Lark ilustra e cria quadrinhos online desde 2018. O trabalho da curitibana inclui três livros em quadrinhos e o recente lançamento de uma editora, além de forte presença nas redes sociais com suas tirinhas.
Os personagens variam, mas o fio condutor de muitas de suas histórias é um retrato do cotidiano com uma pitada de humor, metáforas e um tanto de surrealismo. Seu traço estilizado constrói tirinhas que, além de engraçadas, são muito fáceis de se identificar, mesmo quando não há nenhum ser humano nos painéis.
Contando a história de uma jovem adulta que só quer aprender a lidar com a vida e ser feliz, Lark nos apresenta seus fantasmas, Leon, Ulisses e Victor.
Se introduzindo como personagem na sua própria tirinha, a autora conversa com esses seres que representam traços que todos podemos reconhecer em nós mesmos. Mais do que isso, eles carregam suas próprias dicotomias: a criatividade pode ser distraída, a ansiedade pode ser uma propulsora ou uma paralisia. O trio de personagens rendeu dois livros, “Como Lidar com Seus Fantasmas” e “Como Abraçar um Fantasma“.
“O Livro dos Pássaros“, seu trabalho mais recente, teve mais de 6000 exemplares vendidos. A história de Roberto, um passarinho que decide que quer mais do que só voar por aí e começa a trabalhar para uma startup, chacoalhou tanto o Twitter quanto o Instagram. Acompanhamos a vida dos funcionários na Catch.Co – onde o chefe é um gato, e temos desde o passarinho workaholic até o corvo do design.
Pouco depois do sucesso d’O Livro dos Pássaros, Lark lançou também a editora Corvo Mateus – batizada em homenagem a um dos personagens mais carismáticos da HQ. Entre um olhar autobiográfico, sátiras sobre o mundo corporativo e animais antropomorfizados, Lark só tem a contribuir com o cenário de quadrinho brasileiro.
DN: Você publica tirinhas online desde 2018. O que te motivou a começar a compartilhar sua arte na internet?
Criei o hábito de publicar as tiras mais como um compromisso comigo mesma. As primeiras foram parte de um desafio chamado Inktober, em que você tem que fazer uma ilustração por dia e postar. Eu resolvi fazer com minhas tiras e ilustrações relacionadas a elas, e depois acabou virando um hábito.
DN: Quais artistas e não artistas são suas maiores inspirações?
A primeira artista que vi fazendo quadrinhos parecidos com os que eu gostaria de fazer foi a Sarah Andersen. Mas antes disso eu já consumia muito e me espelhava nos trabalhos do Fernango Gonsales, Quino, Jean Galvão e Mauricio de Souza.
Hoje em dia eu gosto particularmente das HQs do Guilherme Match, Yoshi Itice, Paulo Moreira, Li Cheng, Gemma Correl, Tom Gauld e Will Henry.
DN: Como você sente que as redes sociais impactam seu trabalho – desde o processo criativo até a distribuição?
Acredito que a relação de todo artista com as redes sociais é de amor e ódio. Há alguns anos, o resultado de uma presença ativa nessas plataformas era muito recompensador, mas hoje em dia, isso decaiu consideravelmente. Seguir as regras da rede e acompanhar as mudanças do algoritmo são uma dor de cabeça e uma armadilha para a criatividade.
Minha relação com as redes hoje é bastante neutra. Posto no meu próprio ritmo e com meus próprios critérios, e não me chateio se não vejo um aumento no engajamento ou no crescimento. Tenho um público bastante fiel, o que ajuda bastante e consegue superar esses impedimentos do algoritmo. Continuo usando as redes apenas para atingir essas pessoas.
DN: Independente da temática, seus quadrinhos parecem sempre envolver um pouco de fantasia ou surrealismo. O que te agrada em trabalhar com esse tipo de abordagem?
Eu sempre procuro evitar mensagens muito óbvias. Acho que há uma beleza sutil nas metáforas e nas representações lúdicas da vida. Sinto que, quando as pessoas conseguem fazer essa interpretação e entender a mensagem que quero transmitir (ou mesmo alguma outra mensagem que não havia pensado, mas que fez sentido para elas), isso gera uma satisfação maior. A arte se torna mais impactante e memorável.
DN: Nas suas tirinhas dos fantasmas (dos livros Como lidar com seus fantasmas e Como abraçar um fantasma), você dá nome e corpo para sensações e partes da sua cabeça, e a partir disso consegue conversar com elas francamente. Como foi o processo de criar e nomear esses fantasmas?
Eu me lembro perfeitamente do dia em que a ideia dos fantasmas nasceu na minha cabeça. Primeiro, foi só o conceito e a aparência aproximada de cada um deles, e eu só executei sem pensar muito sobre.
Com o passar dos anos, eu fui entendendo melhor cada um e atribuir características que eu percebia em mim mesma para cada um deles. O processo de nomear foi mais “sinestésico”, eu acho. Não tem muita explicação, só sentimento. Eu sinto que Leon soa distinto e erudito, Ulisses soa selvagem, e Victor soa etéreo e sonhador.
DN: Em O Livro dos Pássaros, seu trabalho mais recente, vemos uma sátira bem humorada do mundo corporativo. De onde veio a ideia de falar da vida de escritório? Como foi a escolha de seguir com pássaros?
Trabalhei por anos em empresas que seguiam bem esse modelo e discursinho corporativo. Com certeza, grande parte das inspirações vieram daí. Inclusive, eu coloquei algumas referências tão diretas a situações reais do meu dia a dia que, se algum ex-patrão meu ler a história, não vai restar dúvida que estou escrevendo sobre eles!
DN: Muito obrigada pela participação, Lark! Por fim, onde as pessoas podem te encontrar e acompanhar o seu trabalho?
Foi um prazer! Eu estou no instagram.com/larkness, no twitter.com/larknessart e no facebook.com/larknessart. As pessoas também podem comprar livros e outros produtos no site corvomateus.com.