Karen Berger: a mulher que revolucionou a forma de se fazer HQs!

Karen Berger: a mulher que revolucionou a forma de se fazer HQs!

Mesmo sem nunca ter escrito ou desenhado uma HQ, Karen Berger foi responsável por diversas mudanças no mercado editorial dos quadrinhos. Foi ela a responsável pela criação do selo Vertigo, voltado para leitores maduros da DC Comics, trabalho que lhe rendeu por três vezes o prêmio Eisner de melhor editor de quadrinhos e revolucionou a forma de se fazer HQs.

Nascida em 1958, Karen nunca foi uma grande fã de histórias em quadrinhos quando criança, mas em 1979, logo após conseguir seu diploma em literatura inglesa e história da arte, ela soube de uma oportunidade de trabalho na DC Comics para trabalhar como assistente de Paul Levitz, que editava alguns títulos da casa na época, como “Batman” e “Casa dos Mistérios e dos Segredos” (coletâneas de histórias de terror).

O fato de não ser uma fã de quadrinhos foi fundamental para ela conseguir o emprego, e, para a sorte de Berger, essa foi uma época em que a DC Comics estava apostando em títulos que fugiam um pouco da temática do super herói, assim ela podia se relacionar com as temáticas fantásticas e de mistérios que iam além das hiper-masculinizadas aventuras dos super seres.

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Em 1980, a DC começou a apostar em séries de curta e média duração, e Karen Berger ficou responsável pelo título da “Ametista – A Princesa do Mundo de Cristal”, uma garota que descobre que as pessoas com quem vive não são seus verdadeiros pais, e que na verdade ela é herdeira do trono de um reino distante e dominado pelo mal.

Karen afirmou que o título da “Ametista” foi o primeiro no qual o fato de ser uma editora mulher fez toda a diferença em seu trabalho, pois ela foi capaz de orientar o roteirista Dan Mishkin sobre a melhor forma de representar uma garota de 13 anos, que descobre o poder de se transformar em uma adulta de 20, ao atravessar um portal mágico para seu reino de cristal. Berger diz ter sido capaz de trazer uma perspectiva feminina para a personagem e assim ajudou a moldar Amy Winston da forma que conhecemos.


Logo depois, Karen começou a trabalhar com dois outros títulos importantes da editora: “A Legião dos Super Heróis”, de Paul Levitz e Keith Giffen; e o icônico reboot da “Mulher-Maravilha“, escrito e desenhado por George Perez. Aqui, novamente, o fato de ser uma editora mulher fez de Karen a editora certa para o trabalho, pois ela foi capaz de tirar o melhor de Perez e de suas histórias voltadas para o lado mitológico e feminista da princesa amazona.

Vertigo

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Durante toda a década de 1980, Berger editou vários títulos da DC Comics, passando por títulos de super-heróis a coletâneas de terror e mistério. Embora diferentes entre si, todos esses títulos tinham em comum o seu lado realista, eram história de pessoas comuns confrontadas com o fantástico, o que para Karen Berger era fundamental para uma boa história.

Foi na última metade da década de 1980 que ela passou a trabalhar com os escritores que formariam a conhecida invasão britânica dos quadrinhos americanos. Alan Moore, Jamie Delano, Grant MorrisonNeil Gaiman, Peter Milligan e Garth Ennis já trabalhavam com Karen nos títulos que viriam a compor o selo Vertigo, criado oficialmente em 1993.

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Novamente, o tom realista das histórias era o que chamava a atenção, e os seis títulos escolhidos para fazer parte da primeira fase da Vertigo foram: “Hellblazer”, “Monstro do Pântano”, “Homem-Animal”, “Shade – O Momem Mutável”, “Sandman” e “Patrulha do Destino”. Com exceção de Delano, todos os outros autores eram praticamente novatos nas histórias em quadrinhos, tendo poucos trabalhos publicados pela editora britânica 2000 A.D. Trabalhar com autores novatos não era desafio para Karen Berger, que por muito tempo foi responsável pelos novos talentos da editora. A escolha por autores estrangeiros permitia trazer aos quadrinhos um novo olhar sobre o mundo, completamente diferente do que havia sido feito até então no mercado americano.

Karen Berger editou o selo Vertigo por 20 anos e foi responsável por vários clássicos da casa como “Fábulas“, “100 balas”, “Preacher”, entre outros. Mas devido a diferenças de pensamento, a relação de trabalho foi se enfraquecendo. Karen sentiu que a DC Comics estava deixando os quadrinhos especulativos de lado, para se focar em produzir cada vez mais material de super-heróis com intuito de suprir a demanda do cinema e de animações, e em 2012 ela deixou seu posto de editora executiva da Vertigo e cortou seus laços com a  DC.

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Em 2016, Berger retornou à editoria de quadrinhos em um novo endereço, a Image Comics, onde ela pôde voltar a trabalhar com quadrinhos especulativos, que abordam diversos gêneros e temas do jeito que sempre gostou.

Ao longo de sua carreira, Karen Berger abriu portas para escritores e artistas explorarem ao máximo seu potencial criativo em um ambiente sem censuras, e sua influência pode ser sentida em todos os títulos com os quais trabalhou. Como legado, ela nos deixou histórias maravilhosas que transformaram os quadrinhos como um todo.

Quando Karen Berger iniciou sua carreira nos quadrinhos, poucas mulheres estavam envolvidas nos processos de edição, e mesmo hoje – embora o número de mulheres em cargos executivos das editoras tenha aumentado – ainda falta muito para conseguirmos a equidade no mercado, e é por isso que figuras como Karen Berger representam uma grande inspiração para todas as fãs e profissionais de quadrinhos até hoje.

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Formada em Comunicação Social, mãe de um rebelde de cabelos cor de fogo e cinco gatos. Apaixonou-se por arte sequencial ainda na infância quando colocou as mãos em uma revista do Batman nos anos 90. Gosta de filmes, mas prefere os seriados. Caso encontrasse uma máquina do tempo, voltaria ao passado e ganharia a vida escrevendo histórias de terror para revistas Pulp. Holden Caulfield é o melhor dos seus amigos imaginários.
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