[CINEMA] Primeira Retrospectiva da Cineasta Helena Solberg no Brasil (RJ, SP e Brasília)

[CINEMA] Primeira Retrospectiva da Cineasta Helena Solberg no Brasil (RJ, SP e Brasília)

A primeira retrospectiva integral da cineasta helena solberg terá entrada franca e acontecerá nos Centros Culturais do Banco do Brasil (CCBB) do Rio de Janeiro, São Paulo e Brasília. A programação conta com 17 filmes de diferentes fases da carreira da diretora e alguns deles serão exibidos pela primeira vez no país, como Das Cinzas: Nicarágua Hoje e documentários da fase latino-americana.

Trazendo à luz temáticas sobre o feminino, conflitos políticos históricos e aventurando-se pela ficção, em sua singular trajetória Helena Solberg assina a direção de 17 filmes, que serão exibidos integralmente em retrospectiva inédita. Em tempos de ênfase no papel e atuação das  mulheres no mercado do cinema, a mostra terá exibições comentadas por pesquisadores especialistas e uma master class com a cineasta, além de debates em cada capital. A programação acontece de 7 a 19 de março no CCBB Rio de Janeiro e São Paulo e de 3 a 22 de abril em Brasília.

Reconhecida por ser a única diretora a participar do Cinema Novo, em sua estreia com o emblemático curta-metragem A Entrevista (1966) Solberg entrevista mulheres de formação burguesa do Rio de Janeiro sobre casamento, sexo e política, enquanto a imagem de uma noiva se preparando para o casamento é desmistificada pelo áudio das entrevistas.

Cena de “A Entrevista” (1966)

Nos anos 70 do Brasil marcado pela ditadura, exila-se nos Estados Unidos onde vive um longo período de liberdade criativa, com produções que refletem sobre a presença da mulher na frente e atrás das câmeras, questionando temas de representação e autoria no ensejo da onda de teorização feminista a tomar força naquela década. Sua primeira realização nos EUA condensa esses desejos: The Emerging Woman (1974), costurado coletivamente pelo grupo Women’s Film Project criado por Solberg em Washington.

As duas produções seguintes compõem o que a pesquisadora Mariana Tavares chamou de “Trilogia da Mulher”, marcada pelo esforço em alinhavar reflexão social e experimentação na própria forma fílmica: A Dupla Jornada (1975), que examina as condições da mão de obra feminina na Argentina, México, Venezuela e Bolívia e Simplesmente Jenny (1977), que se dedica à vivência de três jovens em um reformatório boliviano para adolescentes.

Em 1995 lança nos cinemas dos EUA e Brasil seu filme de maior reconhecimento internacional, Carmen Miranda: Bananas Is My Business, uma mistura de documentário e ficção que narra a vida e carreira de Carmen Miranda. A produção também dá voz à questões políticas, abordando o olhar estrangeiro sobre o Brasil da época. Convidado a inúmeros festivais, ganhou como Melhor Filme em cinco países, inclusive no Festival de Brasília.

A atual fase de sua carreira aponta para novos rumos: marcando sua estreia na direção de uma adaptação ficcional, o longa-metragem Vida de Menina (2004), baseado no diário de Helena Morley e o sucesso de crítica e público Palavra (En)cantada (2009), que realiza uma viagem histórica pelas relações entre música popular e poesia brasileira, com depoimentos de grandes nomes da nossa cultura. O documentário ganhou o prêmio de Melhor Direção no Festival do Rio e foi o filme do gênero mais assistido nos cinemas brasileiros no ano.

Retomando com força a pauta feminista, em 2017 realiza o longa Meu Corpo Minha Vida, e levanta a bandeira de uma das discussões mais atuais nos contextos sociais e políticos do país: a descriminalização do aborto.

Homenageada em 2014 no festival É Tudo Verdade, Helena Solberg tem uma carreira singular que completa cinco décadas e que foi aprofundada por mais de trinta anos nos EUA. Sua militância política e feminista somada à experiência com o Cinema Novo brasileiro resultaram em uma cinematografia rara, atenta aos movimentos de sua época e engajada em modos de olhar e atuar no mundo.

