[LIVROS] Marcia Tiburi reinaugura o selo Rosa dos Tempos e reafirma o empoderamento através da união

[LIVROS] Marcia Tiburi reinaugura o selo Rosa dos Tempos e reafirma o empoderamento através da união

Estamos em pleno 2018 e as mulheres ainda têm medo de se assumirem feministas. No entanto, ao mesmo tempo, o feminismo ganhou força e remodelagem dentro da era digital, abrindo diálogo para assuntos que as feministas históricas vinham construindo há anos, mas que eram muitas vezes desconhecidos ou negligenciados pela “nova geração”. Se enquanto indivíduo, assumir que o feminismo é empoderador, enquanto instituição, como é o caso do Grupo Editorial Record, retomar a proposta editorial feminista da Rosa dos Tempos¹ é um posicionamento corajoso e necessário diante de tempos sombrios e de retrocessos nos quais nos encontramos, e nada mais coerente do que reinaugurar o selo com um livro (Feminismo em Comum, de Marcia Tiburi) que se propõe a dialogar com as diversas vertentes do feminismo.

FEMINISMO EM COMUM: PARA TODAS, TODES E TODOS

O feminismo nos leva à luta por direitos de todas, todes e todos. Todas, porque quem leva essa luta adiante são as mulheres. Todes porque o feminismo libertou as pessoas de se identificarem somente como mulheres ou homens e abriu espaço para outras expressões de gênero – e de sexualidade – e isso veio interferir no todo da vida. Todos porque luta por certa ideia de humanidade (…) e, por isso mesmo, considera que aquelas pessoas definidas como homens também devem ser incluídas em um processo realmente democrático […] (páginas 11 e 12)

No livro Feminismo em comum, Marcia Tiburi varia entre o discurso acadêmico e uma conversa simpática entre amigas. Entre conceitos, reflexões e compartilhamento de histórias pessoais da autora, há uma proposta de construção de um “diálogo em comum” dentro do Feminismo como um todo.

Marcia Tiburi

O feminismo nos ajuda a melhorar o modo como vemos o outro. O direito de ser quem se é, de expressar livremente a forma de estar e de aparecer e, sobretudo, de se autocompreender é ao que o feminismo nos leva. A postura autocrítica necessária a toda crítica honesta depende dessa mudança do olhar, que depende, por sua vez, de nossa capacidade de prestar atenção. Essa capacidade não é natural, é construída em processos de aprendizagem que envolvem a nossa própria construção como pessoas.[…] (página 25)

Num primeiro momento, o livro nos parece ser uma proposta que varia entre o discurso feminista empírico da Chimamanda Ngozi Adichie, em seu livro Sejamos Todos Feministase o tom didático e acessível da Daniela Auad em Feminismo, que história é essa?. No entanto, no nosso ponto de vista, o livro perde um pouco da sua didática por conta da escrita prolixa e carregada de conceitos acadêmicos, próprio da autora.

Claro que estas não são, necessariamente, características ruins. Muitos livros feministas são acadêmicos e muitas feministas respeitadas, como a Heleieth Saffioti, são teóricas. O problema, ao nosso ver, é que estes fatores juntos tornam a leitura inacessível para a população “em geral”. No entanto, pensado como um todo, Feminismo em comum traz algumas reflexões muito válidas para o movimento. Inclusive, de certo modo, o que a autora chama de diálogo para um “feminismo em comum”, talvez seja simplesmente uma proposta de fortalecermos o próprio Feminismo Interseccional, o qual a mesma define como:

[…]o feminismo interseccional, que reúne em si os marcadores de opressão, raça, do gênero, da sexualidade e da classe social, é evidentemente uma luta contra sofrimentos acumulados. (página 55)

Neste sentido, todas concordamos que para construirmos uma sociedade mais justa e igualitária para “todas, todes e todos”, precisamos lutar contra todos os tipos de opressão, além de reconhecermos e nos responsabilizarmos por nossos privilégios.

O FEMINISMO EM COMUM QUE ESPERAMOS VER NA ROSA DOS TEMPOS

Marcia Tiburi

Como amplamente divulgado, o selo Rosa dos Tempos pretende reeditar e relançar importantes livros que estão fora de catálogo há anos e que se mostram importantes para a história das mulheres. Além disto, novos livros serão lançados, dentre os quais esperamos ver obras de mulheres negras, trans, periféricas, etc. Isto porque, somente um recorte interseccional nos temas que serão abordados e nas autoras que abordarão tais temas, é que garantirá um “feminismo em comum” dentro da proposta do selo.

¹ A Rosa dos Tempos, atual selo feminista do Grupo Editorial Record, nasceu, em 1990, como uma editora que tinha como objetivo dar voz às mulheres e foi idealizada pela escritora Rose Marie Muraro e a atriz Ruth Escobar. (fonte)

Marcia TiburiFeminismo em comum: para todas, todes e todos

Autora: Marcia Tiburi

Rosa dos Tempos

126 páginas

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Escrito por:

51 Textos

Feminista e membra da União de Mulheres de São Paulo, onde é coordenadora adjunta do Curso de Promotoras Legais Populares, projeto voltado para a educação popular e feminista em direitos. É viciada em Lego, apaixonada por ficção científica/terror/horror, apocalipse zumbi e possui sérios problemas em procrastinar vendo gif’s e não lembrar o nome das pessoas. No mundo real é advogada.
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