[RETROSPECTIVA 2018] Os melhores quadrinhos lançados em 2018!

[RETROSPECTIVA 2018] Os melhores quadrinhos lançados em 2018!

Neste ano conferimos diversos quadrinhos e graphic novels marcantes. Histórias sobre mulheres reais que desafiaram as limitações e opressões do seu tempo e realizaram grandes feitos; histórias de migrantes que enfrentaram ataques violentos, xenofobia e que nos alertam sobre o perigo da construção de muros como um reflexo da falta de empatia no mundo; heroínas infantis que são corajosas e sonhadoras e servem de inspiração para crianças e adultos; histórias que refletem sobre o vazio das guerras e a importância da arte enquanto comunicação e saúde mental; entre outras que nos surpreenderam e trouxeram valiosas lições. Histórias em quadrinhos são mensagens ilustradas que têm o dever de questionar a nossa concepção de mundo, mesmo que seja através de universos e seres inexistentes.

Confira a seguir a lista com as nossas escolhas dos melhores quadrinhos lançados em 2018!

Refugiados – A Última Fronteira, Kate Evans (DarkSide Books)

Indicação da autora Isabelle Simões

O quadrinho Refugiados – A Última Fronteira é fruto de um trabalho humanitário realizado pela quadrinista francesa Kate Evans, que conta a jornada solitária, violenta e densa da realidade dos migrantes na França.  

A quadrinista construiu um retrato de uma sociedade adoecida, escassa de amor, empatia e benevolência. Ao longo das páginas acompanhamos os relatos dolorosos de diversos migrantes que resistiram na cidade portuária francesa chamada Calais. A região, com sua insalubridade, sujeira e  desproteção – onde os migrantes se encontravam –  ficou conhecida pelo nome de Selva. 

Kate Evans transforma a estatística dos migrantes, que nos distancia da vivência dessas pessoas, e nos aproxima das histórias que não temos a oportunidade de conhecer através das notícias. Pessoas que almejam uma vida digna e oportunidades melhores, mais justas e igualitárias. E apesar de todo o clima pesado e triste da obra, vemos também momentos leves diante de toda aquela privação. São pessoas que buscam na escassez uma força para resistir e desfrutar da ínfima parcela de alegria que uma simples atividade recreativa pode proporcionar para quem convive diariamente com o medo, a perseguição e a violência.

>> Recomendamos: Podcast Méxi-ap sobre “Refugiados”

Quanto tempo ainda precisamos para reconstruir o nosso olhar diante da situação dos refugiados? Quanto tempo falta para aprendermos a importância da empatia em um mundo adoecido, onde surgimos através da migração ao longo da História, diante de inúmeras guerras e conflitos, da colonização e massacre de nativos, da perseguição, desestruturação e escravidão de povos que foram e continuam sendo perseguidos, oprimidos e mortos? Por isso é tão importante lermos obras como a de Kate Evans e relembrarmos sempre a História, seja a do nosso país e a nossa ou a de outros países, para que um dia essas opressões e conflitos não façam mais parte de um ciclo de violência que se repete ao longo da História. 

Também indicamos o quadrinho como uma das melhores leituras do ano no vídeo do IGTV.

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Ousadas, Pénélope Bagieu (Editora Nemo)

Indicação da autora Isabelle Simões

Ousadas, da quadrinista francesa do excelente quadrinho Uma Morte Horrível, conta nesta obra histórias de diversas mulheres que desafiaram o machismo de seu tempo e conseguiram – mesmo diante das inúmeras limitações – realizar grandes feitos na história do mundo. São cientistas, atrizes, ativistas, rainhas, imperatrizes, exploradoras, guerreiras e a marcante (e talvez uma das histórias mais importantes do quadrinho) das Irmãs Mirabal; 3 irmãs que se uniram para derrubar um governo autoritário e cuja morte violenta foi o motivo para a criação do Dia Internacional da Não-Violência contra a Mulher.

