Em 2023, apenas 16% dos 250 filmes mais lucrativos de Hollywood foram dirigidos por mulheres. Em termos de bastidores, apenas 4% desses filmes tiveram 10 ou mais mulheres envolvidas em direção, fotografia, roteiro, produção, produção executiva e edição. No caso masculino, o número sobe para 75% das produções com 10 ou mais homens nessas cadeiras.
Os dados são do Celluloid Ceiling, ou “Teto de Celulóide”, um relatório anual sobre o tema publicado pela San Diego State University há 26 anos. Hollywood é a maior produtora de cinema globalmente, considerando tanto receita quando influência cultural, e seus números de inequidade de gênero são uma bandeira vermelha: apesar dos avanços, ainda temos um longo caminho pela frente!
A falta de mulheres nos bastidores tem um impacto visível na produção cultural. Como audiência, perdemos acesso ao ponto de vista feminino, à construção de personagens femininas feita por mulheres e aos temas que abordam as diversas experiências femininas. Homens podem criar personagens e temas interessantes para a audiência feminina, mas objetivamente perdemos diversidade e novos olhares nessas construções.
Essa carência do público por perspectivas femininas é um dos responsáveis pelo sucesso de Barbie ou de expoentes artísticos como female rage, a fúria feminina. Tanto a audiência quanto as artistas têm demandado mais espaço para criar e para consumir. O escoamento dessas obras, porém, nem sempre vai acontecer pela grande indústria: filmes independentes e fora do eixo dos Estados Unidos têm trazidos nomes fortíssimos para a mesa de diretoras.
Buscando nomes em início de carreira com filmes de longa-metragem, separamos 4 diretoras promissoras para acompanhar!
1- Celine Song
A diretora de Vidas Passadas foi indicada ao Oscar desse ano pelo roteiro do seu filme de estreia, que também concorreu na categoria de Melhor Filme.
A sul-coreana-canadense vive nos Estados Unidos e tem bastante experiência em dramaturgia, com a peça Endlings estreando em 2019, e uma reencenação de The Seagull (A Gaivota), de Tchekhov, via Twitch usando The Sims 4. A peça experimental era interativa, desenvolvida em um workshop em período pandêmico.
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Song tem um olhar que questiona o que é familiar e estrangeiro, puxando fortemente da suas raízes sul-coreanas e tocando no tema de transição e imigração.
Em Vidas Passadas, vemos diversos paralelos entre a vida da diretora e a protagonista Nora (Greta Lee), debatendo identidade e destino. O filme recebeu quatro prêmios: Gotham Independent Film Awards para melhor filme, New York Film Critics Circle para melhor primeiro filme, e o Directors Guild of America Award e o Independent Spirit pela direção de Celine Song.
2 – Emma Seligman
Aos vinte e oito anos, Seligman dirigiu e roteirizou dois filmes, Shiva Baby e Bottoms, ou Clube da Luta para Meninas. A canadense sempre foi apaixonada por cinema, escrevendo um blog sobre filmes na adolescência e mais tarde contribuindo com críticas para o Huffington Post. Radicada em Nova York, dirigiu dois curtas antes de partir para a estreia de seu primeiro longa metragem.
Sua obra mistura coming of age, constrangimento e humor, levando experiências femininas ao limite com o absurdo. Sua linguagem é jovem, com personagens que fogem do estereótipos ao retratarem uma humanidade bagunçada e muito cômica.
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Shiva Baby, lançado em 2018 e baseado em um de seus curtas, é uma comédia estrelada por Rachel Sennott, uma joia do gênero anxiety core, com a história gradualmente aumentando a tensão e o humor ao longo do filme.
Bottoms, seu trabalho mais recente, cria o conceito de um clube da luta feminino quando duas adolescentes lésbicas desesperadas para ter suas primeiras experiências sexuais (Rachel Sennott e Ayo Edebiri) se propõem a ensinar defesa pessoal para as colegas. Sem compromisso com a realidade, o filme já nasceu um cult da geração Z.
3 – Léa Mysius
A diretora francesa já roteirizou 17 obras e dirigiu ou co-dirigiu curtas desde 2013. Aos trinta e cinco anos, tem dois longas-metragens em que foi responsável tanto pela direção quanto pelo roteiro: Ava e Os Cinco Diabos.
Em Ava, acompanhamos uma jovem de treze anos (Noée Abita) que está em processo de perder a visão. Um coming of age diferente do habitual, testemunhamos seu último verão com os olhos ainda habituados à luz, numa tentativa dela e de sua mãe (Laure Calamy) de tornar o momento inesquecível. A doença degenerativa, somada à panela de pressão que é a adolescência, rendeu o prêmio SACD (Sociedade de Autores) na Semana da Crítica do Festival de Cannes.
Os Cinco Diabos tomam um rumo diferente, acompanhando as esquisitas habilidades de Vicky (Sally Dramé), uma criança solitária que vive com seus pais, Joanne (Adèle Exarchopoulos) e Jimmy (Moustapha Mbengue). Com um olfato sobrenatural, seu dom a leva através do tempo quando Julia (Swala Emati), sua tia paterna, começa a frequentar a casa.
Abordando temas como sexualidade e racismo, o thriller sobrenatural nos leva pela complicada história dessa família. Em uma cidade pequena, todas as histórias estão interligadas por um grande evento, que Vicky descobre aos poucos.
4 – Martine Syms
Martyne Syms nasceu nos EUA e se define como uma “empreendedora conceitual”, com um vasto trabalho multimeios que inclui instalações, performances, livros e vídeos. Focada em identidade e na representação do eu, sua linguagem toca muito no feminismo e na cultura negra.
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Embora não coloque o cinema como seu principal foco, The African Desperate foi seu filme lançado pela MUBI em 2022, com o roteiro que subsequentemente se tornou um livro.
Uma viagem psicodélica que acompanha Palace Bryant (Diamond Stingily), uma jovem negra em seu último dia no mestrado em uma universidade de Nova York. A cena se passa em um ambiente altamente branco e liberal, e o filme se inicia com a avaliação do trabalho final de Palace.