Cena do mais recente documentário de Helena Solberg, “Meu Corpo Minha Vida” (2017)

Veja a programação completa da Retrospectiva com as datas das exibições dos filmes e dos debates no Rio de Janeiro, São Paulo e Brasília.

FILMOGRAFIA – HELENA SOLBERG (A SER EXIBIDA)

A Entrevista (20 min, 1966, Brasil)

Sinopse: O filme teve como base uma série de entrevistas feitas pela realizadora com jovens do mesmo meio social. Por trás dessas entrevistas surge um perfil convencional de “mulher”, figura idealizada por certa aura de romantismo, costurado por uma montagem que relaciona questões da opressão feminina com a repressão militar vivida pelo país.

Meio-dia (11 min, 1970, Brasil)

Sinopse: Alunos revoltados em sala de aula organizam um motim, tendo como contexto o período da ditadura militar e a música de Caetano Veloso É Proibido Proibir.

A Nova Mulher (The Emerging Woman, 40 min, 1974, Estados Unidos)

Sinopse: Primeiro filme dirigido pela cineasta nos EUA, The Emerging Woman percorre 170 anos de história do movimento feminista no país e na Inglaterra (de 1800 até 1974), através de diários, manifestos, reportagens, cartas e livros de ativistas. O documentário conta também com fotografias e imagens de arquivo de jornais cinematográficos, inaugurando a série “Trilogia da Mulher”, realizada em conjunto com o coletivo Women’s Film Project.

A Dupla Jornada (The Double Day, 54 min, 1975, Argentina/México/Bolívia/Venezuela)

Sinopse: Filmado em fábricas no México e na Argentina, e em minas na Bolívia e Venezuela, A dupla jornada examina as condições da mão de obra feminina como força de trabalho na América Latina.

Simplesmente Jenny (32′, 1977, Bolívia)

Sinopse: Três garotas (Jenny, Marli e Patricia) relatam suas histórias de prostituição forçada, e suas fantasias de ascensão social, casamento e felicidade, em um reformatório para adolescentes na Bolívia.

Das Cinzas… Nicarágua Hoje (From the Ashes… Nicaragua Today, 60 min, 1982, Nicarágua)

Sinopse: A partir da história de uma família na Nicarágua, o filme aborda a trajetória do Movimento De Libertação Sandinista e sua luta contra o regime ditatorial de Somoza. Com raras imagens de arquivo, o documentário revela a intervenção da Marinha Americana no país entre 1912 e 1933 e a história de Augusto Sandino, que organiza a rebelião camponesa de 1920 e torna-se símbolo da resistência nacionalista contra a invasão estrangeira.

A Conexão Brasileira (The Brazilian Connection, 58 min, 1982-1983, EUA/Brasil)

Sinopse: Em 1982, a crise da dívida externa brasileira era pauta constante na mídia do Brasil e dos EUA. O não pagamento da dívida e o caos econômico que resultaria com a moratória são analisados em The Brazilian Connection, realizado no calor das atividades eleitorais quando os brasileiros, após 18 anos de ditadura militar, foram às urnas para eleger governadores e deputados federais e estaduais.

Chile: Pela Razão ou Pela Força (Chile: By Reason or By Force, 60 min, 1983, Chile/Estados Unidos)

Sinopse: O filme examina as grandes manifestações contra a ditadura no Chile, na ocasião do décimo aniversário do golpe do General Augusto Pinochet.

*Co-direção de David Meyer.

Retrato de um Terrorista (Portrait of a Terrorist, 28′, 1985, EUA/Brasil)

Sinopse: Na tentativa de refletir sobre os sucessivos atentados contra cidadãos e instituições norte-americanos pelo mundo, o documentário se volta para o depoimento de dois personagens: Fernando Gabeira, então candidato ao governo do Rio de Janeiro e que havia participado, em 1969, do sequestro de Charles Elbrick; e Diego Asencio, ex-embaixador americano no Brasil, que fora sequestrado pelo grupo guerrilheiro M19 na Colômbia, em 1980.

