Durante muito tempo, o universo dos videogames foi associado a experiências escapistas, explosivas ou competitivas. No entanto, uma nova geração de jogos tem se dedicado a explorar emoções humanas profundas — e entre os temas mais delicados que vêm sendo abordados com sensibilidade está o luto. Não se trata de inserir uma tragédia apenas como pano de fundo, mas de convidar o jogador a mergulhar na dor da perda, nos silêncios e nas reconstruções que o luto exige.
Essa tendência não surge por acaso. Com a consolidação dos jogos independentes e o amadurecimento do público, as narrativas vêm se diversificando. Ao lado de combates e puzzles, emergem jogos contemplativos, autobiográficos e intimistas, nos quais a mecânica está diretamente ligada à emoção — e o objetivo não é “vencer”, mas elaborar.
O luto como mecânica, não apenas enredo
Alguns títulos se destacam por incorporar o luto não apenas como tema, mas como motor da jogabilidade.
Em Gris, do estúdio espanhol Nomada, a protagonista passa por um processo visualmente estilizado de aceitação após uma perda. O mundo cinzento e fragmentado do início do jogo vai se colorindo aos poucos, à medida que a personagem avança por diferentes estágios emocionais. Cada cor simboliza uma fase do luto, como negação, raiva ou aceitação.
Já em Spiritfarer, o jogador assume o papel de uma barqueira dos mortos que ajuda espíritos a completar tarefas inacabadas antes de partir. A experiência é melancólica, mas serena: trata-se de cuidar, escutar e, no fim, dizer adeus. A jogabilidade promove reflexão sobre a finitude e oferece uma metáfora suave sobre a passagem e o desapego.
Esses jogos subvertem a lógica tradicional de “conquista”. Em vez de pontos ou troféus, o que se ganha é espaço para sentir.
Experiência emocional e tempo dilatado
Um dos aspectos mais importantes desses jogos é a forma como lidam com o tempo. Em vez de ritmos acelerados e objetivos cronometrados, oferecem momentos de pausa, contemplação e repetição. Isso permite que o jogador experiencie a narrativa em seu próprio ritmo — o que se alinha com a natureza não linear do luto.
É o caso de What Remains of Edith Finch, que convida o jogador a explorar memórias de uma família marcada por perdas. Através de mini-histórias imersivas e estilos visuais variados, o jogo constrói uma experiência fragmentada, mas coesa — como a própria memória.
Mesmo experiências mais curtas, como Journey, transmitem o luto em níveis simbólicos: o esforço silencioso, a solidão momentânea, o reencontro com o outro e a transcendência ao final da jornada.
Estéticas emergentes e novas linguagens
A visualidade e a trilha sonora nesses jogos são ferramentas narrativas essenciais. Em jogos que tratam do luto, é comum o uso de paletas suaves, ambientes oníricos e sons atmosféricos. A ausência de diálogos ou a presença de línguas inventadas força o jogador a “sentir” em vez de apenas “compreender”. Essa linguagem sensorial e abstrata favorece a empatia, mesmo sem exposição direta.
Esse caminho também abre espaço para experiências experimentais. Em Before I Forget, o jogador habita a mente de uma mulher com demência, reconstruindo fragmentos de memória e perda. A casa onde ela vive se torna labirinto emocional, e as ausências são representadas por espaços vazios, sons abafados e objetos borrados — elementos que provocam mais do que informam.
Curiosamente, mesmo títulos mais dinâmicos podem propor experiências reflexivas. Um exemplo recente é o jogo Jetx, cuja mecânica ágil contrasta com a sensação de vazio e pausa ao final de cada rodada. Embora a proposta não seja explicitamente sobre o luto, o ciclo entre expectativa, voo e queda pode ser lido como metáfora da instabilidade emocional. Mais informações podem ser encontradas em: https://www.vbet.bet.br/pb/casino/game-view/400038601/jetx.
Por que abordar o luto em jogos?
Falar sobre luto é necessário — e os jogos, como forma de arte e mídia interativa, têm potência única nesse debate. Ao colocar o jogador no centro da experiência, os games permitem uma elaboração subjetiva que vai além da leitura ou do cinema. O jogador não apenas assiste, ele participa. Ele hesita, escolhe, recua, insiste. E, nesse processo, o tema da perda vai sendo vivido de forma segura e simbólica.
Muitos dos jogos que abordam o luto são desenvolvidos por criadores que viveram essas experiências. O resultado são obras honestas, vulneráveis e acolhedoras, que contribuem para o amadurecimento da cultura gamer e da sociedade em geral.
Para além do entretenimento
O uso dos games como espaços de elaboração emocional amplia o campo do que entendemos como “jogo”. Ao oferecer mundos sensíveis, acessíveis e profundamente humanos, essas obras revelam que o luto não precisa ser um tabu — e que há formas poéticas de viver a dor.
Em um tempo marcado por perdas coletivas e isolamento, os jogos que nos convidam a sentir, lembrar e elaborar se tornam não apenas arte, mas companhia. E talvez seja essa a missão mais bonita que um jogo pode cumprir.