[SÉRIES] Game of Thrones – 7×06: Beyond the Wall (Resenha)

[SÉRIES] Game of Thrones – 7×06: Beyond the Wall (Resenha)

Após as turbulências causadas pelo vazamento de roteiros e liberação antecipada de episódios, chega ao ar o penúltimo episódio da penúltima temporada de Game of Thrones. O episódio intitulado Beyond the Wall foca, sobretudo, em Winterfell e além da muralha, e dá continuidade à jornada do grupo que parte na tentativa de capturar um caminhante branco.

No último episódio, Jon Snow (Kit Harrington) e conhecidos personagens da série atravessaram a muralha para capturar um caminhante branco e provar às duas grandes rainhas de Westeros que havia uma batalha maior. E é desta narrativa que o sexto episódio se inicia. Enfrentando as condições desfavoráveis do frio intenso, o grupo composto exclusivamente por homens chega ao encontro da prova viva do inimigo.

Game of Thrones - 7x06

Como um grupo consideravelmente menor consegue escapar de um exército de mortos-vivos? A crença no deus da Irmandade Sem Bandeiras parece fazer diferença, e leva o grupo a uma interessante reflexão sobre as entidades em que se acreditam. Deuses, homens, rainhas. Ainda assim, talvez nada disso adiantasse diante do poderio do inimigo.

Embora tenham conseguido a proeza de capturar um caminhante branco, chegar à muralha parece ser impossível, uma vez que são cercados pelo exército comandado pelo Rei da Noite. Jon Snow, então, manda que Gendry (Joe Dempsie) parta sozinho para a muralha em busca dos reforços de Daenerys (Emilia Clarke), a qual se encontra em Pedra do Dragão à espera do chamado.

Romantização da personagem feminina poderosa

Era de se esperar que a rainha estaria pacientemente sentada conversando com sua mão, Tyrion (Peter Dinklage), sobre seus interesses românticos e os esforços deles em se tornarem heróis. Não deixa de ser mais um prova de que, a todo custo, tenta-se uma romantização de uma personagem poderosa. Daenerys poderia ser uma rainha sem precedentes, mas a narrativa sempre a coloca no caminho de um par romântico masculino, seja na antiga romantização de seu casamento com Khal Drogo (Jason Momoa), seja na recente romantização de seu relacionamento com Jon Snow.

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Sua conversa com Tyrion também aborda a questão da sucessão de seu trono, uma ressurreição de seus conflitos com a maternidade – ela se torna estéril na primeira temporada – e com o poder, de modo geral. Ao mesmo tempo em que Daenerys parece ser sempre assombrada pela impossibilidade de gerar herdeiros, ressurge o problema de sua ambição como prelúdio de uma insanidade. E diante desse cenário, ela se recusa a conversar sobre quem herdará o trono, no caso de sua morte.

Obstinada, ignora os apelos de Tyrion para que não se arrisque indo até o norte da muralha. E sua aparição é a sorte do grupo de Jon Snow. Todavia, a mãe dos dragões paga o alto preço de perder um de seus “filhos” para o exército da noite. E ainda que, sempre que possível, ela se refira aos dragões como seus filhos e maiores bens, diante da impossibilidade de gerar uma prole, a direção de cena parece mostrar dor maior pelo risco da morte de Jon Snow.

Quando Daenerys aparece para resgatar o grupo, Jon Snow não consegue partir em conjunto, para garantir um espaço entre o exército da noite e o dragão montado por Daenerys. Posteriormente, acaba sendo salvo por seu tio Benjen, que se sacrifica por ele, e consegue chegar à muralha. Em sua partida junto a Daenerys e os demais sobreviventes, finalmente declara seu apoio à rainha.

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A tão aguardada cena do “bend the knee” (“ajoelhe-se”) deixa a desejar, na medida em que busca a romantização através da insegurança de uma personagem, que nos demais momentos nunca questiona sua capacidade. Ao mesmo tempo que a série coloca Daenerys como uma rainha ambiciosa e até arrogante, a descreve em cena com Jon Snow como insegura.

A construção da insegurança de Daenerys

Quando Jon Snow declara seu apoio, Daenerys responde que espera merecer o apoio, ao que ele fala que ela merece. Por que a insegurança da personagem deve aparecer no momento de desenvolvimento amoroso? Não haveria outros modos de construir a relação ou de demonstrar a vulnerabilidade da personagem? A desculpa de que a construção humanizada da personagem é um requisito para a construção de um relacionamento “verdadeiro”, não exclui o fato de que as mulheres são constantemente inferiorizadas pelas produções para a construção de um clichê romântico.

Do mesmo modo que a caracterização de Daenerys, também se deve questionar a caracterização das demais personagens femininas com destaque no episódio, quais sejam Arya (Maisie Williams) e Sansa (Sophie Turner). Os conflitos entre as irmãs Stark se intensificam após a descoberta do pergaminho, escrito por Sansa ainda na primeira temporada.

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Arya não consegue confiar na irmã, que ainda enxerga como fútil e ambiciosa. Em suas palavras, enquanto Sansa queria ser rainha e se sentar ao lado de um belo rei, ela queria pegar a espada e se tornar uma cavaleira. Tampouco perde a oportunidade de confrontá-la. A Stark mais nova alega que a mais velha nada teria feito para salvar a vida do pai, senão apoiar seus assassinos. Em contraposição, Sansa recorda que também nada foi feito por parte da mais nova.

Sansa, marionete de personagem masculino

Todos os esforços dos fãs em tentar enxergar uma Sansa mais forte e independente acabam parecendo vagas esperanças de quem deseja um destino diferente. A todo instante sua crença nas palavras de Littlefinger (Aidan Gillen) é novamente levantada, seja por Arya ou por Brienne (Gwendoline Christie), mesmo após todas as demonstrações de sua falta de confiança. E por mais que a produção se esforce em tentar mostrar uma personagem atuante no jogo político, peca ao desenvolvê-la como uma marionete de um personagem masculino.

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Conclusão

O episódio é conflituoso, pois traz diversas problematizações, tais como a romantização em detrimento da construção feminina e a competitividade entre mulheres, ao mesmo tempo em que traz elementos de entretenimento impactantes, como as batalhas e os elementos de relevância à mitologia da série. No final, por exemplo, há Sansa descobrindo as faces de Arya, e o Rei da Noite ressuscitando um dos dragões de Daenerys. Mas será que o entretenimento compensa tantos clichês? Mais importante do que isto, será que ao fim da temporada pelos menos algumas dessas problematizações conseguirão ser contornadas?

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Mestra em Teoria e História do Direito e redatora de conteúdo jurídico. Escritora de gaveta. Feminista. Sarcástica por natureza. Crítica por educação. Amante de livros, filmes, séries e tudo o que possa ser convertido em uma grande análise e reflexão.
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