Mulheres e Guitarras: Riot grrrl e a cena punk! (Parte 2)

Mulheres e Guitarras: Riot grrrl e a cena punk! (Parte 2)

Em nossa primeira parte, falamos sobre a influência de bandas pioneiras do movimento no começo dos anos 90 e como tais nomes mudaram o nosso status tanto na indústria, quanto na parte acadêmica da música. Como todo movimento repentino, especialmente em partes regionais, o riot grrrl começou a se separar em gênero e em foco. Kathleen Hanna do Bikini Kill formaria uns anos mais tarde o trio Le Tigre e daria entrada nos anos 2000 com uma sonoridade focada não só nos elementos do punk como também a eletrônica.

Outras bandas inteiradas do movimento continuariam sua carreira por ali se renovando, como o Sleater-Kinney. Entrariam em um hiato indeterminado em 2006, e sem esperanças de volta. A baterista Janet Weiss continuaria em sua lendária banda Quasi, enquanto a vocalista Corin Tucker formaria sua Corin Tucker Band e Carrie daria uma longa pausa dos palcos por seus problemas psicológicos, fazendo sketchs amadores com seu amigo (e fã do movimento), Fred Armisen.

O começo dos anos 2000 foi marcado por muitos destaques em diferentes vertentes da música. Em particular, o pop punk, que nos anos 90 tinha nomes no underground como Green Day, The Muffs e Superchunk, voltaria repaginado e com todo um tratamento social e visual diferente. Apesar de diferentes, vemos um claro avante de mulheres no gênero. Paramore, Flyleaf, Lemuria, The Donnas

O rock alternativo, como muitos sabem, foi o principal marco do final da década, e por muita influência feminina. O mercado independente do rock e seus apoiadores trariam consequentemente uma presença de conforto e um certo estereótipo, em alguns casos. Veremos isso em outra matéria. O constante desgaste e desvalorização do punk como movimento feminino político fez com que veteranas partissem a outros levantes artísticos, não só musicais. Mas e o riot grrrl? O gênero em si morreu? Não exatamente.

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Emily Nokes, da Tacocat

Com a separação do Sleater-Kinney em 2006, o movimento parecia estagnado e datado. A 3º Onda do Feminismo e sua relevância já estava além da mídia musical, e por ali se deixava de lado sua influência na indústria. O que muita das bandas de 20 anos atrás pensavam ter se liquidado, na verdade se adaptou a seu próprio meio. O movimento punk feminista nunca morreu no subúrbio, e o que era deixado a 10 anos atrás de lado hoje em dia é reposto em voga de maneiras diferentes, complexas e muito atuais.

Com esse certo tipo de comportamento, podemos prever uma nova etapa não só da música, mas do feminismo em si. A sonoridade e o feminismo tem tudo a ver, e andam de modo igualitário. A continuidade de uma tradição política nesse meio com tantas variedades de bandas só nos mostra o progresso em questão. Variando do pop punk, o emocore e até o hardcore mais visceral, vemos hoje em dia o que podemos afirmar com muita certeza ser um filho atual do que se denominava riot grrrl há 27 anos. Um verdadeiro levante sobre o quão importante são tais bordões populares.

Apoie sua girl gang local!

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Mitski Miyawaki

Viajando por muitos sub-gêneros, achamos atualmente um lugar de conforto em que denominamos de ”revival” de um movimento político tão importante pro que rola hoje em dia.

Mitski Miyawaki é uma japonesa criada nos Estados Unidos, e tem feito um grande barulho nas mídias do rock. Após sua música ”Francis Forever” aparecer em um episódio do desenho Hora de Aventura sendo interpretada pela personagem Marceline, Mitski ganhou um destaque enorme. Seu terceiro álbum de estúdio, nomeado Puberty 2 ganhou lugar em várias listas de melhores do ano de 2016 em sites especializados. Sua mistura de voz poderosa, críticas estéticas, problemas sociais de adolescente, sua guitarra inclinando entre o calmo e o alto no maior estilo Pixies e sua fusão divertida de elementos eletrônicos faz com que ela seja uma das artistas mais interessantes que temos.

Diferente de Mitski, a banda Screaming Females tem mais de de 10 anos de estrada. A sua líder, Marissa Paternoster, tem ganhado destaque por sua incrível técnica com a guitarra. E não é por menos: Marissa mistura riffs viscerais de rápidos com sua voz grave e um tanto peculiar fazer a mistura barulhenta de seus amigos de banda valerem a pena. Conhecida também por sua alta influência de bandas de riot grrrl, a banda ganhou um documentário para falar sobre sua pequena tour independente pelos Estados Unidos no ano passado pela Noisey. O diretor do documentário é o marido de Corin Tucker do Sleater-Kinney, Lance Bangs, fã assumido do estilo e veterano de filmagens musicais.

Antigamente um trio e agora uma dupla, as meninas do Skating Polly fazem revival punk feminista pra nenhuma órfã dos anos 90 botar defeito. Sua junção de baixo e bateria faz com que o simples e estrondoso seja o suficiente pra batermos o cabelo na grade! Em 2015 a banda fez parte da tour de volta das Babes in Toyland, abrindo os shows. O último álbum, lançado no mesmo ano, é o de maior sucesso da carreira.

Tacocat é uma banda de Seattle, que está em atividade desde 2008. Misturando o senso mais pop e colorido com toda a energia do punk e os palavrões em seus vídeos caseiros e super criativos, a banda tem sua atenção não só estética, mas instrumental. O segundo álbum deu a elas um destaque na mídia após ser recebido com críticas altamente positivas. Perto de lançar seu último álbum, a banda fez sua participação na abertura da nova série As Meninas Super Poderosas, continuando o legado e tradição do desenho original em convidar bandas de punk com presença feminina.

A banda canadense White Lung é de longe a preferida das críticas atuais. Seu mais novo álbum Paradise teve muito destaque, ganhando prêmios de melhores do ano passado. A banda conta com o vocal pesado e intenso de Mish Way, que é conhecida também como jornalista da Vice, bateria da veterana do riot grrrl Anne-Marie Vassilou e guitarras pesadas e clean de Kenneth William. Seus vídeos são criativos, simples, e cheios de referências. O último álbum é recheado de contos sobre morte, segundo a vocalista da banda.

Por último e não menos importante temos a queridíssima Courtney Barnett. Australiana, fez sua carreira em seu selo independente Milk! Records com seu álbum de estreia Sometimes I Sit and Think, and Sometimes I Just Sit, ganhando as paradas americanas e vindo a se apresentar em vários talk shows. Com claras influências femininas no rock, em seu último clipe promocional para seu álbum, a faixa Elevator Operator conta com amigos de gravadora, Jeff Tweedy da banda Wilco e seu filho e as meninas do Sleater-Kinney! Com referências country, um estilo peculiar de tocar com os dedos, muita veia pesada e letras que parecem poemas redigidos pelo Bob Dylan adolescente, Courtney é a de maior destaque na lista e merece seu cantinho aqui.

Nas próximas matérias marcaremos presença no site para discutir historicamente com vocês sobre música e com tópicos em específico! Fiquem ligadas e lembrem-se:

As mulheres inventaram o punk rock, não a Inglaterra!

Escrito por:

Clarissa. Ou Setty. Carioca, estudante de jornalismo e puxa saco de qualquer mulher com uma guitarra ou uma câmera na mão. Montadora de playlists profissional, poetisa de bolso nas horas vagas e satirista em tempo integral. Nerd pra umas coisas e punk pra outras, aspirante a diretora e crítica de plebe musical. Sempre estranha e incomum.
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