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MANGÁS/ANIMES

[MANGÁ] A banalização do estupro nos desenhos eróticos japoneses

por Renate Baseggio · 8 de junho de 2016

Você não precisa procurar muito, basta digitar as palavras “mangá” e/ou “anime” no seu navegador. Talvez demore um pouquinho, já que alguns dos sites mantém uma aba modesta de Hentai, os famosos desenhos eróticos japoneses. Ou se você preferir procurar pela própria palavra uma chuva de conteúdo pornográfico vai aparecer. Alguns são bastante comuns, já outros buscam satisfazer até os fetiches mais bizarros, misturando comédia e ação ao conteúdo erótico que serve de tema principal a todos eles.

Até aí tudo bem, a pornografia faz parte da sociedade a muito mais tempo que eu ou você estamos vivos. Criticar a indústria como um todo está além da minha paciência. Quando comecei a pesquisa para escrever este post – que originalmente deveria focar na indústria de mangás/animes japonesa e como ela representa suas mulheres – me deparei com algo ainda pior do que peitos enormemente desproporcionais e jovens bonitinhas sem qualquer objetivo de vida. Entre tentáculos alienígenas e sexo com garotas que mal atingiram a puberdade, lá está o bom e velho estupro. Uma categoria todinha só para ele!

Apesar do Japão ter censurado já em 1907 qualquer exibição de órgãos sexuais em imagens e vídeos, você vai achar centenas de milhares deles internet à fora. Algumas com algum tipo ridículo de censura – uma fitinha preta ou um quadriculado embaçado – que não afeta em nada o objetivo do material em expressar um tema sexual. A produção e distribuição de hentai se tornou uma indústria bilionária. E como todo setor comercial/industrial de um país, tem poder e voz na hora em que seus políticos resolvem aprovar ou não certas coisas. Não é a toa que a lei  aprovada em 2014, estabelecendo que a posse de pornografia infantil é um delito punível com até um ano de prisão e multa de até US$ 10 mil, esqueceu de incluir qualquer regulamentação sobre mangás e animes hentai, que abordam de maneira bastante intensa este tema. A justificativa do governo é de que estas produções não exibem crianças reais.

Em 2015, a ONU chegou a pedir que o governo japonês banisse desenhos que tivessem representações sexuais de crianças e, bem… Chuto que pelo menos 90% dos hentai retratam garotas em idade escolar (12-17 anos). Infelizmente não encontrei nenhuma informação sobre o desenrolar desse pedido. Apenas para cargo de informação, o último dado que encontrei a respeito da maioridade sexual no Japão (idade para consentimento de atividade sexual) é de que esta é de apenas 13 anos! Um homem de 40 anos será preso se tirar fotos de uma menina e publicar na internet mas, transar com ela tudo bem? É isso mesmo produção?

Em 2010, a Assembléia Metropolitana de Tóquio aprovou um projeto de lei que regula especificamente o conteúdo de mangás, animes e games que possam sugerir pornografia, incesto, estupro, estimular o suicídio, crueldade, comportamento criminoso, etc. em materiais vendidos para menores de 18 anos. Fotos, vídeos e qualquer material de pornografia real – com pessoas de verdade – não se encaixa neste projeto. Como você pode ter percebido, o Japão possui certas contradições que simplesmente não fazem sentido, pelo menos pra mim. Ressaltando que esta lei vale apenas para a cidade de Tóquio, e não para o resto do país.

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Artistas e editoras do setor argumentam a favor da liberdade de expressão. Outros podem argumentar que se tratam apenas de “desenhos”, que os homens adultos ou adolescentes que consomem este material estão cientes disso e que isso não quer dizer vão se tornar estupradores ou pedófilos. A pornografia como um todo é pedagógica, faz parte do processo de amadurecimento sexual de muitos jovens no mundo todo. É a porta de entrada – cada vez mais confusa e escancarada – que muitos usam para aprender sobre sexo. Mas o que dizer aos meninos que encontram atrás desta porta o estupro? O que eles estarão aprendendo e provavelmente levando consigo para sua primeira experiência sexual? Este material não estaria exaltando desejos que deveriam ser tratados com terapia? Como podemos diminuir os índices do estupro no mundo se milhares de pessoas o utilizam para estimular seu próprio prazer?

