Saga: 5 motivos para embarcar na diversidade da space opera!

Saga: 5 motivos para embarcar na diversidade da space opera!

Saga“, escrita por Brian K. Vaughan (“Y – O Último Homem“, “Ex Machina” e “Paper Girls“) e ilustrada por Fiona Staples (“Archie“), é uma série de quadrinhos no estilo space opera, subgênero da ficção científica que envolve romance, drama, viagens interestelares e batalhas espaciais em suas histórias. Na trama, acompanhamos Alana, uma ex-soldado nascida no planeta Aterro, e Marko, nascido em Grinalda, a lua de Aterro, e também ex-soldado. Os nativos de Aterro e de Grinalda são inimigos e vivem em guerra, logo o enlace dos dois é algo extremamente proibido; do relacionamento, nasce Hazel, a narradora da história desde o ventre da mãe. Os três encontrarão muitos problemas na extensa jornada, marcada por inimizades e amizades um tanto improváveis.

Quando Alana conheceu Marko, ela ainda servia ao exército do Reino Robô, a hierarquia tirânica de Aterro e responsável pelo massacre de inúmeros inocentes nos planetas vizinhos. Marko, por sua vez, lutava na guarda de Grinalda e, após render-se em um dos conflitos entre os dois lados, tornou-se prisioneiro, sendo Alana encarregada de conduzi-lo pelas tarefas ao longo dos dias de confinamento dele; aos poucos, e conhecendo-se melhor, os dois se apaixonaram e decidiriam escapar de Aterro, tornando-se, então, procurados pelas hierarquias de Grinalda e Aterro. Alana logo engravida e Hazel nasce no planeta Fenda, mas não há tempo para qualquer descanso; os três precisam fugir e encontrar aliados no meio do caminho – e a todo tempo têm suas vidas ameaçadas.

Saga” é uma série grandiosa em vários sentidos: o ritmo rápido com o qual a trama se desenrola ao longo dos sete volumes publicados, nos Estados Unidos, pela Image Comics e, no Brasil, pela Editora Devir, permite às leitoras e leitores uma imersão efetiva na história, além de que os temas apresentados são atualíssimos e social e historicamente relevantes; cada novo arco promete inúmeras surpresas e situações enervantes. Listamos, abaixo, cinco motivos para você começar a ler os quadrinhos agora mesmo.

1) Refugiados de uma guerra constante

Saga
Marko, Alana e Hazel em “Saga” (Imagem: reprodução)

Não são apenas Marko, Alana e Hazel que sofrem com os terrores da guerra que a realeza robô promove entre os habitantes de Aterro e Grinalda, por conta de ideologias distintas e a ameaça de extinção de Aterro, caso algo aconteça à Grinalda: outros planetas também são afetados e inúmeras pessoas morrem, em campos de batalha ou fora deles. Aqueles e aquelas que conseguem uma oportunidade de fugir de seus locais de origem tornam-se refugiados e precisam passar por inúmeras provações, sozinhos ou acompanhados pelas respectivas famílias. Situar as leitoras e leitores neste tema atual e importante é um dos grandes trunfos da série, uma vez que esta é uma das funções da ficção, abordar pautas sociais de forma que suas apreciadoras e apreciadores internalizem facilmente mensagens tão preciosas e pensem em formas de alterar, para melhor, a sociedade em que vivem.

O tema da violência institucionalizada está presente em muitos diálogos do quadrinho. Marko e Alana questionam-se sobre as motivações que os levaram por tantos anos a agirem em nome de líderes tirânicos e assassinarem pessoas inocentes por tabela, tanto que o desgaste mental que a guerra causou nos dois os alimenta com pesadelos constantes. Edificarem uma família é uma das formas que os dois encontraram de se redimirem e abandonarem comportamentos destrutivos, em nome de uma fé cega em governantes sem escrúpulos. Enxergando-se nas outras pessoas a partir do momento em que decidem fugir para viverem juntos, mostram que, lá no fundo, sempre houve empatia pelos povos que os cercavam, algo que fica explícito ao longo dos arcos de “Saga”, quando os dois procuram formas de ajudar famílias em situações mais precárias que as deles.

Leia mais:
» [ESPECIAL STAR WARS] Rey: força motriz, protagonismo e renovação!
» [QUADRINHOS] 10 HQs para quem se cansou de super-heróis
» [QUADRINHO] “Y – O Último Homem” e a praga do binarismo de gênero

2) Representatividades femininas em Saga

As grandes personagens desta história, por sorte, são todas mulheres. Cada uma delas, muito diferentes entre si, engrandecem o enredo ao possuírem diversas camadas psicológicas e, apesar do toque ficcional da história, poderem muito bem representar as mulheres fortes que conhecemos ao longo da vida; a começar por Alana, percebemos um conflito interno muito grande entre o que a personagem era, passou a ser enquanto grávida e após o nascimento da filha. Vinda de um lar opressor, Alana decidiu alistar-se no exército para fugir dos problemas familiares, porém encontrou muitas dificuldades no caminho e sua personalidade, que sempre fora forte, conviveu por muito tempo com a violência exacerbada de sua função como soldado, o que causou muitos traumas na personagem.

