Escrito pela americana Meredith Russo e publicado pela Editora Intrínseca aqui no Brasil, “Apenas uma Garota“ é um livro que conta a história de Amanda, uma menina adolescente que acaba de se mudar de cidade e deve recomeçar em uma nova escola. A princípio a trama pode parecer simples, e até mesmo clichê, se não fosse pelo fato de Amanda não ser igual a maior parte das protagonistas femininas da sua idade: ela é uma adolescente trans, e apesar de desejarmos viver em um mundo onde isso não faz diferença alguma para a história, sabemos que essa ainda não é a nossa realidade.
Representatividade trans em “Apenas Uma Garota”
É verdade que nos últimos anos, séries, filmes e reality shows estão cada vez mais abordando temas ligados à identidade de gênero e sexualidade, apresentado diversos personagens que se identificam como lésbicas, gays, bissexuais e transexuais (pense em Orange is the new black, Transparent e tantas outras). Entretanto, a maior parte dessa representatividade (que pode e deve ser sempre criticada) ainda pode ser encontrada apenas em alguns programas, enquanto a literatura continua, em sua maioria, seguindo os mesmos padrões. E, é nesse cenário que “Apenas uma Garota“ surge como um livro que, apesar de ter uma história simples como qualquer outro Young Adult, consegue fugir dos padrões e ser extremamente relevante, principalmente em um dos países que mais mata pessoas trans do mundo.
O livro começa com a protagonista começando o último ano do ensino médio em uma nova escola, na cidade em que seu pai mora. Lá, Amanda irá viver em um local onde ninguém conhece o seu passado, podendo ser vista como realmente é ao invés de ser julgada e atacada pelos seus colegas. Logo de início já conhecemos um grupo de meninas que passam a ser suas amigas e o seu futuro par romântico, um jogador de futebol americano chamado Grant, e junto com a protagonista vamos acompanhando o desenvolvimento de todos esses novos relacionamentos.
Assim, a história de “Apenas uma Garota” passa a mostrar acontecimentos normais da vida de qualquer adolescente, se focando nas suas amizades e no seu primeiro amor. Mas, o livro também intercala esses momentos com capítulos de flashbacks da vida de Amanda antes e durante a sua transição, mostrando a dificuldade que é se envolver com as pessoas ao mesmo tempo em que não podemos ser completamente honestos sobre o nosso passado. Afinal, como é possível se entregar a um verdadeiro amor se a outra pessoa não nos conhece por completo?
Além dessa questão, o livro também aborda outros temas, como a descoberta da sexualidade, o fundamentalismo religioso, o suicídio e o relacionamento entre pais e filhos, se destacando por apresentar personagens complexos que fogem dos estereótipos do famoso high school americano.
Portanto, além de ser uma obra importante pela sua representatividade trans e o seu retrato da LGBTfobia, “Apenas uma Garota“ é também um livro sobre os dramas da adolescência, com os quais qualquer um pode se relacionar.
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Por que precisamos conhecer histórias diferentes?
A literatura sempre foi uma forte ferramenta para desenvolver a empatia; com ela é possível aumentar a nossa capacidade de detectar e entender as emoções de outras pessoas. Dessa forma, quando o leitor se coloca no local de uma personagem como Amanda, mesmo que ele nunca nem tenha ouvido o termo “transgênero” na sua vida, ele passa a compreender melhor as dificuldades que essa minoria passa.
Ao mesmo tempo, “Apenas uma Garota” consegue acolher e representar pessoas que raramente se vêem como protagonistas de histórias adolescentes, mostrando a importância de termos histórias e autores diversos sendo publicados. E assim, Meredith Russo também deixa claro que não pretende falar por todas as pessoas trans com a sua história, sendo apenas uma de muitas escritoras que falam sobre essa realidade, segundo a autora:
“Não tem problema se você for diferente da Amanda. Ela não é real, você é. Passei quase duas décadas tentando me convencer de que eu não era algo que sabia que era porque não me encaixava em um modelo muito específico – e nocivo – que a sociedade estabelece para pessoas transgênero, e pode acreditar quando eu digo que a história da minha vida é totalmente diferente da de Amanda.”
Apenas uma Garota
Autora: Meredith Russo
235 páginas
Este livro foi cedido pela editora para resenha