Olhos no Deserto: um olhar sobre as relações interpessoais no futuro

Olhos no Deserto: um olhar sobre as relações interpessoais no futuro

Olhos no Deserto, cuja direção e roteiro estão nas mãos de Kim Nguyen (de “A Feiticeira da Guerra”, indicado em 2013 ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro), estreia hoje (24 de maio) nos cinemas. O filme conta a história de dois jovens que vivem em lados opostos do mundo e que não se conhecem, mas acabam se encontrando graças à tecnologia e suas engenhocas.

Ayusha (Lina El Arabi) vive no Norte de África, onde sua família de tradição muçulmana está decidida a casá-la com um homem mais velho, a quem foi prometida. Porém, a garota é apaixonada por outro homem, o que torna a vida de Ayusha bem complicada e a coloca diante da maior e mais importante escolha de sua vida.

Gordon (Joe Cole) é um operador de drones e robôs que mora em Detroit, e trabalha numa empresa de segurança mundial, responsável pelo monitoramento de um oleoduto no deserto africano. O rapaz acaba de sair de uma relação amorosa com uma jovem, por quem, ao que tudo indica, era muito apaixonado. Desde então, monitorar o deserto e zelar pela integridade do oleoduto são suas maiores distrações.

Numa das patrulhas de Gordon via robô, ele avista Ayusha e fica curioso por saber mais sobre a garota e sua vida. E assim, mergulhamos nessa história de amor e drama, nos deparando com questões políticas e religiosas, bem como o machismo enraizado nas culturas do oriente.

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Histórias sobre as relações entre seres humanos e robôs são um tema recorrente no cinema. Desde “Metrópolis” (Fritz Lang – 1927), passando por “O Homem Bicentenário” (Chris Columbus – 1999), “Ex- Machina” (Alex Garland – 2014), “Ela” (Spike Jonze – 2013) e muitos outros, existe uma vasta lista de filmes que exploram os avanços tecnológicos no mundo e os desdobramentos desses avanços nas relações entre humanos e deles com máquinas cada vez mais evoluídas.

Já sabemos que especialistas em robótica humanoide são capazes de produzir robôs que, em quase tudo, se assemelham aos seres humanos. Porém, ainda deve levar um tempo até que esses robôs possam pensar, manifestar desejos e expressarem sentimentos de forma autônoma. Por hora, lidamos com máquinas que ganharam um status de lugar/espaço, onde as pessoas podem se relacionar sem nunca terem estado no mesmo lugar juntos. Podemos dizer que essa evolução e transformação nas relações humanas se dá gradativamente desde muito tempo, com a invenção do telex, do rádio de comunicação, do telefone, da televisão e, enfim, dos computadores.

É possível mantermos relações com alguém através de espaços na internet, sem nunca precisarmos encontrar presencialmente com essa pessoa, o que faz do futuro um lugar incerto para relações interpessoais de afeto, como as que conhecemos hoje. Mas a tecnologia e o futuro dos relacionamentos humanos é uma conversa para outro filme.

Em Olhos no Deserto acompanharemos esse casal que, por intermédio de um robô/guardião, acaba se conhecendo e juntos vão encontrar uma solução para o problema de Ayusha, que por causa de sua família muçulmana, está presa a tradições religiosas que a impedem de decidir sobre sua vida e seus caminhos.

Olhos no Deserto é uma metáfora interessante e atualizada sobre o futuro (que está acontecendo agora), deixando o mundo e as pessoas cada vez mais próximas, dependendo apenas de um clique para se conectarem e se relacionarem.

Vale lembrar que Ayusha e Gordon se conheceram, pois o trabalho do rapaz era zelar e proteger um oleoduto no deserto, para isso, ele utilizava robôs que serviam de olhos para ele. Mais uma vez, esbarramos ao fato inexorável de que além de uma mudança no comportamento e nas relações humanas, em breve, não haverá nenhum lugar no mundo onde não sejamos vistos/espionados e até, quem sabe, controlados.

Olhos no Deserto é um belo filme, mas apesar de contarmos com tecnologias de ponta, é necessário embarcar nessa história com vontade, pois apesar de parecer possível que um robô nos ligue dessa forma, ainda soa inverossímil que ele ultrapasse as dificuldades que a trama sugere ao casal e a seu cupido.

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Mulher, mãe, profissional e devoradora de filmes. Graduada em Psicologia pela Universidade Metodista de São Paulo, trabalhando com Gestão de Patrocínios e Parceiras. Geniosa por natureza e determinada por opção.
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