Essas mulheres serviram de inspiração para outras e propagaram o desenvolvimento da igualdade de gênero, abrindo novos caminhos para uma geração futura de mulheres, tudo isso durante épocas da história onde as mulheres eram vistas como coadjuvantes e quase não possuíam vozes na sociedade, tratadas unicamente pela função social de namoradas e esposas, que chamavam atenção pela beleza e objetificação do olhar masculino. Essas mulheres citadas no quadrinho de Pénélope Bagieu foram protagonistas de seus próprios ideias e lutaram por um mundo mais justo e igualitário, mostrando que a coragem não é apenas “coisa de homem”.

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Os Diários de Amora – O Zoológico Petrificado, Joris Chamblain e Aurélie Neyret (Editora Nemo)

Indicação da autora Isabelle Simões

Os Diários de Amora

Impossível ler Os Diários de Amora: O Zoológico Petrificado e não pensar nas destemidas e sonhadoras protagonistas femininas das animações do Estúdio Ghibli. Em Amora vemos uma mistura da coragem de Chihiro (As Viagens de Chihiro), da determinação e bondade da bruxinha Kiki (O Serviço de Entregas da Kiki), e até mesmo um pouco da insegurança de Shizuku (Sussurros do Coração), que assim como Amora, tem o sonho de se tonar escritora, ao mesmo tempo que precisa aprender a lidar com as incertezas e desafios de seu crescimento. Outra semelhança de Amora com as personagens da Ghibli é que sua narrativa não é construída a partir da ideia central de um interesse romântico com um garoto. Amora está mais preocupada em desvendar um mistério que está lhe tirando quase o sono, mas para isso contará com a ajuda de suas amigas.

No primeiro volume do quadrinho francês de Joris Chamblain e Aurélie Neyret, conhecemos a história da jovem garota de 10 anos de idade. Amora possui um gosto literário diverso, aprecia tanto romances como HQs e revistas científicas, e como possui o sonho de se tornar escritora, seguindo os conselhos de sua mãe, começa a escrever um diário para desenvolvimento e aprimoramento de sua escrita. Nas primeiras páginas do quadrinho e ao longo da história nos deparamos com trechos do diário da garota, que além de esperta e perspicaz demonstra ser uma boa observadora das pessoas, elemento essencial para se tornar uma excelente escritora.

Amora encanta com sua doçura desde as primeiras páginas do quadrinho. Indicado tanto para crianças – capaz de aguçar a imaginação de meninas e meninos, ao se deparar com uma garota sonhadora, inteligente e segura de si – quanto para adultos, que apreciam uma linda história que remete aos sonhos e mistérios da infância, a jovem protagonista lembra uma pequena Amélie Poulain, que além de tenta descobrir o seu lugar no mundo, com seu altruísmo possui uma preocupação com as pessoas ao seu redor, apreciando as coisas simples da vida.

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Black Dog – Os Sonhos de Paul Nash, Dave McKean (DarkSide Books)

Indicação da autora Isabelle Simões

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Pra quem pensava que Dave McKean estava cansado de um certo mundo dos sonhos… não poderia estar mais enganado! Muitas pessoas tiveram contato com o trabalho de McKean devido seu inovador trabalho na criação das capas dos quadrinhos Sandman, de Neil Gaiman. Em Black Dog temos uma reafirmação de que não há limite para a arte e a imaginação do multiartista McKean.

Em Black Dog, o autor tem o papel de ilustrar os sonhos de Paul Nash, um desenhista e pintor inglês surrealista, que criou pinturas dos seus sonhos durante o período da Primeira Guerra Mundial. McKean utiliza como inspiração diversas biografias, documentários e materiais sobre o artista veterano. Trata-se de uma obra densa e repleta de significados e interpretações acerca das sequelas que um evento traumático e estarrecedor é capaz de proporcionar à saúde mental.

Nos sonhos de Paul, suas memórias são distorcidas, e o medo e o pavor prevalece em alguns momentos, marcado por aparições constantes de um cão negro. A arte para Paul ressignifica sua própria existência, além de constituir um papel essencial no seu processo de cura.

A grahic novel não poderia finalizar com um dos melhores significados sobre a importância da arte para a humanidade. McKean retrata parte da essência de Paul Nash que dificilmente esqueceremos. Afinal, a arte tem o poder de criar lembranças que carregaremos, através das sensações das histórias que conhecemos. Essa é uma obra que merece ser lida e relida.

