Já imaginou você, compositora sem muita habilidade para cantar, poder lançar sua música usando um cantor virtual? Logo vem à mente o Vocaloid e Miku Hatsune, do qual você dá aquela pesquisada no preço e bate um certo desânimo? Seus problemas acabaram, pois há uma opção acessível; e melhor: você pode criar um banco de voz com sua voz e você cantar, de algum modo. O UTAU segue o mesmo principio básico do Vocaloid, pois você cria em uma planilha baseada em notas cifradas de piano e coloca os fonemas. Mas, ao contrário de seu “primo” rico, o UTAU nem sempre soa mais realista com a mesma facilidade que o Vocaloid, porém com com esforço e métodos de gravação mais naturais é possível fazer músicas maravilhosas com qualidade.
O Programa UTAU
Lançado em 2008 por um japonês sem identificação de seu gênero, conhecido por Ameya/Ayame, o software foi construído em cima do pacote da família C e Visual Basic, totalmente em sua casa, junto do banco padrão chamado de Defoko ou Utane Uta.
Mas o programa bombou mesmo foi quando surgiu Teto Kasane. Apresentada como uma piadinha de primeiro de abril como uma nova vocaloid, tempos depois com seu banco de voz para o UTAU sendo apresentado, junto da explicação da brincadeirinha.
A partir daí o fandom foi crescendo, criando novos bancos, sistemas de gravação e avatares, incluindo bancos para as mais diversas línguas, incluindo o português. Também é possível usar bancos de UTAU em outros programas como o Cadencii (que permite algumas funcionalidades extras como várias faixas e integrar com bancos de Vocaloid) e converter para o uso do NiaoNiao (software chinês com a mesma funcionalidade).
Flexibilidade do Uso
Uma das características notáveis do programa é justamente a possibilidade de se criar seu próprio banco de voz – com a sua voz, mesmo que você não saiba cantar, com vários métodos e em várias linguagens.
Até 2013, estima-se que havia mais de 2000 bancos de vozes pelo mundo e em torno de quase 100 mil usuários, trabalhando de forma colaborativa ao desenvolver métodos de gravação e outras melhorias, como plug-ins auxiliares. O método mais básico e bem iniciante é o banco japonês com método de gravação consoante-vogal (CV), pois possui fonemas mais simples e uma conexão mais seca.
Existem outros métodos, como VCV (Vogal-Consoante-Vogal), com uma transição mais suave entre as notas pelas vogais e o CV-VC (Consoante-Vogal, Vogal Consoante), sendo esse o método no qual o banco em português melhor soa, mas o uso é mais complicado e exige mais atenção. Os arquivos são salvos na extensão “ust”, com as planilhas de notas e configurações.
Além disso é possível usar “genderbending”, alterando o pitch nas configurações da ust, aumentando a versatilidade do banco em uso. Já os bancos de vozes são compostos de arquivos wav, separados por fonemas que serão “convocados” pelas notas digitadas e formatadas para que soem melodiosamente através de um caminho criado por um mini programinha chamado “oto.ini”, configurado pelo próprio UTAU e o usuário.
Ao terminar as configurações, o UTAU renderiza em um arquivo sem outros efeitos também em wav, onde em um programa de edição de som (como Audacity ou Reaper, por exemplo) será finalizado. Há banco chamados de “multipitch”, onde há bancos secundários para outros tons, como o banco KIRE do utau Ritsu Namine, que possui uma versão gritada que é “ativada” ao atingir uma nota mais alta, dando certa emoção ao cantar. Você pode conferir esse banco no vídeo abaixo:
Antes de utilizar um banco de voz é bom dar uma olhada nas regras de uso, pois alguns temas em músicas e uso de imagem dos avatares são vetados, como também o uso para produtos monetizados.
Leia Também:
[SOFTWARE] MikuMikuDance: Você pode criar um Anime… Sem ser uma profissional!
[SOFTWARE] Ren’Py: Crie Visual Novels sem ser expert em programação
[GAMES] Jogos MMOSG: O que são e como esses jogos ajudam pessoas
UTAU na prática em mídia
Vocês se lembram do meme NyanNyanNyan? A música original era com a Vocaloid Miku Hatsune, porém a versão que ficou famosa foi com a UTAUloid Momo Momone.
No Japão, a marca de desodorantes para ambientes KALMOR criou um banco de voz da personificação de seu produto, a Deo:Fairy Nol. Com o banco foi lançado na época também um CD com músicas originais. Os avatares dos bancos de vozes são em vários tipos e estilos, incluindo personalidade, aparência, raças e sexualidade. Ritsu Namine é descrito como um crossdresser, por exemplo, representando bandeiras.
Assim como o Vocaloid, o UTAU também se mescla com outras mídias, como o MMD, incluindo no próprio fandom brasileiro.
O UTAU no Brasil
A história se inicia quando dois projetos corriam em paralelo, um por um usuário desconhecido e outro por Aline M., porém apenas essa seguiu até o final, lançando em meados de 2009 a primeira UTAUloid brasileira, Aline Enbukyoku. Aline tem uma certa aceitação no fandom fora do país, provavelmente por ser a primeira brasileira.
Atualmente, bancos de vozes feitos por brasileiros contam com mais de 80, entre variações de tons ou atualizações, incluindo bancos para outras línguas, como nossa própria língua materna, cujo primeiro foi Edpoid, na formatação CV-VC. Se seguiram então Leo Kyoranne, Pururu e Mainichi no Uta, cada um com acentos característicos de suas regiões (Sul, Sudeste e Centro-Oeste, respectivamente), mas sendo possível emular sotaques de outras regiões.
Entre eles a mascote do fansite brasileiro de vocaloid, a Viibe, representando o espírito do site. O avatar base foi escolhido através de concurso entre leitores.
O termo que designa os bancos feitos aqui é “BRloids”. Entre BRloids, também temos exemplos de representatividade, como Sanae-chan (crossdresser) e Yoshiro Hiwatari (gay). A comunidade continua ativa, ainda que de forma mais tímida que em seu auge, que ocorreu em torno de 2012-2013.
O fandom brasileiro também abraçou o fandom de Portugal, por haver poucos usuários no país lusitano e por terem iniciado após o nosso. A nossa língua em comum facilitou bastante a troca. Entre alguns “PTloids” estão Desune Moralix e Myu Karime. Essa interação ainda ocorre bastante nos grupos de Facebook e antes ocorria, em especial, nos fóruns.