Hilda e o Gigante, continuação de Hilda e o Troll, narra mais um episódio na vida da pequena Hilda, uma garotinha de cabelos azuis que mora com a mãe em um vilarejo cercado por criaturas fantásticas. O quadrinho, que utiliza muito as sutilezas dos traços de Luke Pearson para comover e instigar as leitoras, é um prato cheio para quem gosta de realismo fantástico e uma boa dose de aventuras.
A trama se desenrola na casa de Hilda, onde diversas cartas minúsculas começam a aparecer. Essas cartas exigem que mãe e filha se mudem imediatamente, sob ameaça de terríveis consequências de uma invasão iminente.
Sem saber ao certo quem enviou as cartas, elas as relacionam a um “povo invisível”. Logo descobrem que se tratam de pequenos elfos. Numa noite, enquanto dormem no sofá, a casa de Hilda é apedrejada e invadida. Antes de dormir, Hilda recebe a visita de um desses elfos em busca de um acordo de paz.
A casa de Hilda foi construída por seus antepassados no meio de um condado de elfos que, na maior parte do tempo, permanecem invisíveis aos olhos humanos. Hilda e sua mãe caminhavam diariamente entre as pequenas casas dos elfos e eram vistas como gigantes ameaçadores por esse povo encantado.
Hilda, então, é convidada a conversar com o prefeito da cidade dos elfos, a fim de entrarem em um acordo quanto à sua estadia no vilarejo em que crescera, o qual indica que a solução para seu caso tem como preço uma aventura além das montanhas (e Hilda não nega uma boa aventura).
Paralelo a isso, outro evento muito estranho vem acontecendo: por duas noites, Hilda avista pela janela de seu quarto uma gigante criatura olhando para sua casa. Quando chama mãe para contar o acontecido, o gigante desaparece, deixando a menina curiosa por saber quem ele é.
As duas problemáticas (estadia no condado dos elfos versus aparição misteriosa do gigante) dialogam muito entre si, quando pensamos nas relações sociais que travamos no dia a dia. De um lado, vemos Hilda e a mãe levarem uma vida pacata, aparentemente não incomodando a ninguém. Do outro, os elfos também levam suas vidas, mas se sentem ameaçados por Hilda e procuram atacá-la. E, fechando o “triângulo das convivências”, o gigante ameaçador igualmente possui uma história e um objetivo a ser alcançado, o qual mais para frente é relatado no quadrinho.
Os três núcleos enxergam-se como estranhos e ameaçados, sem que se desse ao outro o benefício do esclarecimento. Ao invés de dialogarem, passam a julgar uns aos outros e, no caso dos elfos, até mesmo a invadir conscientemente o espaço de Hilda para atacarem sua moradia.
A importância de Hilda e o Gigante parte do princípio de que, uma vez incomodadas com a atitude de outra pessoa, o diálogo é a melhor das alternativas – e, felizmente no quadrinho, a solução para todos os problemas. O outro, que muitas vezes pode parecer hostil à primeira vista, pode se tornar um aliado e tanto nas resoluções de conflitos de todos os tipos.
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Hilda e o Gigante possui linguagem leve e cômica, por vezes gerando o riso da leitora, seja pelas linguagens verbais ou não verbais, as quais são muito vívidas, resultando em panoramas belíssimos. Hilda é uma garota determinada e não mede esforços, muito menos é impedida de partir para a ação e resolver seu problema e o do gigante.
Indicada para crianças, adolescentes e adultos que enxergam na fantasia uma gigante alegoria para os diversos acontecimentos da realidade, Hilda e o Gigante deixa uma lembrança boa e um eco de contos de fadas delicioso ao final da leitura.
Hilda e o Gigante
Luke Pearson
44 páginas