Nos fóruns da vida, encontrei uma justificativa ainda mais bizarra vinda daqueles que consomem este tipo de conteúdo, a do “estupro consentido“. Em suma, a mulher diz não, mas seu corpo diz sim, e é este tipo de relação que os hentai exibem. Meu amor, não significa NÃO! Em português, em japonês ou em árabe. Os fãs destas produções eróticas – a massiva maioria de homens – defendem esta teoria, o que me deixou bastante perturbada. Não vou entrar em mais detalhes pois não é esta a discussão que deve prevalecer aqui. Tentar disfarçar o estupro com algum tipo de consentimento é simplesmente repugnante.

Infelizmente, este não é mais um problema apenas dos japoneses, afinal este aspecto de sua cultura já é exportado para o mundo todo. Pergunte para qualquer adolescente/jovem adulto quais seus desenhos favoritos quando criança, tenho certeza que ao menos um deles será uma produção japonesa. Podemos fazer algo a respeito? A internet está aí, mostrando tudo para todos sem qualquer critério. “Nós é que devemos ter bom senso e não assistir/ler este tipo de material”, se fosse apenas uma questão de bom senso não existiriam milhares de animes e mangás sobre estupro dando sopa na web, não é? As editoras publicam aquilo que o público consome, o mesmo serve para a internet. Até que ponto a liberdade artística pode se justificar sobre este conteúdo que incita a violência contra a mulher para satisfazer a libido masculina?

Quando comecei este texto, pensei que tinha todas as respostas e que seria extremamente simples falar sobre o assunto. Acabei com mais perguntas do que respostas, entre elas: como um país como o Japão, dito tão civilizado, permiti a publicação deste tipo de hentai? E quando à questão cultural? Como será viver em uma sociedade onde praticamente todos os homens são bombardeados com este tipo de material? Quais as reais estatísticas de estupro e violência doméstica no Japão? Ao meu ver nenhum aspecto artístico ou cultural justifica a venda do estupro como material pornográfico. Estupro não é sexo, e jamais deve ser visto como tal. Um tema como este, tão enraizado e fetichizado por uma sociedade me faz pensar em quais são as consequências que o Japão ainda vai vivenciar.

Posso estar pisando no calo de muitos fãs de mangás e animes, sei disso. Mas se este texto servir para que as pessoas reflitam e discutam sobre o tema, já é meio caminho andado. Esta questão vai muito além do seu consumo e adoração por esta forma de arte. É preciso enxergar criticamente, por mais doloroso que seja, sobre esta e muitas outras questões e a forma como os japoneses as abordam em seus mangás e animes. Se a indústria de hentai não vê a necessidade em regulamentar tamanha apologia ao crime e, o governo japonês não tem a coragem de tirar de circulações os milhões de ienes  que gera com a venda descarada do estupro, só resta cobrar dos consumidores algum tipo de posição. Agora o que me resta é apagar o histórico perturbador da minha pesquisa e esperar…


Leia também:

  • Cultura pop e cultura do estupro – Parte 1
  • Gostar de Algo Não Deveria nos Impedir de Pensar Criticamente
  • Estupro nas HQs de heróis
  • Estupro na ficção e os escritores preguiçosos

animebanalizaçãoestuprohentaijapãoMangaviolência contra mulher
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Renate Baseggio

Estudante de Administração, cozinheira e confeiteira, que nas horas vagas ainda encontra um tempo pra se dedicar à escrita. Ama frio, livros de ficção, bons vinhos, bons restaurantes e filmes de época. Sonha em se tornar uma autora publicada e conhecer os quatro cantos do mundo.

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