[MÚSICA] Slowdive: o retorno de um dos pilares do Shoegaze

[MÚSICA] Slowdive: o retorno de um dos pilares do Shoegaze

Slowdive voltou! Considerada uma das maiores bandas do Shoegaze – gênero derivado do indie rock e da neo-psicodelia – e mais de duas décadas após publicar seu último e controverso disco, Pygmalion, o grupo acaba de disponibilizar aos fãs seu quarto álbum de estúdio, autointitulado. Trazendo os clássicos ruídos, vozes ecoadas, melodias etéreas, sobreposições de texturas sonoras e letras melancólicas, a banda soube retomar exatamente de onde parou.

Quando pensamos em cenas musicais feministas dos anos 90, o Riot Grrrl logo nos vem à cabeça, e com razão. Mas por volta dessa mesma época e também se contrapondo a um predomínio explicitamente masculino no cenário do rock alternativo – que persiste até os dias atuais – surgiu o Shoegaze. A presença de mulheres e homens tocando lado a lado pode ser observada na maioria das mais influentes bandas desse estilo musical. My Bloody Valentine com Debbie Googe e Bilinda Butcher, Chapterhouse com Ashley Bates, Lush com Emma Anderson e Miki Berenyi, e claro, Slowdive com a icônica e maravilhosa Rachel Goswell.

Slowdive

Rachel – que é compositora, vocalista e guitarrista – fundou Slowdive em Reading, na Inglaterra, ao lado de Nick Chaplin (baixo), Neil Halstead (guitarra e vocais), Christian Savill (guitarra) e Adrian Sell (bateria). O grupo foi formado em 1989 e lançou seu primeiro disco, Just for a Day, em 1991. O álbum Souvlaki – sobre o qual o site Pitchfork recentemente fez um documentário – teve seu lançamento em 1993 e trouxe consigo dois dos maiores singles da banda, When the Sun Hits e Alison.

1995, por sua vez, foi o ano em que o (durante muito tempo) último trabalho dos shoegazers, Pygmalion, foi lançado. Os próprios membros se sentiram desconfortáveis com o resultado do disco – que apesar de ter sido bem recebido pelas críticas, precedeu a imediata expulsão do grupo pela gravadora – e resolveram seguir rumos diferentes, anunciando o fim da banda.

Em 2014, após quase 20 anos sem qualquer tipo de aparição, Slowdive retornou aos palcos e se apresentou em diversos festivais ao redor do globo. Em meio à recepção mundialmente calorosa dos fãs, Goswell comunicou em maio de 2016 que a banda estaria trabalhando em um novo disco, este que finalmente teve seu lançamento no último dia 5.

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Slowdive é um álbum que traz exatamente o que se esperava dos membros, considerando seus 22 anos de pausa. Tem em seu cerne toda a clássica identidade nostálgica da banda, organizada de uma forma sutilmente nova. Apresenta inteligentemente de início a música Slomo, que fala de amor e possui vocais ecoados que muitas vezes se misturam aos instrumentos, além da costumeira melodia etérea e fantasiosa. O repertório dá então espaço ao single Star Roving e à inédita Don’t Know Why, baladinhas que explicitam a influência que Slowdive abrange de bandas como The Cure e The Smiths.

O outro single previamente lançado, Sugar for the Pill – que junto a Everyone Knows e No Longer Making Time forma o trio de músicas que mais remetem à época Souvlaki – carrega em seu nome uma expressão inglesa que significa “fazer com que algo ruim aparente ser menos desagradável”, e possivelmente conta em sua letra a história de alguém que tenta terminar seu relacionamento amoroso da maneira menos dolorosa que encontra.

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Go Get It e Falling Ashes são responsáveis pelo encerramento do álbum. A primeira é a que mais se assemelha à aura do disco anterior e, apesar de possuir um clima atmosférico, não dispensa influências provenientes do post-punk, especialmente em sua metade inicial. A última é doce, urgente e se destaca através de repetições. O piano, que se reprisa por meio de um loop muito semelhante ao escutado em Daydreaming – composição de Thom Yorke presente no álbum mais recente de Radiohead – casa harmoniosamente com a frase “Thinking about love“, dita de maneira insistente durante toda a canção. É a música ideal para dar fim a um repertório que se encaixa de forma sublime na discografia de Slowdive. Não traz muito de novo, mas também não deixa nada a desejar. Arrepia e provoca bons sentimentos. O álbum é, como diz em seu nome, um trabalho que representa inquestionavelmente a essência da banda.

Lembrando que o grupo tem apresentação marcada em São Paulo no dia 14 deste mês, ao lado da igualmente cativante Widowspeak, no Cine Joia.

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Admiradora de tudo que envolve arte, cultura (especialmente a japonesa) e filosofia. Mãe de dois gatos, feminista e vegetariana. Em seu tempo livre descobre bandas inexploradas, fotografa e tenta desvendar a personalidade MBTI alheia (é INFP, por sinal). Considera The Office o ápice da humanidade.
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