[MOSTRA DE SP] Balanço do Dia: “Vênus”, “Três Anúncios para um Crime” e “Lucky”

[MOSTRA DE SP] Balanço do Dia: “Vênus”, “Três Anúncios para um Crime” e “Lucky”

O Balanço do Dia do Delirium Nerd na 41ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo conta com dois longas-metragens de ficção premiados em Festivais Internacionais e um documentário inusitado. São eles: Vênus, dirigido pelas dinamarquesas Lea Glob e Mette Carla Albrechtsen, e os americanos Três anúncios para um crime de Martin Macdonagh e Lucky, dirigido por John Carroll Lynch.

Balanço do Dia
Vênus, de Lea Glob e Mette Carla Albrechtsen

Vênus (Venus – naked female confessions) é um documentário dirigido pelas dinamarquesas Lea Glob e Mette Carla Albrechtsen que pretende investigar os desejos sexuais de mulheres nórdicas. Trata-se de um documentário sem qualquer inovação em termos formais. O cenário resume-se a uma sala com uma cadeira no centro, onde uma por uma as entrevistadas entram e sentam-se para contar seus relatos. Não há qualquer interação entre as documentadas. O ambiente é completamente estéril, mas os relatos são extremamente interessantes. Infelizmente a falta de cenas de transição e o formato quase jornalístico prejudicam a absorção de depoimentos tão potentes, uma vez que o ritmo e a montagem não ousam quebrar a linguagem.

Talvez esta opção das diretoras relacione-se ao fato de ser tão complicado mulheres conseguirem falar abertamente sobre sua sexualidade. Para realizar esse filme, em torno de cem mulheres responderam ao chamado para o teste que informava apenas tratar-se de um filme erótico. Porém, os relatos foram bastante corajosos ao mesmo tempo em que deixavam transbordar uma imensa vulnerabilidade de cada uma das entrevistas.

O filme funciona, portanto, infelizmente, apenas na chave de uma investigação da sexualidade de mulheres dos países nórdicos, sem aprofundar-se no tema. Vale registrar que Lea Glob codirigiu o premiado Olmo e A Gaivota com Petra Costa, sendo este seu segundo longa-metragem.

Balanço do Dia
Três anúncios para um crime, de Martin Macdonagh

Três anúncios para um crime é o terceiro longa-metragem do inglês Martin Macdonagh, que também dirigiu Na Mira do Chefe (2008) e Sete Psicopatas e um Shih Tzu (2012). Macdonagh é um diretor que costuma trabalhar na chave das personagens errantes, medíocres e sem pudores. Neste filme não é diferente. Mildred Hayes (Frances McDormand) é uma mulher interiorana, separada do marido, que pretende a qualquer custo desvendar o assassinato de sua filha. Após 7 meses de investigação frustrada ela decide colocar três anúncios (outdoor) no local do crime chamando a atenção para o fato do caso ainda estar em aberto.

Diversos personagens canastrões vão sendo adicionados à trama. Como não poderia deixar de ser Woody Harrelson encarna o delegado e está ótimo em cena. Mas todo o destaque vai para a personagem e atuação de Frances McDormand, na figura da mãe justiceira. O suspense da investigação dá lugar à galhofa, já que tratam-se de caricaturas de estereótipos dos tipos mais comuns em filmes do gênero western.

A trilha corrobora para a atmosfera de atualização deste faroeste fanfarrão. O excesso de “Deus Ex-Machina” prejudica bastante o ritmo do roteiro que acaba sendo compensado na montagem. Talvez, se tudo não estivesse tão encaixadinho para culminar no clímax pretendido, poderia ter melhor rendimento. Nem mesmo o desfecho espirituoso, que coloca novamente em xeque a personalidade dos personagens, consegue salvar o filme. Apesar de todos os problemas que o longa-metragem apresenta, sagrou-se o vencedor do prêmio Osella de Ouro de melhor roteiro no Festival de Veneza.

Balanço do Dia
Lucky, de John Carroll Lynch

Lucky é o primeiro longa-metragem dirigido pelo americano John Carroll Lynch, mais conhecido por seu trabalho como ator em Fargo, uma cómedia de erros (1996), Zodíaco (2007) e Ilha do Medo (2010).

Lucky (Harry Dean Stanton) é um homem de 90 anos, ateu, solteiro, que passa os dias fazendo palavras-cruzadas e perambulando pelos bares de uma cidade desértica onde vive. O filme consiste em acompanhar sua rotina. Pelo caminho, o roteiro vai apresentando diversos personagens que com ele interagem, rendendo bons diálogos sobre a finitude das coisas e da vida.

Para delírio da plateia David Lynch faz algumas aparições, rendendo uma das cenas mais interessantes do filme, pois remete ao seu famoso club silencio de Cidade dos Sonhos (2001), mas que é desperdiçada, pois o diretor não envereda por este caminho. O que é uma pena, pois poderia ter sido a grande virada do roteiro.

É um filme de esquetes e encontros em que privilegia-se o carisma do personagem principal que, com a idade avançada, se permite um pouco de tudo. Apesar dos diálogos esquemáticos, um roteiro maniqueísta que visa a fácil empatia com o protagonista, sem contudo conferir-lhe grande densidade, o filme sagrou-se vencedor do Prêmio do Júri Ecumênico no Festival de Locarno.

Para ver os horários de exibição dos filmes, acesse o site da Mostra.

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Aquariana, mora no Rio de Janeiro, graduada em Ciências Sociais e em Direito, com mestrado em Sociologia e Antropologia pelo PPGSA/UFRJ, curadora do Cineclube Delas, colaboradora do Podcast Feito por Elas, integrante da #partidA e das Elviras - Coletivo de Mulheres Críticas de Cinema. Obcecada por filmes e livros, ainda consegue ver séries de TV e peças teatrais nas horas vagas.
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