Super-heroínas: o protagonismo feminino nos quadrinhos e no cinema

Super-heroínas: o protagonismo feminino nos quadrinhos e no cinema

É tênue a linha que separa a arte da política e da sociedade quando o assunto é protagonismo feminino na ficção. No universo nerd, que foi historicamente marcado pela presença masculina entre produtores e consumidores, a maneira como as mulheres ganham vida, destaque e superpoderes funciona, de certo modo, como espelho das conquistas sociais de cada época.

Embora as primeiras histórias em quadrinhos (HQs) com super-heróis tenham sido criadas em meados de 1930, apenas na década seguinte as heroínas ganharam suas versões. A Mulher-Maravilha ostenta o título de pioneira solo, enquanto a menos famosa no Brasil, Phantom Lady, figura como a primeira super-heroína de sucesso sendo membro do grupo Freedom Fighters, do quadrinho Police Comics, publicado pela Quality Comics.

Phantom Lady foi a primeira super-heroína!

A chegada dessas personagens coincide com o período da Primeira Guerra e os incentivos dos governos, especialmente norte-americano, para as mulheres ocuparem as vagas dos postos de trabalho deixadas pelos homens que foram convocados. Porém, desde que Diana Prince, a Mulher-Maravilha, estreou como protagonista, em 1941, novos capítulos da trajetória feminina no universo artístico começaram a ser escritos.

Protagonistas superpoderosas

Sendo a representação das mulheres como super-heroínas nas HQs e no cinema inspirada pela contemporaneidade, não é difícil entender por que nos anos 1960, no auge de debates de gênero e luta pela emancipação feminina, se teve uma alta repentina na quantidade e variedade de protagonistas. A maioria delas foi publicada nas histórias dos X-Men.

Diversos pesquisadores e acadêmicos concordam que as narrativas contadas através dos X-Men são alegorias para discussões sobre a diferença e o convívio em uma sociedade preconceituosa. As mutantes Jean Grey, Tempestade, Vampira e Feiticeira Escarlate são as principais referências, especialmente com relação a questões de gênero e raça. Afinal, simbolizam a subversão patriarcal, ao mesmo tempo em que enaltecem a força da mulher.

Jean Grey- super-heroínas e o protagonismo feminino
Jean Grey (Sophie Turner) | Divulgação

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Os roteiristas das HQs em que elas assumiram o protagonismo contribuíram para que, além dos poderes e do impulso altruísta de combater o mal, as heroínas se destacassem pelas características de personalidade, sem a necessidade de espelharem uma versão feminina de um herói masculino. Com isso, o público se educou e, consequentemente, ficou rigoroso.

Fan-base das super-heroínas

Um caso evidente de descontentamento do público foi com o filme da Viúva Negra. Os fãs do Universo Cinematográfico Marvel (MCU) perceberam que os “Vingadores originais” ganharam longas-metragens solo, enquanto a única protagonista mulher teve a produção postergada, refilmada e lançada em uma janela cronológica, considerada por muitos como “atrasada”.

Já na DC, as críticas ao último filme da Mulher-Maravilha 1984 ainda vão no sentido do roteiro forçar um relacionamento amoroso e, no processo, “diminuir” a presença e força da personagem. O contrário acontece com a Arlequina, que, apesar de não ser heroína, tem o seu desenvolvimento em cena aplaudido pela maior parte da crítica e da audiência.

O que se percebe, de modo geral, é a preferência por enredos capazes de provocar a identificação com o público feminino pela valorização dos poderes das personagens, sem ceder às tentações das narrativas focadas em interesses românticos.

Não por acaso, personagens recentemente adaptadas para o live-action, como Jessica Jones, que mistura força, whisky e inteligência, a kryptoniana Supergirl e a Capitã Marvel, que protagonizará um filme ao lado de outras três super-heroínas, The Marvels, com previsão de lançamento para este ano, se tornaram queridinhas entre o público feminino que acompanha as novidades do mundo nerd.

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