Vow of Thieves: qual o caminho das fantasias históricas?

Vow of Thieves: qual o caminho das fantasias históricas?

Vow of Thieves“, livro publicado, recentemente, pela editora Darkside Books, dá continuidade à série de Mary E. Pearson e ao mundo deAs Crônicas de Amor e Ódio. O segundo livro da série Dinastia de Ladrões, iniciada porDance of Thieves“, narra, então, a história de Kasi e Jase. E continua a abordar, enfim, não apenas os efeitos colaterais dos eventos de “The Beauty of Darkness“, mas também conflitos políticos anteriores, inclusive, à história inicial de Pearson.

Caso você ainda não tenha lido a trilogia inicial de Pearson, provavelmente haverá alguns spoilers. No entanto, a leitura de Dinastia de Ladrões não exige a leitura da série anterior. Embora muitos elementos sejam melhor compreendidos com uma leitura integral da produção de Pearson, como o envolvimento de um vilão em comum ou as referências, é possível compreender a série subsequente sem grandes desafios. “Vow of Thieves” possui até menos referências que “Dance of Thieves”, pois não precisa mais criar um elo entre as duas séries.

Vow of Thieves: entre reinos e conspirações, uma ladra

Em “Dance of Thieves“, Kasimyrah foi enviada pela rainha Lia para roubar algo que somente ela conseguiria. Ela, aquela que sobrevivera a caçadores de seres humanos, mas ficara órfã. Aquela cuja habilidade de furto lhe rendera o apelido de Dez. Mas em sua jornada, Kasi deparou-se com o patrei Jase, por quem se apaixonou. Dividida entre o amor e a missão, Kasi o levou até a Venda, onde sua participação em um grande conspiração foi, enfim, esclarecida.

Em “Vow of Thieves“, a rahtan Kasimyrah, depois de seguir as ordens da rainha Lia e entregar o patrei Jase, retorna com ele à região da Torre da Vigília de Tor. Sem impedimentos ao relacionamento, o casal acredita que finalmente conseguirá aquilo que almeja: um território livre e estabilidade. A única dificuldade que acreditam ter de enfrentar em sua chegada é a reação da família de Jase à verdadeira identidade de Kasimyrah e aos motivos que a fez chegar até eles.

Vow of Thieves - resenha
“Vow of Thieves” foi lançado pela Darkside Books. (Imagem: Delirium Nerd)

Como em todos os romances de fantasia, entretanto, a expectativa não coincide com a realidade. E um pesadelo do passado retorna para assombrá-los. Próximos de chegar à cidade, Jase e Kasi são emboscados. E separados, precisam enfrentar, cada qual, inimigos poderosos, uma rede de intrigas e conspirações. Enquanto isso, uma lenda dos antepassados, novamente, parece se repetir.

Uma fórmula de fantasia histórica para os livros de Mary E. Pearson?

Vow of Thieves” é o último livro de Dinastia de Ladrões. Contudo, diferentemente do livro anterior, acaba falhando na conexão do romance, uma de suas premissas, com a ação e fantasia. Infelizmente, algo que havia sido positivo, como comentado na resenha de “Dance of Thieves”, parece ter sido uma exceção do primeiro livro diante da escrita de Mary E. Pearson. A sensação que “Vow of Thieves” concede é que não somente o estilo que dissocia romance de ação e fantasia se repete, mas também a própria construção narrativa.

De fato, “Vow of Thieves” lembra muito particularmente “The Heart of Betrayal“. No segundo livro da série inicial, Lia é capturada, obrigada a viver no castelo de Venda e suportar um rei que não é seu verdadeiro inimigo. O que mais frustra em “Vow of Thieves” é ver até mesmo algumas cenas semelhantes ao livro anterior de Pearson, embora em contextos distintos. Há uma cena do banho, em que a protagonista é apressada para se limpar e a vestir roupas que lhe soam estranhas. A relação com uma serva calada que a observa de modo estranho. A técnica de debochar de inimigos. Um jantar com o inimigo. Um discurso público.

