O Menino e a Garça: a vida antes da vida

O Menino e a Garça: a vida antes da vida

Com uma possível despedida, o novo longa de Hayao Miyazaki retrata os ciclos da vida e a trajetória que levou a uma de suas obras mais profundas. Vencedor do Globo de Ouro de melhor animação de 2024, O Menino e a Garça traz os pontos mais marcantes da filmografia do querido animador do Estúdio Ghibli.

De seres extremamente fofos a aventuras que parecem saídas do sonho de uma criança, a arte de Miyazaki se mantém mágica. Mesmo após anos desde seu primeiro trabalho e aos 83 anos, ao se aproximar da aposentadoria, mostra que é insubstituível.

O Menino e a Garça: a vida modificada pela guerra

O Menino e a Garça conta a história de uma criança que busca escapar da realidade, algo comum a muitos de nós.

O filme começa com Mahito Maki fugindo em meio às explosões da guerra e a um incêndio que leva sua mãe.

Em uma cena angustiante, porém visualmente bela, com os borrões do fogo e da visão em meio à fuga, Miyazaki nos entrega algo muito semelhante a outro filme da Ghibli, O túmulo dos vagalumes (1988), dirigido por Isao Takahata.

No meio da guerra, Mahito enfrenta os dramas familiares que o cercam: a escola que detesta, a nova esposa do pai (que é, na verdade, a irmã de sua mãe) e o luto pela perda da mãe.

Para lidar com isso, ele se veste como um soldado na tentativa de lutar contra tudo e se refugiar na imaginação, onde encontra até mesmo uma saída para a morte. No quintal de casa, ele descobre outro mundo e percebe que existe vida antes e depois desta.

Mahito, personagem de O Menino e a Garça, novo filme de Hayao Miyazaki

Ao fugir da guerra, Mahito vai morar com seu pai e a nova esposa, que está grávida, na antiga casa da família dela. Ao chegar lá, Mahito é recebido por uma garça que parece ter um interesse especial por ele.

Nos dias seguintes, ele é “atormentado” por essa garça, determinada a chamar sua atenção. Depois de muita resistência, o garoto finalmente decide segui-la até uma parte escondida da mansão, onde uma torre abandonada guarda histórias mais antigas do que qualquer membro vivo da família.

Ao adentrar a torre, Mahito parte em uma aventura digna das histórias de Miyazaki, encontrando seres atípicos e fantásticos, lugares lúdicos e amigos que o ajudam a alcançar seus objetivos.

Entre esses amigos estão Kiriko e Himi, duas jovens que representam exatamente o que se espera das personagens femininas do diretor: corajosas, fortes, protetoras e gentis.

Cena de O Menino e a Garça, novo filme de Hayao Miyazaki

A sensibilidade e imaginação única de Miyazaki

Miyazaki retrata temas sensíveis e profundos através dos olhos de uma criança, como se tivesse um superpoder.

O diretor conhece todos os sonhos e mundos imaginários que povoam nossa mente durante a infância, desde uma árvore com portas até um grupo de pássaros que vivem em comunidades super organizadas, e até mesmo um ser que controla o equilíbrio do mundo empilhando pedras.

Miyazaki cria uma obra mágica e transforma em arte o simples ato de passar geleia no pão.

Mais uma vez, ele cria uma obra mágica e transforma em arte o simples ato de passar geleia no pão. Mas todo o trabalho de criação do filme vai além, com uma direção de arte precisa e cada frame com uma beleza e riqueza de detalhes estonteantes.

No roteiro, tudo é muito bem amarrado – até mesmo quando tantos temas são introduzidos que dá aquele medo de ficar algo de fora, sem explicação. Acreditamos que parte da arte de Miyazaki e do Estúdio Ghibli vem daí: tudo tem sentido, nada é por acaso.

O filme é uma mistura de tudo que há de melhor nas criações do diretor: um protagonista corajoso e terno, personagens extremamente carismáticos que aparecem ao longo da jornada principal, além de criaturinhas fofas que derretem o coração de qualquer um. Tudo isso em uma aventura fantástica em um mundo paralelo.

Neste filme, temos toda a magia e personagens únicos como em A viagem de Chihiro (2001), a delicadeza de Meu amigo Totoro (1988) e o universo rico de detalhes como O castelo animado (2004). E assim como em todos os seus filmes anteriores, O Menino e a Garça parece saudar a natureza e todos os seus elementos fantásticos como uma velha amiga.

E se nada é por acaso em suas obras, não é coincidência também que a animação retrata a importância de aceitar os ciclos da vida, o início e o fim de cada ser ou momento. É como se Miyazaki dissesse que vai ficar tudo bem, ele só precisa entrar por aquela outra porta e lançar seu primeiro trabalho de novo.

O Menino e a Garça estreia nesta quinta-feira (22) nos cinemas de todo o Brasil.

Texto escrito por Ana Lígia e Marina.

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