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A Origem do Mundo – Uma História Cultural da Vagina Ou A Vulva Vs. O Patriarcado, Liv Strömquist (Quadrinhos na Cia.)

Indicação da autora Isabelle Simões

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Quando éramos crianças nos ensinaram que meninas deveriam se comportar, sentar “como mocinhas”, de pernas fechadas. Mas o que isso significa? Desde a infância sentimos o peso da imposição dos papéis de gênero. Mas por que os nossos órgãos genitais incomodam desde cedo? Naturalizamos durante o crescimento uma vergonha a respeito da nossa vulva. Até mesmo nas escolas não temos uma educação sexual de qualidade. Em casa, dificilmente pais e mães conversam com suas filhas sobre isso. A sexualidade feminina ainda incomoda em pleno século XXI. Essas questões e outras são retratadas na necessária obra da quadrinista sueca Liv Strömquist, lançada neste ano pelo selo Quadrinhos na Cia, da Companhia das Letras.

Em A Origem do Mundo: Uma História Cultural da Vagina ou A Vulva Vs. O Patriarcado a autora apresenta diversos discursos de homens que faziam parte da comunidade intelectual da época e que disseminavam uma verdadeira e explícita aversão às mulheres. Homens que eram filósofos, médicos, pais de família, os conhecidos “cidadãos de bem” que foram verdadeiros fiscalizadores misóginos da sexualidade feminina, disseminando informações errôneas sobre os nossos corpos, inclusive, médicos que foram responsáveis pela mutilação genital de inúmeras mulheres.

O corpo feminino sempre foi utilizado como uma manifestação de poder. Antes, nascidas com um corpo feminino, estávamos limitadas unicamente na esfera doméstica, aos cuidados da família, da casa e dos filhos. Nessa obra, além da autora retratar toda a aversão ao corpo feminino e a sexualidade das mulheres, ela mostra como isso continua sendo utilizado como discurso para propagar a desigualdade de gênero na atualidade. O quadrinho, além de possuir uma linguagem didática e cômica, satirizando esses “intelectuais” misóginos, é uma obra que traz diversos ensinamentos sobre a sexualidade das mulheres e que deveria ser lida por todas e todos.

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Um Pedaço de Madeira e Aço, Chabouté (Pipoca & Nanquim)

Indicação da autora Isabelle Simões

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Tudo começa quando um casal de crianças declara seu doce primeiro amor entalhando suas iniciais em um banco de madeira e aço, de uma cidade qualquer. Mas esse banco não é um apenas um objeto sem importância, ele carregará as lembranças e as dores de muitas pessoas que passarão por ele ao longo do tempo.

No quadrinho Um Pedaço de Madeira e Aço, do ilustrador francês Christophe Chabouté (também autor da excelente adaptação, em formato de graphic novel, do clássico “Moby Dick”), um banco é o personagem principal dessa obra e o fio condutor dessa narrativa gráfica silenciosa e poética, que através de tons em preto e branco nos lembra um filme mudo.

Neste quadrinho – que não há a presença de balões – conheceremos parte do cotidiano de alguns personagens que voltarão de tempos em tempos neste simples pedaço de madeira e aço. Alguns personagens permanecerão apenas para descansar por um tempo; outros irão compartilhar alguns prazeres simples da vida, como o significado de uma refeição ao lado da pessoa que ama.

Não sabemos quais pensamentos cada personagem carrega, o autor deixa, intencionalmente, a interpretação para cada leitora. Ao observar o cotidiano do outro, refletimos sua peculiaridade. Veremos momentos onde, por exemplo, a partir de uma desilusão nascerá um amor inesperado. São momentos simples que o autor nos mostra mas que refletem de modo marcante como conduzimos e experimentamos o nosso próprio cotidiano.