Enfim, uma série de elementos parecem se repetir em uma lógica inversa. Com isto quer-se dizer que, na primeira série, havia uma princesa obrigada a experimentar os costumes rudes de Venda. Já em “Vow of Thieves“, tem-se uma vendana experimentando costumes considerados muito mais rebuscados que aqueles de sua origem. Embora não se saiba se o recurso de semelhança/contraposição foi proposital ou não, soa estranho. Isto porque soa muito familiar e um tanto repetitivo para quem leu ambas as séries. Retira da história, assim, o caráter da surpresa.

Vow of Thieves - resenha
Livros das séries Crônicas de Amor e Ódio e Dinastia de Ladrões, todos publicados pela Darkside Books. (Imagem: Delirium Nerd)

A falácia histórica de Crônicas de Amor e Ódio e Dinastia de Ladrões

Seguindo, também, o ritmo dos outros livros, a segunda metade da história parece se acelerar. Os elementos, antes arrastados, ganham vida, prendendo as leitoras até a última página. Personagens femininas importantes, como Wren e Synové, que fizeram falta na primeira metade, ressurgem para auxiliar os protagonistas. Estratégias são traçadas e colocadas em prática. O romance pode não se concretizar imediatamente, mas move a narrativa. E partir daí, então, a história flui até melhor que os livros anteriores.

O mistério acerca da grande arma a ser construída pelos eruditos é resolvido. É interessante que Pearson tente conectar tanto a fantasia de Crônicas de Amor e Ódio quanto a de Dinastia de Ladrões com fatos de uma história real. Na primeira trilogia, havia uma semelhança bastante grande com as fantasias medievais. Já na segunda duologia, encerrada por “Vow of Thieves“, a história parece avançar, embora o plano de fundo ainda seja de uma atmosfera do medievo. A grande arma, em variados momentos, parece tratar-se de uma arma de fogo. No entanto, há algo mais envolvido, uma espécie de poder que fascina.

Essas referências, contudo, não condizem com uma referência ao contexto social, ainda baseado em um padrão branco heteronormativo. Por mais que surjam novos personagens, por mais que outros territórios sejam explorados, Pearson sequer menciona a possibilidade de romper com esses padrões, os quais, sim, importam para as causas feministas. Afinal, é possível falar de uma ruptura com um sistema, com a inclusão apenas de personagens brancas e heteronormativas em algumas posições de poder? Por que avançar no tempo e falar de pólvora em uma sociedade que antes era marcada pelo uso da espada e ignorar a diversidade?

Vow of Thieves - resenha
A série Dinastia de Ladrões é composta pelas obras “Dance of Thieves” e “Vow of Thieves” (Imagem: Delirium Nerd)

Vow of Thieves e os romance que funcionam dentro de padrões

Vow of Thieves“, o juramento dos ladrões, por fim, é um bom livro. A história de Jase e Kasi é cativante para aquelas que gostam de fantasias históricas. O enredo é um pouco mais maduro que o da trilogia anterior, embora não contenha aquele elemento surpreendente e de novidade que marcou “Crônicas de Amor e Ódio”.

Apesar de ser um livro que prende, não se pode ignorar os problemas que Pearson poderia ter atacado, seja da repetição de uma fórmula de narrativa – que deu certo em um livro, mas não precisaria ser utilizada no outro – ou da omissão quanto a uma verdadeira ruptura de padrões e não apenas o discurso de empoderamento feminino. O final é condizente e bom, embora já esperado, seguido de uma deixa para, talvez, próximos livros.


Vow of ThievesVow of Thieves

Mary E. Pearson

464 páginas

Darkside Books

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Edição e revisão por Isabelle Simões.

Escrito por:

136 Textos

Mestra em Teoria e História do Direito e redatora de conteúdo jurídico. Escritora de gaveta. Feminista. Sarcástica por natureza. Crítica por educação. Amante de livros, filmes, séries e tudo o que possa ser convertido em uma grande análise e reflexão.
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