Obras de super-heróis são mais do que uma mera faísca no mercado de mídia

Obras de super-heróis são mais do que uma mera faísca no mercado de mídia

Se formos pensar no elemento que pode resumir o cenário da cultura pop desde o seu surgimento, é bem provável que a escolha mais acertada seja a de um herói saído de uma história em quadrinhos, desses que foram criados no início do século passado – nos escritórios de pequenas editoras – e passaram por várias transformações ao longo dos anos para chegar ao estado atual dos negócios multibilionários.

Assim como seus pares criados nos tempos da história antiga, os super-heróis modernos acabam tendo em si elementos que os colocam em um espectro de superioridade moral que acaba transformando-os em modelos. O Homem-Aranha continua com uma forte base de fãs por todo o mundo, especialmente em Nova-Iorque, onde ainda é querido por boa parte da metrópole. Algo que ocorre também fora das folhas dos quadrinhos e das telas de cinema que refletem as histórias desse super-herói.

Mesmo os heróis mais “quebrados”, como o Batman, apresentam ainda elementos de redenção. O homem-morcego é, na verdade, um bilionário que sacrifica sua grande fortuna para salvar Gotham de seus vilões, ainda que a sobrevivência dos últimos dependa de Batman – e, quiçá, vice-versa.

Mas nesse mundo talvez não exista alegoria a algum super-herói que supere a imagem do Superman como elemento de idolatria. Sua presença em vários produtos de mídia, indo dos seriados e filmes que levam o seu nome desde a década de 1970 até jogos de roleta online e de videogame que carregam sua marca, é evidência clara de como seu forte nome permeia a consciência popular.

Entretanto, esse tipo de relação entre um herói quase messiânico como o Superman e o seu público em geral, talvez esteja mudando. Muito graças ao “cinismo” quanto aos super-heróis, que já era explorado nos quadrinhos e que começa a chegar nas nossas telas para o público de massa.

O autor de quadrinhos Garth Ennis é conhecido por não ser um grande fã de super-heróis e suas histórias, apesar de ter feito parte de algumas delas. Entre suas obras próprias, duas das mais conhecidas são “Preacher” e “The Boys“, que ganharam nos últimos anos adaptações no formato de seriado.

Enquanto a primeira deixou para trás muitos dos elementos dos quadrinhos viscerais de Ennis, “The Boys” tomou a via alternativa. Esta última, produzida e transmitida pela Amazon Prime Video, toma a forma de manifesto anti-super-heróis que dificilmente encontraria espaço no começo da década.

 

O mesmo se vê com “Watchmen“. Seu criador, Alan Moore, é conhecimento por posturas polêmicas quanto a super-heróis e quadrinhos em geral. Posturas essas que são mostradas no quadrinho que ganhou adaptações para filme e seriado na HBO.

Isso sem deixar de mencionar o filme do “Joker“. O maior vilão de Gotham já viu sua origem ser contada das mais diferentes formas nos quadrinhos. E, no cinema, a trama fez jus ao seu tamanho dentro do mundo pop.

É interessante ver o surgimento de tais obras à luz tanto do mercado de mídia para super-heróis quanto do clima socioeconômico que vemos percorrer o mundo. O fluxo de filmes inspirados nos ídolos das histórias em quadrinhos talvez tenha alcançado um ponto de saturação que exigiria um tempo maior de “descanso” para o público. Ao mesmo tempo, a insatisfação popular dá espaço para que elementos antissistema se sobressaiam.

Até onde veremos tal fenômeno tomar forma, não dá para saber. O que se sabe é que o espaço para super-heróis e mensagens extremamente otimistas para o futuro podem estar diminuindo em face a obras que têm o dedo no pulso das frustrações do público.

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