[ENTREVISTA] Natália Lima e Sapo Lendário: Arte, meninas fortes e influência japonesa

[ENTREVISTA] Natália Lima e Sapo Lendário: Arte, meninas fortes e influência japonesa

Natália Lima é ilustradora e quadrinista, mora em Caruaru – PE e faz parte da dupla Sapo Lendário, ao lado de seu namorado Júnior Ramos. O casal – que mescla em seus desenhos elementos das culturas japonesa, cyberpunk e nerd no geral – já teve dois trabalhos financiados pelo Catarse: MONO, uma graphic novel de ficção científica, e Inkgirls, versão impressa de ilustrações que trazem garotas de gangues, feitas para o Inktober de 2016. Conheça um pouco mais sobre as inspirações, técnicas e projetos da artista.

Natália Lima

DN – Quando e de onde surgiu o seu interesse pela ilustração? Você já fez cursos ou aprendeu tudo sozinha?

Natália Lima: Comecei sozinha! Desde pequena, sempre gostei de desenhar. Acho que toda criança gosta, a diferença é que eu continuei com isso. Tive muito apoio da minha família, meu pai principalmente gostava de fazer desenhos pra eu pintar, minha mãe deixava eu desenhar na parede. Enfim, isso foi o que me empurrou para que eu continuasse.

DN – Quais são suas personagens femininas favoritas (quadrinhos/desenho animado)?

Natália Lima: Coraline e praticamente todas as personagens principais dos filmes de Hayao Miyazaki. Quase todas são crianças, e todas são meninas fortes. É incrível!

Natália Lima

DN – Que artistas mulheres você admira, ou a inspiram de alguma forma?

Natália Lima: Todas pra mim são inspiradoras. Tanto por serem as artistas incríveis que são, quanto por terem conseguido estar onde estão. Mas minhas maiores inspirações são a Loish e a Anna Cattish. Os trabalhos das duas são incríveis e me motivam bastante.

DN – Como surgiu o Sapo Lendário? Você e o Júnior são responsáveis por todas as etapas das ilustrações, ou cada um tem um papel específico no processo? Foi difícil mesclar os estilos e gostos pessoais de cada um?

Natália Lima: Nos conhecemos na faculdade daqui da cidade, e assim que começamos a namorar, pensamos em começar a desenhar juntos. Conversei com o Júnior sobre trabalharmos juntos inicialmente, não para empresas, mas para que cada um de nós conseguisse evoluir, um apoiando o outro. Daí decidimos o nome bem rápido, um dizendo do que gosta, e saiu “Sapo Lendário”. Como estávamos evoluindo juntos, nossos gostos foram se mesclando. Claro que hoje temos estilos diferentes um do outro, se compararmos. Mas quando juntos, conseguimos pensar numa maneira de fazer com que a ilustração funcione. Não temos responsáveis por etapas na ilustração, a gente sempre pede opinião e sempre um mexe no que o outro faz. Isso até agora deu super certo, e não pretendemos mudar!

Natália Lima

DN – Você tem algum projeto pessoal paralelo, ou pretende ter?

Natália Lima: Tenho sim, mas é impossível eu não fazer nada com o Júnior, nem que seja um pouco. Me sinto bem demais trabalhando com ele!

DN – Quais materiais vocês mais gostam de usar?

Natália Lima: Tinta, principalmente guache! Na verdade, a gente gosta de conhecer materiais novos e misturá-los. Não existe um material favorito pra gente, tem uns mais confortáveis de se trabalhar como o guache, mas favorito não. Tudo que sirva pra gente desenhar, a gente topa.

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DN – Além da ilustração e dos quadrinhos, vocês também têm interesse na animação? Em que área artística vocês mais se enxergam trabalhando no futuro?

Natália Lima: Nossa, sim. Trabalhar na parte de produção de animação deve ser incrível! Mas até não chegarmos lá, trabalhar com ilustração está sendo maravilhoso pra nós, e principalmente pra mim. Me sinto bem fazendo e produzindo as ideias que penso e quando vejo que o “físico” acontece, não há nada de mais gratificante!

