, a aceitaria em outro papel. Mas os anos mostraram que Sam não era apenas o homem amoroso que se apaixonara perdidamente por ela. Pelo contrário, era um homem que amava mais seus privilégios, que traía e culpava a esposa, que chegava ao extremo de bater nela, com se ela fosse fraca e impotente – algo completamente diverso do que as pessoas viam nos tribunais.

Ninguém no entorno de Annalise foge desta cruel realidade. A protagonista escolhe para estar ao seu lado pessoas que, como ela, conheceram o lado feio de um mundo que prega a justiça. Gays, mulheres negras, mulheres abusadas na infância, mulheres sob o domínio de homens autoritários. Estas pessoas são as selecionadas por Annalise para auxiliá-la em sua batalha cotidiana, demonstrando a aversão da protagonista aos privilégios elitistas.

how-to-get-away-with-murder-07As práticas e discursos da implacável advogada podem parecer vazios quando confrontados com seus problemas pessoais, os quais envolvem alcoolismo, depressão e problemas em relacionamentos. Todavia, defender uma causa não significa estar imune a ela. Annalise mostra que todos convivemos com a hipocrisia, que todos sofremos alguma espécie de violência.

O problema é que alguns grupos sofrem mais do que outros. Alguns grupos são constantemente a vítima do abuso e outros tantos são constantemente os agressores. Alguns possuem a liberdade de agredir, enquanto outros não possuem sequer a liberdade de se defender. E estar exposto à violência não diminui a vítima, mas concede a ela ainda mais motivos para lutar por uma realidade diferente. Annalise não é convencional, não é unânime e tem seus momentos de queda por mãos dos mesmos costumes contra os quais tenta lutar. Porém, são estas quedas que a fazem lutar diariamente por uma justiça diferente daquela imposta por uma elite dominante.

how-to-get-away-with-murder-08Não se pode falar sobre Annalise Keating sem mencionar a impecável atuação de Viola Davis. A atriz, que constantemente realiza discursos empoderadores em relação às mulheres e aos negros e que já relatou ter sofrido abusos, faz com que esta personagem seja extremamente humana. Viola é capaz de mostrar a fraqueza e a força de Annalise de uma forma única e real, de modo que a torna a grande força motora da série.

“How To Get Away With Murder” tem seus defeitos, como todas as séries. Perde-se em alguns momentos diante tantos mistérios e, muitas vezes, deixa a desejar. Todavia, é uma série que se preocupa em mostrar como o sistema penal está interligado a graves problemas sociais. E a violência contra a mulher, assim como o racismo, é um tema recorrente em seus episódios.

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Nestes dias de ação, mas não somente neles, é importante que se veja que as artes (a literatura, o cinema, a televisão, a música, etc.) podem ser utilizadas como instrumentos de incentivo e fortalecimento desta luta, e não somente como meios de reprodução de uma cultura que oprime e machuca. A violência contra a mulher ocorre diariamente e muitos preferem ignorar sua existência. Mas ela existe e precisa ser revelada para ser combatida.


Textos voltados para a ação nerd pelo fim da violência contra a mulher:

  • [SÉRIE] “Jessica Jones” – quando a ficção imita a vida ou o retrato da violência contra a mulher
  • [DOCUMENTÁRIO] “Audrie & Daisy”: o poder destrutivo da violência sexual e do bullying
  • [SÉRIES] “Top of the Lake” e o retrato do machismo e violência contra a mulher
  • [CINEMA] “A Pele que Habito” e a misoginia disfarçada em um médico louco
  • [LIVRO/CINEMA] Representação feminina nas obras de fantasia épica e a falácia da fidelidade histórica

 Sites envolvidos nessa campanha:

  • Momentum Saga
  • Nó de Oito
  • Ideias em Roxo
  • Preta, Nerd & Burning Hell
  • Valkirias
  • Vanilla Tree
  • Prosa Livre
  • Kaol Porfírio
  • Psicologia&CulturaPop
  • MinasNerds
  • Iluminerds
  • Pac Mãe
  • Séries por Elas
Feminismofeminismo nerdhow to get away with murderSériesviolência contra a mulher
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Athena Bastos

Mestra em Teoria e História do Direito e redatora de conteúdo jurídico. Escritora de gaveta. Feminista. Sarcástica por natureza. Crítica por educação. Amante de livros, filmes, séries e tudo o que possa ser convertido em uma grande análise e reflexão.

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