A Primeira Profecia: o terror sobrenatural que beira a monotonia

A Primeira Profecia: o terror sobrenatural que beira a monotonia

No dia 4 de abril de 2024, “A Primeira Profecia” estreou nos cinemas, proporcionando aos espectadores uma experiência de terror dirigida por Arkasha Stevenson, conhecida por obras como “Channel Zero” e “Vingança Sabor Cereja”. O filme marca o início da saga explorada em “A Profecia”, que teve início em 1976.

A trama gira em torno de Margaret (Nell Tiger Free), uma noviça dos Estados Unidos enviada para Roma para servir à igreja. Lá, ela desenvolve uma conexão peculiar com Carlita (Nicole Sorace), uma jovem introvertida que reside no convento como aluna.

Ao investigar o passado da garota e questionar sua situação com as outras irmãs, Margaret é advertida a se distanciar. No entanto, antes de seguir esse conselho, ela se depara com uma sombria revelação que abala suas convicções religiosas. Com a ajuda de um padre renegado, a noviça desvenda uma conspiração macabra mantida em segredo pela igreja à qual dedicou sua vida, expondo o iminente retorno do anticristo.

Nell Tiger Free como Margaret em "A Primeira Profecia" (2024)
Nell Tiger Free como Margaret em “A Primeira Profecia” (2024) | Foto: Divulgação

Apesar de ser uma referência direta e coerente ao restante da franquia, A Primeira Profecia pode ser tratada como um filme independente, até mesmo como um ponto de partida para os espectadores que preferem seguir uma cronologia correta dos acontecimentos.

ATENÇÃO! ESTE TEXTO CONTÉM SPOILERS

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A igreja católica como vilã em A Primeira Profecia 

Em contraste com a maioria dos filmes de temática sobrenatural, onde a entidade religiosa muitas vezes representa uma salvação, A Primeira Profecia subverte essa expectativa ao retratar a igreja católica como a mente maquiavélica por trás do enredo.

Em um contexto de crescente descontentamento social na Itália, a igreja emerge como alvo da revolta popular, especialmente entre os jovens. As autoridades religiosas, percebendo o declínio da adesão juvenil à fé cristã, tomam uma atitude extrema: planejam o nascimento do anticristo para desencadear o caos no mundo e atrair mais fiéis a buscarem a salvação no catolicismo.

Enquanto a juventude se rebela contra o autoritarismo religioso, Margaret tenta conciliar seus ensinamentos religiosos com a realidade que enfrenta em Roma. Porém, sua jornada é tumultuada quando se vê envolvida nos mistérios que cercam Carlita, cuja conexão com o sobrenatural a leva a confrontar suas próprias crenças. A revelação de uma conspiração diabólica oculta pela igreja desafia tudo o que ela conhece, lançando-a em uma luta desesperada pela verdade.

Atriz brasileira Sônia Braga como Irmã Silva em “A Primeira profecia” (2024) | Foto: Divulgação

Trama monótona 

Apesar da obra apresentar uma introdução detalhada que estabelece a complexidade de seus personagens e ambientação, é só no desfecho que a trama se agita.

Embora existam momentos de suspense e terror do início até a metade, aparentemente não houve intenção de intensificar a história até que não houvesse mais escolha senão um desfecho forte, onde os elementos de horror psicológico e visual convergem em uma conclusão intensa. No entanto, essa rápida aceleração no final pode deixar a sensação de que a narrativa poderia ter sido mais uniformemente distribuída ao longo do filme.

A transição acelerada dos eventos finais pode ser um ponto de divisão entre o público, já que alguns podem apreciar a intensidade crescente e a rapidez do desfecho, enquanto outros podem sentir que a conclusão foi um tanto apressada, deixando perguntas sem resposta e nuances da trama subdesenvolvidas.

A sensação de que tudo aconteceu rápido demais é uma reflexão válida para uma obra que, apesar da temática forte e narrativa de tributo, pode deixar a desejar no âmbito da exploração mais profunda de certos aspectos da história. No entanto, para o fã da franquia que assistiu ao filme buscando nostalgia e referências, a obra oferece uma experiência agradável. Contudo, um novo espectador que opta pela cronologia dos fatos corre o risco de desistir na primeira tentativa.

Nell Tiger Free como Margaret em cena de "A Primeira Profecia"(2024)
Nell Tiger Free como Margaret em cena de “A Primeira Profecia”(2024) | Foto: Divulgação

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Além do sobrenatural, destaca-se a ênfase no cenário sociopolítico como ponto de partida

A Primeira Profecia não apenas mergulha nas profundezas do terror sobrenatural, mas também oferece uma crítica sutil à autoridade religiosa e às ordens políticas. Ambientado em uma Itália tumultuada, o filme reflete tensões sociais e políticas, especialmente o descontentamento crescente entre os jovens em relação à igreja e ao governo.

A representação da Igreja Católica como uma força vilanesca que busca manipular eventos para aumentar sua influência é particularmente relevante neste contexto.

O filme sugere que o poder religioso pode ser corrupto, autoritário e contraditório, justamente por dar vida ao seu maior “inimigo declarado” apenas para se manter no poder. Dessa forma, temas como rebelião e desconfiança em relação a instituições de autoridade são muito bem explorados, apesar do foco sobre-humano.

Cartaz de "A Primeira Profecia" (2024)
Cartaz de “A Primeira Profecia” (2024) | Foto: Divulgação

A narrativa também aborda questões de liberdade individual e autonomia, especialmente pela jornada de Margaret. Sua luta para reconciliar suas crenças religiosas com a verdade chocante que descobre sobre a igreja e o mal iminente destaca os conflitos morais e éticos enfrentados por indivíduos de uma sociedade dominada pelo dogma e pela opressão.

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Apesar de monótono, A Primeira Profecia segue a fórmula da jornada do herói

Embora se caracterize como uma narrativa maçante em boa parte da trama, a história não se diferencia de outras do gênero quando se trata da jornada do herói.

A protagonista é lançada em um mundo de perigo e mistério, onde deve enfrentar desafios tanto físicos quanto emocionais para alcançar a redenção e a verdade. Seu caminho começa no nascimento, com a aceitação de seu chamado para servir à igreja, mas se transforma em uma busca por respostas quando ela descobre segredos obscuros e conspirações sinistras.

Ao longo do filme, Margaret enfrenta provações que testam não apenas sua fé religiosa, mas também sua própria compreensão do bem e do mal. Sua coragem e determinação são postas à prova quando ela se vê confrontada com o horror da possibilidade do nascimento do anticristo e a corrupção dentro da instituição pela qual serviu durante a vida inteira.

Nell Tiger Free como Margaret em cena de A Primeira Profecia

No clímax da história, apesar de ter dado à luz ao mal encarnado, Margaret emerge não apenas como uma sobrevivente, mas como uma heroína que desafiou a igreja e o diabo, resistindo para criar sua protegida e uma filha, que deveria ter morrido com ela.

Em última análise, A Primeira Profecia é um reflexo exagerado e ficcional da realidade. Mesmo diante da adversidade aparentemente insuperável, o filme nos lembra da importância de manter a esperança e a coragem de enfrentar as trevas, mesmo que isso signifique lutar contra forças aparentemente imbatíveis.

É um lembrete sombrio de que o mal pode, sim, vencer no final, mas todos os esforços em nome do bem podem ser recompensados de alguma forma.

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Uma jornalista apaixonada por música, literatura e cinema. Seus maiores hobbies incluem criar playlists para personagens fictícios e falar sobre Taylor Swift nas redes sociais.
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