Shadowhunters: excelente representatividade LGBT

Shadowhunters: excelente representatividade LGBT

Quando o assunto é representatividade na cultura pop, na maioria das vezes, fica-se a desejar. Diversas séries e filmes – principalmente do gênero ação – ainda oferecem e reproduzem o mesmo padrão de casal heteronormativo, onde a mulher é apresentada como uma donzela indefesa a ser salva pelo herói, o homem. Esse padrão de retratar somente casais heterossexuais contribui para a noção de normalidade associada com a heterossexualiadade, colocando como se o único modo de se relacionar “corretamente” seja com pessoas do sexo oposto. Isto é, preocupar-se em mostrar apenas relações heterossexuais apaga diretamente toda a parcela de pessoas LGBT’s e seus respectivos relacionamentos.

Tão cruel quanto invisibilizar relacionamentos homoafetivos, é retratá-los de maneira superficial ou ambígua, a velha isca LGBT, o queerbaiting. Que é basicamente um marketing midiático para atrair a população LGBT, mas sem comprometer a audiência do público alvo, que é o público heterossexual. É aquele personagem masculino que lança muitos olhares para outro homem, que todo mundo entra no hype de que eles tem algo, mas nada fica muito confirmado. Queerbaiting é uma estratégia para alcançar uma maior audiência, mas sem oferecer nenhum retorno para pessoas LGBT’s.

Shadowhunters

Nesse lugar de não representação, vale a pena falarmos sobre filmes, séries e livros que conseguem apresentar personagens LGBT’s sem estereótipos ou finais trágicos, e é nesse ponto que a série Shadowhunters acerta em cheio. Shadowhunters é uma série transmitida pela Freeform (representante da ABC no Canadá) e baseada na série literária The Mortal Instruments da escritora Cassandra Clare.

A série apresenta um universo de fantasia distópico, onde o mundo é povoado por mundanos (humanos), submundanos (vampiros, lobisomens, feiticeiros), demônios e os Caçadores de Sombras (que caçam demônios).

Todo esse arcabouço de seres místicos integram o Mundo das Sombras, que é a parte sobrenatural existente no mundo. Os caçadores de Sombras são responsáveis pelo controle do Mundo das Sombras, protegendo os seres humanos e não permitindo que estes descubram a existência do Mundo das Sombras.

Shadowhunters

[Contém spoilers de Shadowhunters]

Em Shadowhunters conhecemos um dos Caçadores de Sombras, Alec Lightwood, interpretado pelo ator Matthew Daddario. Desde do começo da série podemos perceber que Alec é reservado quanto à sua vida pessoal e o típico “rapaz certinho” que faz de tudo para agradar e honrar sua família. Alec já demonstrava sinais de homoafetividade por outro personagem, mas é quando ele conhece Magnus, interpretado pelo ator Harry Shum Jr, que sua sexualidade começa a ser mais questionada.

Ao longo da primeira temporada acompanhamos os diálogos entre Magnus e Alec, onde Magnus o leva a instigar se seguir as regras cegamente é melhor do que seguir seu coração. É no final da temporada que acaba-se a especulação sobre a sexualidade de Alec, e ele finalmente, assume sua orientação sexual. Já na segunda temporada, a relação de Malec é ainda mais trabalhada, mostrando que é possível sim ter um relacionamento LGBT feliz e saudável.

(Vale dizer que os atores Matthew Daddario e Harry Shum Jr ganharam o prêmio na cerimônia do GLAAD Media Awards 2017 na categoria de melhor série dramática com representação de personagens LGBT’s. O GLAAD Media Awards se dedica a premiar boas representações LGBT’s na mídia.)

Shadowhunters

Shadowhunters é uma série da atualidade que possui em grande parte de sua audiência o público jovem. Oferecer representações de mulheres fortes (como Clary e Isabelle), personagens negros que não são coadjuvantes (como Luke) e apresentar casais homoafetivos (Malec), é uma forma de reconhecer a existência e importância de gênero, raça/etnia e sexualidade.

A série pode ser “só” uma dentre centenas de séries, mas é uma das poucas que consegue refletir tanta diversidade de um modo natural, tal como as coisas são. Tanto nos diálogos entre personagens como na filmografia, observamos o cuidado que se tem para construir uma narrativa crítica, que mesmo dentro de um mundo de fantasia, conseguimos encontrar comparações com a realidade e situações cotidianas.

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Partimos da premissa de que ao nos enxergamos em algum ícone da cultura pop, sabemos de que nossa existência não nos é negada, ela é reconhecida. Para isso, é importante os veículos midiáticos consigam retratar as pessoas nas suas diversas singularidades. Seja seu gênero, sua raça, sua etnia ou sua orientação sexual.

O cinema, assim como novelas e jornais, pode servir tanto de instrumento para continuar reproduzindo padrões LGBTfóbicos e não aceitação, quanto servir de instrumento para o combate à homofobia. Para combater a discriminação sexual, é necessário antes de tudo, mostrar que pessoas LGBT existem.

Ao retratar a existência de um grupo socialmente e historicamente descriminado, criam-se mecanismos para lutar contra o preconceito. Filmes, séries, músicas, livros e a arte no geral, servem como potência para agitar a realidade e transformá-la. Shadowhunters é um dos exemplos de representação LGBT onde ocorre de fato uma representação.

Shadowhunters

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Feminista e estudante de serviço social. Ama Star Wars e é viciada em gatos. Adora conversar sobre gênero e brinca de ser gamer nas horas vagas. Nunca superou o fim de The Smiths.
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