[QUADRINHOS] Love & Rockets: Protagonismo feminino e muito Punk Rock!

[QUADRINHOS] Love & Rockets: Protagonismo feminino e muito Punk Rock!

Love & Rockets é uma série de quadrinhos lançada nos anos 80 e considerada uma das melhores HQs de todos os tempos. A série é dividida em dois núcleos de histórias: Lôcas e Palomar. Em Lôcas acompanhamos as histórias das amigas Maggie e Hopey no reduto mexicano Hoppers 13 em uma Los Angeles dos anos 1980. Já em Palomar conhecemos as histórias dos moradores do fictício vilarejo de mesmo nome, perdido em algum lugar da América Latina.

Os quadrinhos são produzidos pelos irmãos Gilbert e Jaime Hernandez, com a participação de seu irmão Mario em algumas histórias. Tudo começou quando os irmãos produziam uma revista no começo dos anos 1980, chamada “Love&Rockets”. Eles resolveram mandar a revista para a editora Fantagraphics de brincadeira, achando que ninguém iria querer publicar aquilo, e a brincadeira rendeu um convite para lançarem as histórias pela editora, que até hoje publica a série.

Hoje vamos falar do núcleo das Lôcas, escrita por Jaime Hernandez e que conta as desventuras das melhores amigas e amantes Maggie e Hopey. Aqui no Brasil essa série já foi publicada em 1991, mas as edições mais recentes foram lançadas pela Gal Editora, divididas em dois volumes: Lôcas: Maggie, a Mecânica (2012) e Lôcas: As Mulheres Perdidas (2014). A Gal Editora ficou de lançar mais volumes da série, mas de lá pra cá não saiu nada de novo.

“Enquanto os foguetes nessas histórias parecem nunca funcionar e o amor apenas ocasionalmente, as histórias em si funcionam à perfeição.” – Alan Moore, autor de Watchmen, V de Vingança e A Liga Extraordinária

Em Lôcas acompanhamos a personagem Margarita Luisa “Maggie” Chascarrillo no auge dos seus dezoito anos. Ela trabalha como mecânica prosolar e divide a casa com a sua melhor amiga Esperanza “Hopey” Leticia Glass, baixista de uma banda punk.

As duas dividem as histórias com outras personagens femininas tão ricas e interessantes quanto elas. Como Beatriz “Penny Century” Garcia, que sonha em ser uma super-heroína e combater crime. Além das amigas da dupla, Isabel “Izzy” Ruebens e Daphne “Daffy” Matsumoto. E também Rena Titañon, campeã de luta livre e tia de Maggie.

Love & Rockets

Maggie passa o seu tempo consertando foguetes, correndo atrás dos crushs da vida, indo a shows de punk e convivendo com super-heróis enquanto divide a vida com a sua melhor amiga Hopey, que fica por aí pichando muros e tocando com a sua banda na noite.

No primeiro volume da edição americana a capa mostra uma mulher cansada e de roupão ao lado de várias super-heroínas prontas para o combate, demonstrando que até as super-heroínas precisam de um descanso. E esse é um dos grandes méritos dessa série, as mulheres dos irmãos Hernandez são personagens femininas reais. Elas engordam, envelhecem, cortam o cabelo, trabalham, sofrem por amor, tem crises existenciais e ainda arranjam tempo para tocar em uma banda punk.

Love & Rockets

Sem falar que a sexualidade das personagens é algo fluido e natural. Nos dois volumes recentes vemos Maggie, que é bissexual, correndo atrás do mecânico galã Rand Race, mas sempre fica no ar se ela e Hopey também são namoradas (o que se confirma nos outros volumes).

Também temos Penny Century que, apesar de independente, tem um caso com um empresário literalmente chifrudo e transa com outros caras também. Sem falar que os autores escreviam isso nos anos 1980, muito antes das discussões que nós temos atualmente.

“O autor entende tanto de menstruação quanto de sexo, rock and roll… E foguetes!” – Antero Leivas, prefácio Lôcas: Maggie, a Mecânica

Love & Rockets

No universo dos quadrinhos são poucos os autores homens que conseguem criar personagens femininas tão ricas e diversas, cheias de questões e desejos. Aliás, diversidade é com eles mesmo: as histórias das Lôcas se passam no reduto mexicano de Los Angeles e junto com as protagonistas, que são latinas, conhecemos a cena punk mexicana dos anos 1980. Os irmãos Hernandez, autores da série, tinham uma banda punk chamada “Nature Boy” e a presença do punk na vida deles foi uma forte influência nas histórias.

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Lôcas consegue colocar o protagonismo feminino em evidência de uma forma muito interessante, tratando as personagens de forma honesta e até engraçada. Elas não são deusas inalcançáveis, são mulheres normais. Elas têm os seus problemas, tem que pagar as contas e acordar cedo, assim como eu e você. Se não fosse pelos foguetes e dinossauros que de vez em quando aparecem nas histórias, Maggie e Hopey poderiam facilmente trombar conosco na rua.

Não tem como não se apaixonar por essa série tão densa e divertida, mesmo se você não gostar muito de quadrinhos. Se eu fosse você daria um jeito de ler essa HQ maravilhosa!


Texto originalmente publicado em Sopa Alternativa

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Formada em artes visuais e apaixonada por arte, música, livros e HQs. Atualmente pesquisa sobre mulheres negras no rock. Seu site é o Sopa Alternativa.
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