Chegou mais um especial de Sandman! E nesta edição vamos falar sobre algumas personagens importantes para esta obra de Neil Gaiman, publicada pelo selo Vertigo, da DC Comics, entre 1989 e 1996. Não é segredo que durante a história de Sonho, um dos sete Perpétuos e o responsável pelo Reino do Sonhar, o autor apresenta muitas personagens femininas de destaque, com personalidade forte. Mas entre elas, algumas tornaram-se recorrentes e essenciais para o desenrolar da história.
AVISO: o texto a seguir contém spoilers das edições de Sandman
Rose Walker em Sandman
A primeira aparição de Rose Walker acontece na edição #10 do arco “Casa de Bonecas”. Ela é filha de Miranda e irmã de Jed, que logo descobrimos estar desaparecido. Nesta mesma edição sabemos que Rose também é neta de Unity Kinkaid, uma das vítimas do sono eterno que acometeu o mundo quando Sonho foi sequestrado. E a razão para entrarmos no universo de Rose e sua complicada família é, também, revelada sem cerimônias: ela é um vórtice de sonho, um mortal que por um momento se torna o centro do Sonhar e une todos os sonhos em um só. Ao final deste processo, o vórtice implode e destrói sonhos e sonhadores.
E é por isso que Sonho precisa detê-la! Mas, antes de cumprir a sua missão, somos levadas a acompanhar a jornada de Rose em busca de seu irmão e a de Sonho em busca dos pesadelos que fugiram em sua ausência. E logo percebemos que todos os fatos estão interligados (e muito bem costurados por Neil Gaiman). Segredos sobre o Sonhar, sobre a vida de Sonho e de outros Perpétuos são revelados. As artimanhas de Desejo também despontam e logo começamos a nutrir ódio por este ser sem um pingo de escrúpulos… Mas ao mesmo tempo nos vemos encantadas com a delicadeza de Gaiman para destrinchar o pior da humanidade.
Hippolyta Hall
O destino de Hippolyta e Rose também está ligado desde o princípio em Sandman. A primeira aparição de Lyta Hall é na edição #12, no arco “Casa de Bonecas”. Ela é uma super-heroína casada com Hector Hall, também super-herói e pai do filho que está esperando. Responsáveis por levar os melhores sonhos às crianças e combater os pesadelos que as afligem, Lyta desconhece que a aparente normalidade de sua vida não passa de puro sonho! Afinal, o mundo em que viveu nos últimos anos foi criado por Brute e Glob, dois pesadelos que fugiram do Sonhar.
Eles aprisionaram a alma de seu marido, já morto quando a história começa, e habitam a mente de Jed, o irmão desaparecido de Rose Walker. A criança costuma visitar o universo de Lyta quando as coisas no mundo real ficam difíceis, e os acontecimentos seguintes levam ao envolvimento de Sonho, que salva o dia mais uma vez. No entanto, Lyta Hall não consegue ver nada além do assassino de seu marido, e desde então passa a odiá-lo.
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Um detalhe fundamental para a história é que não é comum que crianças sejam geradas no Sonhar, e isso desperta a atenção de Sonho para este bebê, a quem chama de Daniel. Ele está predestinado a ser o próximo responsável pelo Sonhar, e na edição #22 o Perpétuo deixa claro que o pequeno lhe pertence. Na edição #57 do arco “Entes Queridos”, Daniel é raptado e na sequência descobrimos que Rose era a sua babá na ocasião, em mais uma ligação entre as personagens. Com a certeza de que quem raptou Daniel foi Sonho, e em um processo que mistura desespero, ódio e insanidade, Lyta Hall inicia a sua busca por vingança.
Barbie e Wanda em Sandman
Barbie aparece pela primeira vez na edição #11 do arco “Casa de Bonecas”. Ela mora na pensão onde Rose Walker fica hospedada, enquanto procura por pistas de seu irmão desaparecido, ao lado do casal Hazel e Foxglove. Se essa primeira aparição foi breve demais para a grandiosidade de Barbie, a partir da edição #32 ela ganha um arco inteirinho para protagonizar.
Em “Um Jogo de Você”, descobrimos que Barbie costumava ter sonhos sobre ser uma princesa, muito amada e protegida por um séquito de companheiros antropomórficos, enquanto tentava recuperar seu reino das mãos do terrível Cuco. Devido à destruição do vórtice de sonhos de Rose, ela perde a habilidade de sonhar, mas não demora a ver o mundo real sendo tomado por suas aventuras oníricas. Assim é novamente levada para a terra de seus sonhos, com a ajuda de Hazel e Foxglove, de sua melhor amiga Wanda e da misteriosa Thessaly, com quem salva o mundo da ameaça provocada por Cuco.
Apesar do nome, que poderia remeter a simples beleza física, Barbie merece destaque por ser uma ótima heroína, refletindo bondade, coragem, inteligência e compaixão. Além disso, ela faz parte de um dos melhores e mais diversos núcleos de Sandman: Hazel e Foxglove são um casal de lésbicas que passam pela angústia de uma gravidez não planejada; e Wanda é uma personagem trans, doce e bem humorada, muito orgulhosa de quem é e que nos ensina sobre respeito ao próximo e amor incondicional.
Thessaly
Thessaly é uma personagem icônica, para dizer o mínimo. A bruxa de tempos imemoriais nutre um amor mal resolvido por Sonho, e é de uma frieza sem igual, daquele tipo que não tem medo de matar para sobreviver. Ela aparece pela primeira vez na edição #32, a primeira do arco “Um Jogo de Você”, e é a responsável por dar um fim ao Cuco, a entidade maligna que vivia nos sonhos de Barbie.
Na edição #63 do arco “Entes Queridos”, Thessaly aparece mais uma vez, agora à procura de Hippolyta Hall. Ela assume a missão de proteger seu corpo físico, enquanto a alma e a mente de Lyta partem em busca das Três Senhoras, também conhecidas por Erínias, as deusas da vingança. Em sua última aparição, na edição #71 do arco “Despertar”, Thessaly está no funeral de Sonho e lembra-se de seu envolvimento amoroso com o Perpétuo que guardava o Sonhar.
Estas personagens encantam por sua força e personalidade marcante, mas significam ainda mais. Elas refletem a capacidade de Neil Gaiman de tecer histórias complexas, com personagens muito bem construídas, que vão e voltam na narrativa. A cada página somos surpreendidas por detalhes ocultos nas entrelinhas e, mesmo com todas essas camadas, elas não deixam que o norte de suas histórias pessoais se percam. E é claro, não podemos deixar de falar sobre a diversidade de personagens e o cuidado do autor para falar de cada uma delas, respeitando a sua individualidade em um nível que as tornam tão palpáveis que até parecem pessoas reais.
Edição e revisão por Isabelle Simões.