*Co-direção de David Meyer.

Terra dos Bravos (Home of the Brave, 60 min, 1986, Brasil/Estados Unidos/Suíça)

Sinopse: Motivados pelos debates da Segunda Conferência Mundial sobre Racismo e Discriminação Racial, organizada pela ONU em Genebra em 1983, lideranças indígenas falam sobre as ameaças que enfrentam na época. O documentário se passa em três continentes: nos EUA, com os Hopi e os Navajo, na Amazônia e no altiplano da Bolívia, e em Genebra, onde ameríndios se unem para a criação de uma rede internacional indígena.

A Terra Proibida (The Forbidden Land, 58′, 1990, Brasil)

Sinopse: The Forbidden Land analisa os conflitos entre a Igreja Católica tradicional e sua ala progressista, manifesta na Teologia da Libertação, tendo como mote a luta dos trabalhadores sem terra no Brasil.

Carmen Miranda: Bananas Is My Business (Carmen Miranda: Meu Negócio É Bananas 92 min, 1994, Brasil)

Sinopse: O filme conta a extraordinária história de Carmen Miranda, nascida em Portugal e criada no Brasil, e que em 1939 vai para os Estados Unidos e se torna a mais famosa brasileira a conquistar as telas de Hollywood. No entanto, para os norte-americanos, ela sempre foi a figura caricata com uma pilha de frutas na cabeça. O filme tenta retirá-la desse estigma, conferindo-lhe o que há de mais fundamental: sua identidade.

Brasil em Cores Vivas (Brazil in living colours, 30′, 1997, Brasil)

Sinopse: Brasil em Cores Vivas é um documentário encomendado pelo Channel 4 Television da Inglaterra sobre a nova revista RAÇA direcionada aos negros brasileiros, fundada pelo jornalista Aroldo Macedo em 1996. Pensaram na época que não teria público, porque “o negro brasileiro não lê, não compra, não participa”. Mas RAÇA contrariou todas as expectativas e foi um sucesso imediato.

Vida de Menina (101 min, 2004, Brasil)

Sinopse: Único longa-metragem ficcional de Helena Solberg, Vida de menina é baseado no diário de Helena Morley, uma garota de província que viveu em Diamantina-MG ao final do século XIX, após a abolição da escravatura.

Palavra (En)cantada (84 min, 2009, Brasil)

Sinopse: O documentário traça uma viagem através história do cancioneiro brasileiro, com uma atenção especial para a relação entre poesia e música. De poetas provençais ao rap, do carnaval de rua aos poetas do morro, da bossa nova ao tropicalismo, o filme traça um panorama da música brasileira até os dias de hoje, costurando depoimentos, performances musicais e uma surpreendente pesquisa de imagens.

A Alma da Gente (80 min, 2013, Brasil)

Sinopse: Adolescentes, moradores da Favela da Maré no Rio de Janeiro, são selecionados para um espetáculo de dança sob o comando do coreógrafo Ivaldo Bertazzo, em um processo que incorporava as experiências cotidianas relatadas pelos próprios dançarinos. Dez anos depois, David Meyer e Helena Solberg partem em busca de alguns dos integrantes desta experiência para fazer um balanço de seu efeito em suas vidas, que muitas vezes tomaram rumos bastante diversos em relação às expectativas do passado.

Meu Corpo Minha Vida (73 min, 2017, Brasil)

Sinopse: Documentário sobre o aborto no Brasil, um assunto controverso e explosivo. O filme acompanha o caso de Jandyra Magdalena dos Santos, personagem-chave que nos conduzirá através deste conflito.

Fonte: Palavra! assessoria e comunicação

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Aquariana, mora no Rio de Janeiro, graduada em Ciências Sociais e em Direito, com mestrado em Sociologia e Antropologia pelo PPGSA/UFRJ, curadora do Cineclube Delas, colaboradora do Podcast Feito por Elas, integrante da #partidA e das Elviras - Coletivo de Mulheres Críticas de Cinema. Obcecada por filmes e livros, ainda consegue ver séries de TV e peças teatrais nas horas vagas.
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