[SÉRIES] Gypsy: Por mais séries criadas, protagonizadas e dirigidas por mulheres!

[SÉRIES] Gypsy: Por mais séries criadas, protagonizadas e dirigidas por mulheres!

Gypsy, uma série considerada um drama psicosexual, estrelada por Naomi Watts, conta a história da psicóloga, Jean Holloway, que vive em Nova York com sua vida estável familiar. Insatisfeita com o pouco desenvolvimento de seus pacientes, inicia uma jornada antiética ao influenciar suas vidas através da interação com seus conhecidos, usando de uma outra identidade. Aos poucos, as motivações por trás de suas atitudes mostram uma profunda insatisfação com a sua própria vida, e desencadeiam conflitos dentro de sua família e o choque dessas duas identidades paralelas. Inspirada na canção nostálgica de Fletwood Mac – que deu o nome à série – Jean mostra-se uma figura em busca da liberdade que antes possuía e que pretende de alguma forma resgatar.

A série produzida pela Netflix que estreou no final de Junho, não teve muita visibilidade nas resenhas brasileiras, e são poucas as críticas lá fora que se aprofundaram no que mais deveria chamar a atenção na série: a forma diferenciada que a figura feminina é retratada, ao quebrar visões moralistas em que a sociedade está inserida. Sendo protagonizada por uma mulher, e tendo a maioria das personagens mulheres, a série apresenta diferentes lados dessa feminilidade, evidenciando a figura feminina, suas motivações e convicções, dentro da atualidade. O que para o mercado audiovisual ainda é um diferencial, mas que vem se modificando conforme séries e filmes com essas visões vão tomando parte.

A série foi criada por Lisa Rubin, uma jovem que fez seu mestrado em Roteiro na Universidade Columbia, em Nova York, e se mudou em 2013 para Los Angeles. Ficou famosa na faculdade por escrever cenas muito boas de sexo, trazendo essa sexualidade para a série.

Ao tentar vender suas ideias, os grandes produtores queriam modificar sua inclinação indie para um teor mais comercial, algo que ela negou fielmente, até que chegou a Netflix, que foi muito mais aberta com suas visões.

Rubin achava importante que grande parte da equipe fosse composta por mulheres, e principalmente, que a série fosse dirigida por uma. Algo que a Netflix apoiou, tendo Sam Taylor-Johnson (diretora de Cinquenta Tons de Cinza) dirigindo os dois primeiros episódios da série, além de produzi-la.

Gypsy

As motivações por trás de suas atitudes é o que instiga o espectador à série. Tentar entender suas intenções e onde ela quer chegar ao interagir com amigos e familiares de seus próprios pacientes, é o mistério que vai se aprofundando conforme mostra as questões e os acontecimentos na vida da protagonista. É quase como se o espectador se tornasse aquele que tenta analisar a própria terapeuta, e isso é algo realmente interessante para se buscar a complexidade da personagem.

Jean vive uma vida onde sente que não se encaixa, e esse sentimento de não pertencer vai se intensificando até que essa nova identidade criada, ao se envolver na vida de seus pacientes, passa a ser aquela identidade que ela gostaria de ser.

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Uma das coisas interessantes que refletem isso é ela mesmo casada e com uma filha, tendo sua casa em Connecticut, ainda mantém o seu antigo apartamento em Manhattan, como uma espécie de lembrança para aquela vida antiga e sem amarras que ela tinha antes de se casar.

Da mesma forma que os problemas familiares que Jean tem que lidar acabam por sufocar suas próprias questões. Sua filha começa a demonstrar uma inclinação por se identificar com o masculino, e isso faz com que ela sofra certos preconceitos na escola, uma questão que se desenvolve sutilmente, e que poderia refletir com seus próprios conflitos internos.

Ao mesmo tempo que seu marido, Michael Holloway (Billy Crudup), começa a profundar uma relação com sua secretaria, Alexis (Melanie Liburd), motivo este de algumas brigas, que leva a abordar as questões de confiança entre o casal, e os desejos internos de Jean por uma vida de liberdade que não possui mais.

Simultaneamente, Jean se envolve com a ex-namorada de um de seus pacientes, Sidney Pierce (Sophie Cookson), uma jovem que acaba por se apaixonar por Jean, mas questiona a história falsa que ela vai criando sobre sua identidade, e acaba por investigá-la mais a fundo, o que aos poucos vai fazendo com que suas duas vidas paralelas entrem em choque. Toda essa crise de identidade que é abordada evidencia pistas para a compreensão de quem é Jean Holloway, e pelo que ela passou.

Gypsy

Por mais que sejam conflitos tradicionais, a dramatização da série segue uma linha muito diferenciada. Jean se torna uma personagem muito obscura, com segredos que são revelados e fazem com que se crie um entendimento sobre suas motivações, mas ainda assim há muito para explorar. Mesmo os personagens secundários têm uma profundidade que complementa as questões da série, o que a deixa interessante do início ao fim.

Lisa Rubin procurou criar personagens femininas que fossem tridimensionais, quebrando arquétipos que os filmes e séries estão cansados de apresentar, onde a personagem feminina é a figura correta, que deve ser perfeita, que não sofre de questões, enquanto os masculinos são aqueles que traem, aqueles imorais, cujo seus conflitos internos estão sempre em foco.

Essa troca de papeis é muito importante, pois coloca a figura feminina com dimensões reais, como seres humanos sujeitos a falhas e desejos. E são desses desejos ocultos, que a série vai acumulando sua gama de intensidade e desencadeando seus conflitos.

Gypsy

É muito importante que produtos como esse cresçam no mercado, séries e filmes que coloquem a mulher como aquela que guia a história, que apresente personagens secundárias que são tão profundas quanto a própria protagonista, e que principalmente, fujam dos estereótipos femininos tradicionais.

Ter mulheres por trás dessa criação, contando essas histórias, faz com que toda uma visão do feminino seja criada de forma mais realista e coerente. O próprio público anseia por histórias verdadeiras sobre mulheres, e seus diversos conflitos. Quebrar com os tradicionais pontos de vista masculino sobre a figura feminina, que já estão saturados e pobres, é trazer uma visão extremamente mais tangível do que é ser mulher.

https://www.youtube.com/watch?v=y67_16zSMwk

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Geminiana introspectiva, excessivamente ar, tagarela mental. Formada em Cinema, tradutora nas horas vagas, futura roteirista. Filmes para refletir, animações para sonhar, séries para respirar. Não nego qualquer fonte de inspiração, ler de tudo faz parte da minha vida. Acho que o que falta na sociedade é a empatia, por isso fico em devaneios pra tentar achar uma forma para ajudar. Escrever foi a minha única solução.
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