[CINEMA] A Noiva do Deserto: em busca de um sentido para a vida (crítica)

[CINEMA] A Noiva do Deserto: em busca de um sentido para a vida (crítica)

Paulina García já havia brilhado como protagonista em Glória, do chileno Sebastián Lélio. Atuação que lhe rendeu o Urso de Prata de Melhor Atriz no Festival de Berlim em 2013. Nesta nova coprodução de Chile e Argentina, ela encarna Teresa, uma mulher de 54 anos de idade que trabalhou desde os 20 como empregada doméstica de uma mesma família. O longa “A Noiva do Deserto”, das diretoras argentinas estreantes Cecilian Atán e Valeria Pivato, é uma grande joia dentro da simplicidade. Aqui, a velha máxima “menos é mais” se aplica.

Acompanharemos a trajetória de Teresa a partir do dia em que seus patrões vendem a mansão da família. Sem ter para onde ir, ela segue para uma pequena cidade do interior. Como companhia, apenas uma maleta onde estão todas as suas coisas. Chegando nesse lugarejo à beira do deserto, Teresa esquece sua mala no trailer de Gringo (Claudio Rissi), um vendedor ambulante local. E é aí que começa o périplo da protagonista, em forma de road movie, em busca de sua mala, que na verdade é a busca pelo próprio sentido de sua vida.

Com inúmeras semelhanças ao argumento do já mencionado “Glória”, A Noiva do Deserto dá um passo além. O foco da câmera é, durante toda a narrativa, apenas e tão somente no primeiro plano. Todo o restante da cenografia é desfocado. Assim como o ponto de vista de Teresa sobre o mundo.

Ao viver somente o agora de forma simbiótica com a da família que a “abrigava”, ela não construiu uma vida própria. Tal qual em “Que horas ela volta?”de Anna Muylaert, essa situação representa a vida de inúmeras mulheres. Sem família, se veem obrigadas a ir para a cidade grande e sujeitar-se a situações análogas a escravidão para sobreviver. Mas pouco sabemos do passado de Teresa.

O roteiro apresenta alguns flashbacks de seu passado próximo de forma orgânica apenas para situar a narrativa. Afinal, o que importa nesse momento é a estranha (e mágica) relação que Teresa e Gringo começam a construir em busca de sua maleta perdida. A química entre os personagens é extraordinária, sendo o motor da trama que culmina num emocionante desfecho lírico, tal como é desenhada a estética e poética do filme. 

SINOPSE: Teresa (Paulina Garcia) sempre trabalhou na mesma casa em Buenos Aires como empregada doméstica. Quando a família decide vender a casa, ela perde o emprego. Chamada para ajudar na preparação de um casamento em uma cidade do interior, ela inicia viagem, mas no caminho, esquece a bolsa dentro do trailer de Gringo (Claudio Rissi), um vendedor ambulante. Esse inesperado incidente irá se tornar a salvação e libertação que Teresa estava precisando.

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120 Textos

Aquariana, mora no Rio de Janeiro, graduada em Ciências Sociais e em Direito, com mestrado em Sociologia e Antropologia pelo PPGSA/UFRJ, curadora do Cineclube Delas, colaboradora do Podcast Feito por Elas, integrante da #partidA e das Elviras - Coletivo de Mulheres Críticas de Cinema. Obcecada por filmes e livros, ainda consegue ver séries de TV e peças teatrais nas horas vagas.
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