No dia 4 de abril de 2024, “A Primeira Profecia” estreou nos cinemas, proporcionando aos espectadores uma experiência de terror dirigida por Arkasha Stevenson, conhecida por obras como “Channel Zero” e “Vingança Sabor Cereja”. O filme marca o início da saga explorada em “A Profecia”, que teve início em 1976.
Apesar de ser uma referência direta e coerente ao restante da franquia, A Primeira Profecia pode ser tratada como um filme independente, até mesmo como um ponto de partida para os espectadores que preferem seguir uma cronologia correta dos acontecimentos.
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A igreja católica como vilã em A Primeira Profecia
Em contraste com a maioria dos filmes de temática sobrenatural, onde a entidade religiosa muitas vezes representa uma salvação, A Primeira Profecia subverte essa expectativa ao retratar a igreja católica como a mente maquiavélica por trás do enredo.
Em um contexto de crescente descontentamento social na Itália, a igreja emerge como alvo da revolta popular, especialmente entre os jovens. As autoridades religiosas, percebendo o declínio da adesão juvenil à fé cristã, tomam uma atitude extrema: planejam o nascimento do anticristo para desencadear o caos no mundo e atrair mais fiéis a buscarem a salvação no catolicismo.
Trama monótona
Apesar da obra apresentar uma introdução detalhada que estabelece a complexidade de seus personagens e ambientação, é só no desfecho que a trama se agita.
Embora existam momentos de suspense e terror do início até a metade, aparentemente não houve intenção de intensificar a história até que não houvesse mais escolha senão um desfecho forte, onde os elementos de horror psicológico e visual convergem em uma conclusão intensa. No entanto, essa rápida aceleração no final pode deixar a sensação de que a narrativa poderia ter sido mais uniformemente distribuída ao longo do filme.
A transição acelerada dos eventos finais pode ser um ponto de divisão entre o público, já que alguns podem apreciar a intensidade crescente e a rapidez do desfecho, enquanto outros podem sentir que a conclusão foi um tanto apressada, deixando perguntas sem resposta e nuances da trama subdesenvolvidas.
A sensação de que tudo aconteceu rápido demais é uma reflexão válida para uma obra que, apesar da temática forte e narrativa de tributo, pode deixar a desejar no âmbito da exploração mais profunda de certos aspectos da história. No entanto, para o fã da franquia que assistiu ao filme buscando nostalgia e referências, a obra oferece uma experiência agradável. Contudo, um novo espectador que opta pela cronologia dos fatos corre o risco de desistir na primeira tentativa.
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Além do sobrenatural, destaca-se a ênfase no cenário sociopolítico como ponto de partida
A Primeira Profecia não apenas mergulha nas profundezas do terror sobrenatural, mas também oferece uma crítica sutil à autoridade religiosa e às ordens políticas. Ambientado em uma Itália tumultuada, o filme reflete tensões sociais e políticas, especialmente o descontentamento crescente entre os jovens em relação à igreja e ao governo.
A representação da Igreja Católica como uma força vilanesca que busca manipular eventos para aumentar sua influência é particularmente relevante neste contexto.
O filme sugere que o poder religioso pode ser corrupto, autoritário e contraditório, justamente por dar vida ao seu maior “inimigo declarado” apenas para se manter no poder. Dessa forma, temas como rebelião e desconfiança em relação a instituições de autoridade são muito bem explorados, apesar do foco sobre-humano.
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Apesar de monótono, A Primeira Profecia segue a fórmula da jornada do herói
Embora se caracterize como uma narrativa maçante em boa parte da trama, a história não se diferencia de outras do gênero quando se trata da jornada do herói.
A protagonista é lançada em um mundo de perigo e mistério, onde deve enfrentar desafios tanto físicos quanto emocionais para alcançar a redenção e a verdade. Seu caminho começa no nascimento, com a aceitação de seu chamado para servir à igreja, mas se transforma em uma busca por respostas quando ela descobre segredos obscuros e conspirações sinistras.
Ao longo do filme, Margaret enfrenta provações que testam não apenas sua fé religiosa, mas também sua própria compreensão do bem e do mal. Sua coragem e determinação são postas à prova quando ela se vê confrontada com o horror da possibilidade do nascimento do anticristo e a corrupção dentro da instituição pela qual serviu durante a vida inteira.
No clímax da história, apesar de ter dado à luz ao mal encarnado, Margaret emerge não apenas como uma sobrevivente, mas como uma heroína que desafiou a igreja e o diabo, resistindo para criar sua protegida e uma filha, que deveria ter morrido com ela.