Alana em Saga
Alana em “Saga” (Imagem: reprodução)

Após ter Hazel, Alana por muitas vezes questiona os percalços da maternidade, mas encontra-se como mãe na intenção de ser um bom exemplo, ainda mais de sobrevivência, para a própria filha. Ela é uma personagem cativante, engraçada e sexualmente liberta, e faz com que a identificação com ela seja imediata por conta de sua espontaneidade e sensibilidade. 

Izabel em Saga
Izabel em “Saga” (Imagem: reprodução)

Izabel, um espectro que, vivendo como refugiada, fora morta junto aos familiares por conta de uma mina explosiva, é outro exemplo de personagem bem construída e muito cativante. Por conseguir se metamorfosear em qualquer aspecto, ela é uma grande aliada de Alana e Marko na peregrinação por um lugar tranquilo para criarem Hazel. Klara, mãe de Marko, é uma excelente lutadora, assim como Gwendolyn, personagem que fez parte do passado deste personagem e retorna para acertar assuntos inacabados. O interessante é perceber que, além da personalidade, outra diversidade presente é a étnica; mulheres negras, híbridas entre humanos e outras espécies e de povos mestiços, como a própria Hazel, aparecem em grande quantidade ao longo de cada capítulo.

O quadrinho ainda aborda e faz críticas breves às questões como a condição de meninas e mulheres quanto escravas sexuais e relacionamentos abusivos.

Saga
Fiona Staples, a desenhista de “Saga”. Ao lado, a Gata da Mentira, uma das personagens mais cativantes de Staples e Vaughan (Imagem: reprodução)

Menção honrosa àquela que dá vida aos traços destas queridas personagens: Fiona Staples, autora da arte dos quadrinhos, é um marco muito grande para a existência de mulheres nas HQs, sendo um exemplo a ser seguido por jovens quadrinistas. Os desenhos de Staples são lindíssimos e remetem ao gênero pulp.

Klara em Saga
Klara em “Saga” (Imagem: reprodução)
Gwendolyn em Saga
Gwendolyn em em “Saga” (Imagem: reprodução)

3) Representatividades LGBTQ+ em Saga

“Saga” apresenta, ainda, muitos personagens LGBTQ+, como o casal de jornalista e fotógrafo Upsher e Doff, Petrichor, uma mulher trans, e Gwendolyn, bissexual. A forma preconceituosa como a sociedade lida com esses personagens, principalmente quanto à Petrichor, Upsher e Doff, é explicitada em alguns diálogos entre eles e os demais personagens. 

Saga
Upsher e Doff em “Saga” (Imagem: reprodução)
Saga
Petrichor em “Saga” (Imagem: reprodução)

4) Um universo de referências!

Brian K. Vaughan criou o plot de saga na infância, grandemente inspirado pela sua paixão por Star Wars. As referências à aclamada saga são muito claras desde o gênero space opera até minúcias no roteiro, como o visual dos personagens, os conflitos e a discussão política explícita em ambas as tramas. Há também uma boa dose de fantasia, uma vez que os habitantes de Grinalda são manipuladores de magia e a utilizam nos combates.

Por se tratar de uma história de amor proibido, não há como não lembrar do clássico “Romeu e Julieta”, de Wiliam Shakespeare, e também dos famigerados “romances de banca”, histórias eróticas presentes em “Saga” através do amor que Alana nutre pelos livros do escritor D. Oswald Heist.

Alana e Marko
Alana e Marko em “Saga” (Imagem: reprodução)
Alana lendo "Uma Pitada Noturna"
Alana lendo “Uma Pitada Noturna”, seu livro favorito do personagem D. Oswald Heist (Imagem: reprodução)

5) A narrativa incomum de Saga

Fazendo um contraponto a algumas histórias do gênero sci-fi, “Saga” é narrado por Hazel, que nos conta através de flashbacks o que acontecera aos pais antes mesmo deles se conhecerem. A garotinha tem uma consciência grande sobre o mundo que a cerca muito antes de nascer e vai além ao contar sua própria história e nos dar vestígios do que está por vir nas continuações do quadrinho, que, de acordo com Vaughan, encerrou sua primeira metade nos primeiros 54 capítulos e irá um pouco além do capítulo 100, quando, enfim, encerrará a jornada de Alana, Marko e Hazel.

Deste modo, “Saga”, série ganhadora de 12 prêmios Eisner e um Hugo Awards na categoria “melhor graphic novel“, nos brinda com uma história envolvente, na qual o amor, as perdas, a resistência e inúmeras aventuras andam lado a lado e promovem reflexões muito pertinentes. Pela Devir, o quadrinho foi lançado até o compilado de número 7 e os demais volumes ainda estão sem data de lançamento prevista.


Saga

Saga

Brian K. Vaughan e Fiona Staples

Devir

168 páginas

Se interessou pelo quadrinho? Veja os volumes lançados até o momento!

A Delirium Nerd é integrante do programa de associados da Amazon. Comprando através do link acima, ganhamos uma pequena comissão e você ainda ajuda a manter o site no ar, além de ganhar nossa eterna gratidão por apoiar o nosso trabalho!


Edição realizada por Gabriela Prado e revisão por Isabelle Simões.

Escrito por:

117 Textos

Formada em Letras, pós-graduada em Produção Editorial, tradutora, revisora textual e fã incondicional de Neil Gaiman – e, parafraseando o que o próprio autor escreveu em O Oceano no Fim do Caminho, “vive nos livros mais do que em qualquer outro lugar”.
Veja todos os textos
Follow Me :