A mais nova série da Netflix, Garotos Detetives Mortos, que estreou no dia 25, é baseada nos personagens criados por Neil Gaiman dentro do universo de Sandman. Os personagens principais, Edwin Payne e Charles Rowland, são dois garotos que escapam da morte e do inferno no arco da Estação das Brumas em Sandman, quando Lúcifer abandona o inferno e entrega a chave a Morpheus.
O arco em questão ainda não foi retratado na série de Sandman, mas, seguindo a lógica dos quadrinhos, é bem provável que seja na segunda temporada. Com isso, Garotos Detetives Mortos toma algumas liberdades e se estabelece não só como um derivado de Sandman, mas como uma história com personalidade própria e destinada a um público mais jovem.
Edwin e Charles: os garotos detetives mortos
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Edwin Payne (George Rexstrew) e Charles Rowland (Jayden Revri) são dois garotos com uma diferença considerável de gerações que se tornaram amigos após a morte de Charles. Enquanto Edwin viveu e morreu durante a era Eduardiana, Charles morreu no mesmo colégio, porém anos depois, nos anos 80.
Quando Charles está machucado e morrendo, Edwin, que acabou de fugir do inferno, o ajuda e o acalma, estabelecendo assim uma conexão que vai além de qualquer força superior. Os dois então passam a fugir da morte e do inferno e criam uma sociedade um tanto atípica: dedicam o tempo a solucionar casos de fantasmas que ainda não se desprenderam da terra.
Enquanto Edwin é o típico britânico certinho e calculista, Charles é andrógino e punk e sempre está fazendo piada de tudo. Esse equilíbrio entre os dois é o que torna a série mais atraente, pois em situações diversas – e extremas – é divertido observar as reações e ações dos dois. A química entre George Rexstrew e Jayden Revri enriquece ainda mais a experiência.
Contudo, a rotina dos dois amigos fantasmas é mudada pela chegada de Crystal Palace (Kassius Nelson), uma vidente possuída por um demônio.
Crystal Palace, a vidente
Ao livrarem Crystal da possessão demoníaca, Charles se interessa pela moça e decide que ela deve permanecer por perto até recuperar suas memórias. Já Edwin se incomoda com a presença dela, o que gera um embate entre os três durante os primeiros episódios. Porém, os poderes de Crystal se mostram muito úteis, levando-a em uma jornada rumo aos EUA com os dois fantasmas para solucionar um caso.
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Crystal é uma boa adição à dupla de detetives. Ela é séria e focada, mas também possui uma personalidade forte e não se deixa abalar por nada, trazendo um novo frescor para a dinâmica dos garotos. Ao longo da série, a amizade entre os três se fortalece, e a aliança entre eles se torna cada vez mais sólida.
Da mesma forma, é muito interessante acompanhar a busca de Crystal por suas memórias e, consequentemente, por sua própria identidade.
As personagens femininas de Garotos detetives mortos
Além da dinâmica da dupla principal, algo que foi bem trabalhado é a variedade e a profundidade das personagens femininas. Desde humanas até bruxas e seres não exatamente humanos, essas personagens são interessantes, engraçadas, corajosas e empáticas, mas também podem ser cruéis, maldosas e imperfeitas.
Ao chegarem nos EUA, o grupo aumenta com a adição de Niko (Yuyu Kitamura), uma jovem asiática fã de mangás, que é extremamente gentil e doce. É justamente essa personalidade tão meiga que torna o grupo mais leve e faz com que se tornem mais empáticos. Esse contraste é interessante com Jenny (Briana Cuoco), uma açougueira gótica ranzinza, mas extremamente protetora, que aluga um quarto para eles e os ajuda em momentos muito inesperados.
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Na cidade também reside Esther (Jenn Lyon), uma típica bruxa de história infantil que passa a persegui-los e é obcecada pela juventude e beleza. Além disso, temos a secretária do além-mundo (Ruth Connell), que passa a ir atrás deles para levá-los de volta. Ela é muito rígida e certinha, obcecada por aprovação, mas apresenta momentos cômicos e adiciona mais um toque de estranheza que é característico da série.
Ambientação e dinâmicas em Dead Boys Detectives
Sem dúvida, o que mais gostei na série foi a atmosfera gótica e mórbida, muito típica de histórias de Neil Gaiman, com gatos falantes, bruxas, cobras, cidades assombradas, mortes inexplicáveis e personagens adoravelmente esquisitos.
A trilha sonora, com diversas músicas punk, seres mitológicos, profecias e a neblina típica de histórias envoltas em mistério, traz à mente as obras de Gaiman, assim como outras séries com humor mais dark da Netflix, como O sombrio mundo de Sabrina e Wandinha.
As dinâmicas entre os personagens também tornam Garotos Detetive Mortos muito mais cativante e instigante. Para além dos protagonistas, de Crystal e das meninas, as cenas entre Edwin e Niko são surpreendentemente adoráveis, já que eles possuem personalidades opostas. É Niko quem mais ajuda Edwin em sua jornada de descoberta como homem gay, assim como suaviza Jenny e Crystal, fazendo-as serem mais vulneráveis.
Além disso, com Crystal, Charles consegue ser menos brincalhão e mostrar seus traumas, revelando uma faceta muito diferente dele. Edwin também tem cenas interessantes com o Rei dos Gatos (Lukas Gage) – que é muito semelhante ao personagem Magnus Bane de Shadowhunters – o que o deixa desconfortável e o faz encarar seu desejo por homens.
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Garotos Detetives Mortos é uma série para todos os públicos
Com muito humor, romance e uma atmosfera para lá de gótica, Garotos Detetives Mortos conquista não só pelo enredo, mas também pelos diálogos engraçados e personagens carismáticos, porém bastante imperfeitos.
Um ponto alto é justamente esse, especialmente para uma série juvenil: mostrar como as pessoas não são apenas boas ou más, mas que todos têm atitudes ruins e generosas, e que isso não define exatamente alguém. Sempre há a possibilidade de mudança, especialmente quando se tem apoio e compreensão.
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Embora seja voltada para um público juvenil, a série pode proporcionar diversão para diversos públicos, especialmente aqueles que apreciam a cultura gótica e piadas mórbidas.
Além disso, ela apresenta uma boa dose do universo Sandman – enquanto aguardamos a segunda temporada -, principalmente ao introduzir dois dos Perpétuos: a Morte (Kirby Howell-Baptiste), já mostrada no trailer, e o outro é revelado mais para o final da série, em uma cena reflexiva, digna do universo Sandman.