Como demonstramos os nossos sentimentos e qual o devido valor que nós damos as pessoas que mais amamos e admiramos, durante a correria do nosso cotidiano? Por que o outro que nem conhecemos ainda já designamos inúmeros preconceitos? Por que o outro torna-se tão desagradável em nossa presença? E, parafraseando o diretor de cinema Hirokazu Koreeda, somos seres que queremos ser vistos/amados, mas ao mesmo tempo levamos nossas vidas inconscientes da presença do outro, dispersos na solitude do nosso cotidiano.

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Gibi de Menininha, Organização Germana Viana (Editora Zarabatana)

Indicação da autora Jéssica Reinaldo

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Gibi de Menininha foi um dos lançamentos mais impressionantes e sensacionais do ano. Não só por ser um quadrinho totalmente escrito por mulheres, mas por ser um quadrinho de terror/erotismo escrito por mulheres! O terror é um meio bastante complicado, e iniciativas como essa são importantes para mostrarem que mulheres podem, sim, escrever e produzir material desse gênero. O quadrinho é composto por 6 histórias, escritas e desenhadas por 13 artistas maravilhosas.

A variedade de tipos de terror trabalhados nas histórias também é incrível. Apesar de ser um quadrinho de terror e erotismo, a forma como ambos os temas são trabalhados são bastante plurais: temos amor gay, temos terror que busca suas raízes no interior do país, temos terror canibal, histórias sobre vampiros e histórias sobre amores que não deram certo – e seria melhor não terem sido forçados.

As artes, também diversas, casam muito bem com as histórias. Além, claro, da capa, que é uma capa impactante e impressionante, feito pela talentosíssima Camila Torrano. Entre as historietas, temos a incrível Mama Jellybean, uma personagem bastante ousada e que, sem dúvida, merece umas histórias só dela.

Apesar da resistência de se acreditar que mulheres possam trabalhar com gore, com sangue, com terror e com traição, tudo isso misturado, esse é um quadrinho que prova que é uma resistência completamente equivocada. Essas autoras e ilustradoras sabem muito bem o que estão fazendo e torcemos para que ainda tenhamos muitos volumes de Gibi de Menininha!

O projeto foi financiado pelo catarse, fez muito sucesso (e foi até denunciado pelo conteúdo!) e agora se encontra em algumas lojas online.

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Uma Dobra no Tempo, de Madeleine L’engle e adaptada por Hope Larson (DarkSide Books)

Indicação da autora Laís Fernandes

Uma Dobra no Tempo

O clássico livro Uma Dobra no Tempo, de Madeleine L’engle, ganhou uma versão em quadrinhos por Hope Larson, trazida pela DarkSide Books neste ano. A trama acompanha Meg Murry, uma garota muito inteligente e em conflito com a própria personalidade, que precisa embarcar em uma jornada desconhecida para conseguir resgatar o pai, um cientista que, ao fazer um experimento misterioso para o governo, acabou preso em outra dimensão. Juntos, Meg, a mãe, que também é cientista, os irmãos, e as misteriosas senhoras Quequeé, Quem e Qual partirão pelo universo para resgatá-lo e, para tanto, precisarão resistir a um terrível mal.

O enredo chama muito a atenção por se tratar de uma história infantojuvenil com temas complexos; a viagem espacial é colocada de forma tão simples e natural, tornando-se muito agradável até mesmo para quem não tem familiaridade com o tema. Outro ponto positivo é a predominância de personagens femininas no desenrolar do problema principal da obra, sem contar que a protagonista, Meg, é uma menina forte e destemida que, ao passo que percebe os problemas que deverá resolver, não mede esforços para que a paz seja restabelecida no universo e o pai possa voltar para casa são e salvo.

Os traços de Hope Larson são lindos e a coloração azulada transmite uma aura de mistério e ficção científica. A edição da DarkSide Books do quadrinho é caprichadíssima e mistura, no projeto gráfico da capa e folha de rosto, tons de azul, roxo, brilhos e figuras mitológicas que fazem parte da narrativa. Uma obra linda em vários sentidos!

O livro também ganhou uma superprodução filmográfica com Oprah Winfrey, no papel da Sra. Qual, Reese Witherspoon, como Sra. Quequeé e Mindy Kailing, interpretando a Sra. Quem.

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