DN – Como surgiu o universo de MONO? Fala um pouco sobre o quadrinho!

Natália Lima: O MONO surgiu numa aula, foi o Júnior que estava entediado dela e começou a pensar numa história pra quadrinho. Chegou em casa me contando tudo, e demorou bastante até a gente fechar a ideia, que aliás, ainda teve muitas coisas que tivemos que mexer pra funcionar. A história é complexa, exige muito mais quadrinhos pra explicar pra todo mundo como é o universo do quadrinho. Basicamente, o MONO é uma máquina com o intuito de salvar o mundo. A história é sci-fi, cheinha de desafios pro público. A história é complexa porque envolve misticismo e ciência. Neste primeiro quadrinho, apresenta quais são os problemas do mundo e como o MONO pode resolver isso.

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DN – E sobre Inkgirls: os desenhos são incríveis e se encaixam perfeitamente na ideia do “Lute como uma garota”. Como surgiu a ideia? Além disso, os detalhes das roupas e equipamentos das meninas são impecáveis. De onde vieram as inspirações?

Natália Lima: Foi bem sem querer. Inicialmente a gente ia criar apenas garotas com roupas legais, mas pensamos em dar uma história para cada uma, e foi ai que surgiu a ideia de fazer gangues. Nossas inspirações maiores foram de estilos de roupa do Japão, que aliás é a maior fonte de inspiração de nosso trabalho. Mas não foi apenas lá, muitas Inkgirls de gangues diferentes foram pesquisadas para serem criadas, por exemplo uma personagem de gangue indiana. Tivemos que pesquisar a cultura e os deuses pra nos servir como inspiração.

Natália Lima

DN – Vocês recentemente participaram do Artists’ Alley da CCXP de Recife. Como foi a experiência e a recepção das pessoas?

Natália Lima: Sempre bom! Mas nos surpreendeu muito. Não sabíamos que o público de Recife iria tanto gostar do Artists’ Alley, e foi de tamanha emoção pra nós, queremos ir de novo!

DN – Como você enxerga o universo dos quadrinhos hoje em dia, para as mulheres? Em questão não só de representatividade dentro deles, mas fora também – com mulheres como autoras.

Natália Lima: Não é bom, mas está melhorando. Dizer que está tudo bem é mentir. Dá para ver, sentir que muitas vezes, somos injustiçadas apenas por sermos mulheres. A gente só percebe quando acontece com a gente, né? E é doloroso isso, passei por coisas ruins como ilustradora. Mas as coisas estão mudando e a cabeça das pessoas também, e isso é maravilhoso, dá pra ver que existe um apoio de outras mulheres e que acabamos sendo ouvidas, juntas. Espero muito que um dia isso possa diminuir pra mostrar que somos incríveis por inteiro!

DN – Por fim, dá uma dica pra as meninas que pretendem seguir carreira na ilustração e nos quadrinhos! 

Natália Lima: Olha, sempre a gente tem uma frase de motivação, né? Mas na ilustração as coisas são cruéis. Meninas, assim que a gente põe o pé na carreira como ilustradora, a gente precisa ter força. Nada vai vir fácil, sem dificuldade. Ter paciência e saber ouvir é o principal de ser uma boa ilustradora. E se você for mulher, tem que vir com um combo de força extra. O mundo não é fácil, vai ter gente que vai zuar do seu trabalho, não vai valorizar, mas é assim que a coisas funcionam. Na ilustração, o tempo é precioso, estudar é precioso, ouvir críticas construtivas é precioso. Então agarrem tudo isso e vão destruir o mundo.
Ah, outra coisa, Dom não existe não hein?

Para acompanhar o trabalho do Sapo Lendário:

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Admiradora de tudo que envolve arte, cultura (especialmente a japonesa) e filosofia. Mãe de dois gatos, feminista e vegetariana. Em seu tempo livre descobre bandas inexploradas, fotografa e tenta desvendar a personalidade MBTI alheia (é INFP, por sinal). Considera The Office o ápice da humanidade.
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