Preciosa – Uma história de esperança: um filme para debater violência doméstica

Preciosa – Uma história de esperança: um filme para debater violência doméstica

Preciosa: Uma História de Esperança é um filme de drama lançado em 2009, produzido e dirigido por Lee Daniels e estrelado por Gabourey Sidibe. É baseado no livro Push: a Novel, da escritora Sapphire. Conta a história de uma adolescente nova-iorquina que sofre abusos durante toda a sua vida, sendo constantemente humilhada e rejeitada. O filme concorreu em cinco categorias do Oscar, sendo vencedor de duas: melhor roteiro adaptado e melhor atriz coadjuvante para a atriz Mo’Nique.

Sinopse com spoilers

A história se passa em Nova York, no ano de 1987, e começa mostrando Cairicee “Preciosa” Jones (Gabourey Sidibe) sendo suspensa da escola após engravidar pela segunda vez e não conseguir acompanhar o conteúdo. Preciosa tem 16 anos e possui dificuldade na leitura e escrita, e a diretora a encaminha para uma escola especial. 

Conforme sua rotina é mostrada, percebe-se que o filho que a adolescente espera é de seu próprio pai, de quem sofre abusos desde a infância e com quem já tem uma filha de quatro anos que vive com a avó e foi apelidada de “Mongo” por ser portadora de Síndrome de Down.

Mary Jones (Mo’Nique), a mãe de Preciosa, a culpa pelas situações, acreditando que a filha tenha sido a responsável por seduzir seu marido. Negra e acima do peso, a adolescente é alvo de piadas constantes entre colegas, ainda sofrendo agressões em casa por parte da mãe, que a humilha e a trata como empregada.

Ao chegar em sua nova escola, a professora Rain (Paula Patton) a ensina a ler e escrever e conhece a história da menina, que a comove por suas experiências traumáticas. Junto com suas colegas, Preciosa consegue trocar experiências e começa a encontrar forças para enfrentar suas dificuldades. 

Quando a tentativa de diálogo com a mãe se torna vão e as agressões continuam constantes, a Sra. Rain se vê na situação de abrigar a menina em sua casa, onde vive com a esposa. Em dado momento, a personagem principal, que narra a sua história a todo momento, reflete sobre um comentário feito por sua mãe “A mãe diz que os homossexuais são pessoas ruins… mas não são eles que me estupram, não são eles que me maltratam.” A professora procura a assistente social Weiss (Mariah Carey), para retirar a guarda de sua mãe.

Preciosa
Preciosa segura o filho, fruto de um estupro pelo seu pai

Próximo ao final do filme, Mary Jones procura a filha em um emocionante momento no qual conta que seu pai faleceu em decorrência de AIDS, e que ela também é portadora do vírus, estando prestes a morrer (lembrando que o filme se passa na década de 1980, quando os tratamentos não estavam tão avançados e receber a notícia de possuir o vírus HIV era praticamente uma sentença de morte). Preciosa entra em desespero, e ao realizar um exame descobre que também é portadora do vírus, e precisa mais uma vez achar uma maneira de recomeçar e deixar uma vida com oportunidades para seu filho que acaba de nascer.

Assim como acontece com muitas meninas, Preciosa tem receio de falar sobre o estupro, e não comenta o abuso que sofreu quando a diretora da escola a questiona sobre a gravidez. É só quando ela interage com outras mulheres e tem a ajuda da professora Rain que sua situação vem a tona. Ela sente inferioridade, o que pode ser perceptivo em seus pensamentos, nos quais reflete sobre querer ser bonita como meninas dentro dos padrões. Sua própria mãe, que também está acima do peso, a diminui com xingamentos enfatizando o fato da filha ser gorda. 

A negação em chamar o estupro pelo próprio nome, camuflando a situação, ocorre quando a Mary Jones culpa a filha pelo que aconteceu. Em um dos momentos mais emblemáticos, ocorre uma briga entre as duas, e Preciosa mostra a mágoa que sente pela mãe ter “ciúmes” como se ela tivesse seduzido o próprio pai. 

A década de 1980 não contava com o alcance tecnológico tão alto quanto atualmente, de forma que buscar informações e contatos para ajuda foi quase impossível por muitos anos da vida de Preciosa, que enfrentou sua dura realidade em silêncio. A falta de diálogo com a família prejudicou a ela, a sua mãe que também sofria violência mas achava que estava merecendo isso e fazendo algo errado para perdeu seu posto de mulher para a filha, e certamente prejudicaria os filhos de Preciosa que cresceriam em ambiente hostil acreditando que aquela era a única realidade para eles, ou sofrendo igualmente como elas ou repetindo os comportamentos violentos. A importância de orientar alguém com dificuldades e oferecer ajuda se mostra fundamental ao decorrer da história, mostrando que assim é possível ajudar a melhorar esse ambiente.

O filme é intenso, e sofremos junto com a personagem a todo momento. Importante obra para debater violência doméstica e o estupro, que assim como na maioria dos casos da vida real, aconteceu por alguém próximo.  O pai, embora não apareça visualmente, é figura que pode ser notada em cada anseio da personagem principal, tornando perceptível o medo da aproximação com a figura. A fotografia recheada de cores intensas torna os efeitos do filme.

Acima de tudo, essa é uma história para encorajar pessoas negras a lutarem por seus direitos. A produção executiva foi de Oprah Winfrey e Tyler Perry, ambos negros que saíram da periferia e também passaram por abuso sexual. 


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Acadêmica de jornalismo, feminista, problematizadora e apaixonada por cultura pop. Sonha em viajar o mundo, atualmente viaja nos pensamentos.
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